As alterações ortopédicas que podem estar relacionadas ao zika vírus foram discutidas durante o XII Congresso Brasileiro de Ortopedia Pediátrica, que está sendo realizado em Belo Horizonte até sábado. Especialistas preocupados com o aumento de casos querem reunir suas experiências para a elaboração de um protocolo que possa orientar a conduta de todos os ortopedistas diante da suspeita de o vírus provocar microcefalia e também malformações ortopédicas.
A ideia do painel, segundo a ortopedista Ana Paula Tedesco, veio da constatação de um número maior de malformações, observada, principalmente, pelos ortopedistas do Nordeste,onde se concentram a maior parte dos casos de zika. "Mas não sabemos se há relação. O propósito da reunião é reunir os casos em um estudo para começarmos a pesquisar se há opu não tal relação", explicou a especialista.
Segundo Fernando Garcia, chefe do Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Hospital Infantil Martagão Gesteira (HIMG), de Salvador, também é importante determinar centros de referência para o atendimento ortopédico de crianças diagnosticadas com a Síndrome Congênita do Vírus Zika, já que há algumas evidências, nada ainda comprovado cientificamente, de que além da microcefalia o vírus provoca uma série de outros danos nos bebês infectados durante a gestação.
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Durante o painel, Fábio Matos e a também ortopedista pediátrica Ana Paula Tedesco chamaram a atenção para a importância do diagnóstico da síndrome, já que isso é determinante paraa definição do tratamento. Segundo Fábio isso ocorre porque outras infecções causadoras de microcefalia, as chamadas Torchs (sigla para toxoplasmose, rubéola, citomegalovirose, herpes e sífilis) também podem desencadear malformações ortopédicas.
“A diferença é que para as Torchs há tratamento e para aquelas causadas por zika não há remédio. A dificuldade que estamos enfrentando é que os pacientes com malformações possivelmente decorrentes do zika não respondem bem ao tratamento convencional. Se o caso não foi causado por zika há mais meios de intervir. Se for zika a abordagem é diferente. E é tudo ainda muito desconhecido”, lamenta. Segundo Ana Paula, o tratamento tem sido instituído com base no que os ortopedistas sabem sobre essas malformações em outras circunstâncias. "Porque não sabemos, e ninguém sabe, se são necessários tratamentos diferenciados ou não para ter bons resultados", explica.
No serviço do HIMG, por exemplo, já são 16 casos de crianças com a Síndrome Congênita do Vírus Zika. A maioria tem pé torno congênito (quando ele se volta para dentro) e pé talo vertical (quando ele se volta para fora). Esses casos estão sendo abordados com métodos convencionais, e com sucesso, embora não se saiba se irão evoluir bem, como ocorre nessas malformações quando causadas por outros motivos. Mas os médicos estão preocupados com a abordagem dos quadris luxados, outra malformação que está ocorrendo nessas crianças e até agora sem sucesso na intervenção.