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Com o corpo invejado por milhões de seguidoras, elas, na verdade, têm difundido um hábito que pode ser perigoso à saúde. Há quem, inclusive, passe a dormir com o acessório. Como esses modeladores são produzidos para fins estéticos, as lesões musculares podem ser frequentes. Existem, sim, equipamentos compressores da cintura projetados para o treino, mas eles são destinados a proteger atletas de alto impacto e aumentar o desempenho físico deles. “A ajuda abdominal pode ser utilizada para levantar peso demais. Halterofilistas olímpicos, por exemplo, usam cinta porque o esforço é intenso”, esclarece o ortopedista Julian Machado, delegado da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia do Distrito Federal (Sbot-DF)
Outro risco de usar os modeladores de forma inadequada é o do surgimento de varizes, veias que dilatam e podem ganhar o aspecto arroxeado. Como o sistema linfático tem seu funcionamento prejudicado, a medida que os acessórios modeladores apertam o corpo, o líquido e o sangue não circulam adequadamente e há o rompimento de vasos condutores. Além da questão estética, as varizes podem causar dores e inchaço, sem falar que pode ser potencializado e levar ao quadro de trombose.
A empresária Jack Moura, de 23 anos, começou a vender cintas há oito meses. Após procurar o produto para consumo próprio, conheceu uma representante local e decidiu entrar no ramo. A clientela surgiu primeiramente com a divulgação em redes sociais e depois pelo boca a boca. “A cinta por si só não faz milagre, temos que ajudar com dieta e exercícios, como abdominal e lombar para fortalecer a musculatura”, recomenda.
Jack usa a cinta várias horas diariamente, baseada em uma técnica conhecida como tight lacing, que, em tradução literal, significa laço apertado. A prática segue o pressuposto de que, com o uso constante do acessório, haveria estimulação do sistema linfático e, consequentemente, a perda de medidas.
Apesar dos vários vídeos e relatos em redes sociais de mulheres que diminuíram medidas com o aperto mecânico da cintura, não existem evidências de que haja redução de gordura ou de líquido acumulado no local. Na verdade, o que geralmente acontece é a deformação dos últimos pares de costelas da caixa torácica, chamadas de costelas flutuantes. Com a compressão constante, elas se voltam para dentro do corpo, pressionando também órgãos internos, como estômago e pulmões. Os problemas resultantes podem ser vários.
O ortopedista Julian Machado explica que, no aspecto do sistema digestivo, é possível que haja prejuízo na atividade estomacal. Como a caixa torácica está comprimida, não são realizados devidamente os chamados movimentos peristálticos, pulsações que fazem com que o alimento saia do esôfago e chegue ao estômago para o processo de digestão. As consequências podem ir desde mal-estar até anemia e desnutrição, já que os nutrientes dos alimentos não são totalmente aproveitados. Uma das recomendações mais comuns dos modeladores era para corrigir a postura. Esse seria, porém, um mito. Até a década de 1980, acreditava-se que era possível melhorar deformidades da coluna com o uso de espartilhos. Essa técnica caiu em desuso, segundo o ortopedista Julian Machado, quando foi compreendido que a postura corporal é resultado de um trabalho muscular.
Os modeladores que puxavam os ombros para trás por meio de alças, por exemplo, poderiam, inclusive, desestimular a musculatura. A longo prazo, isso resulta justamente na má postura. Nesses casos, a fisioterapia pode recuperar a saúde da coluna. “Existem outros métodos que melhoram a postura pelo trabalho muscular, como o pilates e o RPG (reeducação postural global)”, exemplifica o especialista.
Corpo desenhado
Desde o século 14, homens e mulheres usavam faixas para dar forma ao tronco. Como evolução dessas faixas vieram os espartilhos, acessório amplamente usado durante toda a Idade Média. O ortopedista Julian Machado explica que o funcionamento da peça baseia-se na pressão de barbatanas verticais e ajustáveis. “Os espartilhos tinham um cadarço que podia apertar em um lugar e soltar em outro, mas geralmente eram muito apertados”, conta.
Durante a Primeira Guerra Mundial, quando os homens foram para os campos de batalha, as mulheres precisaram ir trabalhar fora para prover o sustento da família. Foi quando o sutiã caiu nas graças do público: era uma opção mais confortável e prática do que o espartilho para dar sustentação aos seios.
Recomendações médicas
As principais indicações para o uso de cintas e de modeladores são cirúrgicas, sejam procedimentos estéticos ou não, e para recuperações de condições clínicas em geral:
- Após queimaduras, é grande o risco de o tecido epitelial não ser realocado adequadamente. Isso pode acarretar a formação de cicatrizes aparentes e hipertróficas, conhecidas como queloides. A queloide ocorre quando há acúmulo de tecido de cicatrização, criando elevações na pele. Por isso, as cintas pós-cirúrgicas são importantes para manter a pele uniforme.
- Durante o período de puerpério, após o parto, pode ocorrer o relaxamento do músculo abdominal. O processo chamado diástase comumente ocorre após cesárias, quando os músculos afastados apresentam dificuldade para retornar à posição de origem, causando dores.