Foi o que ocorreu com Manuella, hoje com 8 anos. A mãe, a administradora Luciana Guimarães de Morais, conta que sempre achou que a filha seria ‘despachada’, pelo fato de ela e o pai serem pessoas bastante extrovertidas. Mas antes dos 2 anos, Manuella já demonstrava sinais da timidez. Se ela aprendia alguma coisa e os pais pedissem a ela que repetisse na frente de um adulto, “ela empacava”, diz Luciana.
Na escola, os traços ficaram mais evidentes. Manuella chorava continuamente nos primeiros dias de aula, o que levou a professora a solicitar a presença dos pais. “Ela é tímida, né?”, questionou a professora à época. À medida que ia crescendo, não gostava de participar de aulas de teatro e nem demonstrava interesse em atividades que demandavam ações como cantar ou falar em público.
Segundo a psicóloga clínica Cynthia Dias Pinto Coelho, a timidez, em grau muito acentuado, pode ser uma fobia social – patologia que traz sofrimento e sérios problemas de comunicação e interação social.
No entanto, a especialista ressalta que, antes de rotular uma criança como tímida, é preciso lembrar que ela está descobrindo o mundo aos poucos e o fato de ela não conversar de forma solta e extrovertida com pessoas estranhas não é sintoma de timidez. “As relações costumam ser mais espontâneas e leves em ambientes familiares e é comum haver certa retração com estranhos.”
ACOLHIMENTO
A psicóloga clínica acrescenta que o elogio ao desempenho da criança nas apresentações e o estímulo à convivência coletiva, a prática de esportes e os trabalhos em grupo são essenciais para que ela se sinta acolhida.
Ela esclarece que é grande a responsabilidade dos pais. “Eles devem ter muito cuidado com o excesso de críticas e com o grau de exigência e perfeccionismo em relação aos seus filhos, pois eles são a primeira referência da criança no que tange à sua segurança à exposição pública. Críticas severas podem gerar um sentimento de rejeição e um medo do desamor e, para não viver esse medo, a criança pode optar, de forma inconsciente, a não se expor novamente, assumindo um comportamento extremamente reservado e calado.
Pela experiência de consultório, Cynthia diz que a indicação para psicoterapia existirá sempre que houver sofrimento para a criança, ou seja, quando ela passar a evitar festas, contatos sociais, brincadeiras coletivas e exposição pública.
Luciana procurou ajuda de uma psicóloga especializada em timidez infantil quando Manuella tinha 4 anos. “Acompanhávamos seus progressos e regressos, já que, vez por outra ela dava uns dois passos para trás. Depois de um ano e meio, teve uma melhora substancial e alta. Já dormia na casa das colegas mais íntimas e conseguia brincar em encontros infantis.” A administradora diz que também contou com a ajuda fundamental da escola, que sempre esteve presente.
“Hoje, Manuella ainda tem dificuldades ao fazer uma prova oral de inglês, decorar um texto, mas já dorme sozinha e já foi a várias montanhas-russas.
Principais sintomas de timidez na infância
Geralmente, fora dos ambientes familiares, a criança:
» Fala pouco
» Tem poucas relações de amizade
» Fica constrangida ou paralisada nas apresentações escolares (dança, leitura, interpretação de texto)
» Não interage facilmente em brincadeiras coletivas
» Prefere atividades individuais, como ouvir música, jogos no celular, leitura na hora do recreio
Sintomas físicos comuns em situações de exposição
» Sudorese
» Boca seca
» Mãos geladas
» Choro
» Dores de barriga (desarranjos intestinais)
» Vômitos
» Medo
» Ansiedade
» Alterações de sono
» Alterações de comportamento