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Não dá para ter certeza se o animal sofrerá com certas patologias só porque é uma característica comum à sua genética, mas é essencial ter consciência de que ele está mais vulnerável. Os veterinários afirmam que é indicado conhecer melhor o histórico das raças para que se possa compreender a saúde do cãozinho. Os cães albinos, por exemplo, são identificados pela pelagem branca e o focinho rosado, e, justamente, por terem essas características são mais propensos a desenvolver melanoma, o mais agressivo tipo de câncer de pele.
Um problema que pode acometer cães de pequeno porte, como o yorkshire, o maltês e o poodle, é a chamada dentição dupla. Quando eles começam a trocar os dentes, os de leite não caem e isso pode causar grande incômodo. Além disso, restos de comida têm mais chance de permanecerem na boca do animal, causando tártaro e mau hálito, que, além de ser desagradável para quem convive com o bichinho, pode fazer com que ele se sinta importunado e deixe de comer.
Pug, shih tzu e pequinês são algumas das raças braquicefálicas, ou seja, possuem o focinho mais achatado. Esses cães, por terem narinas pequenas, muitas vezes sofrem de problemas respiratórios, o que atrapalha na hora de correr ou até mesmo provoca estresse devido ao calor. Isso porque as vias respiratórias deles são muito estreitas e a capacidade de respirar e de resfriar o corpo, ao inspirar o ar frio, fica comprometida. Eles podem nascer com o distúrbio ou até mesmo desenvolvê-lo ao longo da vida.
Já os dálmatas, por exemplo, têm tendência a sofrer de cálculo na bexiga. Os cães, em geral, não costumam fabricar ácido úrico, mas os dálmatas produzem essa substância — sintetizada naturalmente pelo organismo e cujo excesso é eliminado pelos rins — em níveis elevados, o que resulta em pedras, muitas vezes removidas cirurgicamente.
Brummel Oliver é veterinário do Hospital Veterinário Oliver e trabalha em parceria com o UniCEUB. Ele explica que as predisposições das raças a terem certas doenças é resultado da seleção do homem na hora de cruzar diferentes tipos de cães. “Por exemplo, ao buscar um cachorro mais alongado como o dachshund, o famoso salsichinha, cruzaram diferentes cães até que chegaram a essa raça, que tem um problema na coluna”. Por essa razão, os salsichas tendem a sofrer de hérnia de disco, o que pode causar até mesmo uma paralisia irreversível.
Julia Carneiro é jornalista e conta que os seus dois cachorros sofrem de doenças próprias de cada raça. Ela descobriu recentemente que o doberman Orfeu está com um problema no fígado. “Ele sempre foi chatinho para comer e sempre foi muito magro, mas foi se alimentando cada vez menos até ficar só o osso”, conta Julia. Ele ainda está sendo diagnosticado, mas já toma cinco remédios e, ao que tudo indica, a predisposição genética do cãozinho tem mesmo afetado o fígado dele.
O mesmo acontece com a cadelinha Blaize, da raça schnauzer. Blaize frequentemente sofre com pedras nos rins e apresenta tendências a obesidade. Ela passou por cirurgias para retirar algumas pedras, precisa comer ração especial e praticar exercícios para que não engordar. Ela pertence a um grupo de animais com propensão a ter sobrepeso. Nesse caso, a dica é mantê-los sempre em movimento e, por isso, melhor que vivam em casa.
Alertar o futuro dono do animal é importante para que ele tenha consciência dos problemas que seu cãozinho pode vir a sofrer e assim prepará-lo tanto psicologicamente quanto financeiramente, pois as despesas podem ser grandes. “Muitas vezes, o cuidador não espera que o cão tenha algumas doenças, mas ele precisa ser alertado e estar preparado para isso, já que certas patologias podem ser tratadas a longo prazo”, acrescenta Brummel.
Conhecer as predisposições do filhote pode poupar o desconforto do animal. Julia conta que se soubesse que seus cães estavam vulneráveis às doenças, ela teria ficado mais atenta e tentaria diagnosticá-las precocemente. “Blaize ficou semanas fazendo xixi com sangue e achávamos que estava no cio. Acho que ela sofreu por mais tempo do que o necessário porque não soubemos diagnosticar. A mesma coisa aconteceu com Orfeu. Achávamos que ele só era chato para comer, trocamos de ração e demoramos para reagir. Se soubéssemos da alta probabilidade da doença, e que a magreza e falta de apetite eram sintomas, poderíamos procurar a veterinária mais rápido”, lamenta.
Para garantir a saúde e bem-estar do animal é importante levá-lo ao veterinário com frequência para que possa fazer os exames de rotina. Dessa forma, as patologias previsíveis podem ser tratadas desde cedo, evitando o sofrimento do bichinho e da família.