Ser negro te define? Ser mulher te estabelece? Ser gay te elucida? Ser magro te determina? Ser baixa te explica? Ser homem te limita? Ser trans te esclarece? Ser bonita te delimita? O que te faz? A resposta a essa última pergunta – que inclui todas as outras – resulta na campanha #SemMoldura desenvolvida por um grupo de nove alunos do quinto período do curso de publicidade do Centro Universitário UNA, de Belo Horizonte, que será lançada nesta segunda-feira (23/05).
O objetivo é conscientizar a população sobre a importância de ser respeitar lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. A campanha contra a LGBTfobia mostra que a orientação sexual e a identidade de gênero são apenas duas das muitas característica que fazem de cada pessoa um ser humano único. Na verdade, de acordo com o slogan da campanha, “o que transborda é o que te faz”.
“O conceito da campanha nasceu da reflexão sobre os padrões impostos pela sociedade”, explica Sâmara Paz, 24 anos, e uma das autoras do projeto. Segundo ela, a metáfora para esses estereótipos - que incluem a heteronormatividade - é a moldura. “Quando a gente se livra dessa moldura, desses moldes que são impostos culturalmente, a gente evidencia que ninguém é igual a ninguém no mundo e que se fôssemos todos emoldurados, que graça teria? A graça é ser o que se é. Quando a gente transborda, ou seja, quando transpomos a moldura, a gente se revela e mostra que a orientação sexual é só uma característica e não o que define uma pessoa.
Junto com ela, outros oito estudantes, venceram o projeto de concorrência do curso de publicidade da UNA. Durante um semestre, a turma do terceiro período - que foi dividida em vários grupos - tinha como tema a luta contra a LGBTfobia para desenvolver uma campanha. A vencedora seria viabilizada pela universidade. O lançamento, que é aberto ao público, acontece às 19h no auditório do campus Liberdade 2, que fica na Rua da Bahia, 1.723.
Eduardo Marques, 23 anos é homossexual e um dos autores da campanha #SemMoldura. Ele diz que, mesmo sendo parte da população LGBT, percebeu, com a imersão na leitura do conteúdo acadêmico-científico produzido sobre o tema, que tinha comportamentos homofóbicos. “Desconstruir preconceitos é uma tarefa difícil, é algo tão naturalizado pela cultura que às vezes sequer percebemos”, observa. Para ele, é a informação o primeiro passo para ter uma postura de empatia em relação às diferenças e o universitário acredita o Brasil tem avançado na discussão sobre o tema, mas que ainda é preciso lutar para não perder força. “Eu enfrentei preconceito dentro da minha própria casa, fui expulso quando revelei minha orientação sexual. Mas não podia recuar. Tive que reconquistar meu espaço. Hoje, minha família me aceita bem, aceita meu namorado, mas o processo de desconstrução de preconceitos é contínuo.
O Dia Mundial da Luta contra a LGBTfobia, que é celebrado em 17 de maio, mostra que, apesar dos avanços, ainda é preciso se mobilizar para garantir a equidade de direitos dessa população. Relatório divulgado na data pela Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Pessoas Trans e Intersexuais (Ilga) mostra que, em 2006, 92 nações tinham leis que consideravam crime o sexo entre pessoas do mesmo sexo. Em 2016, o número de países que têm esse tipo de lei discriminatória caiu para 75. Além disso, 13 países integrantes da Organização das Nações Unidas prevêem a pena de morte para homossexuais, entre ele o Sudão, a Arábia Saudita e o Iêmen. Em outros 14 países a punição para o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo varia de 15 anos de prisão a prisão perpétua. Além disso, apenas 22 países no mundo têm leis que permitem a união entre pessoas do mesmo sexo, o Brasil incluído.
Nesta quarta-feira (18/05) deputados de dez partidos protocolaram um projeto de decreto na Câmara dos Deputados para impedir transexuais e travestis que trabalham no serviço público federal de usarem o nome social em seus crachás e documentos oficiais. O objetivo é anular os efeitos do decreto nº 8727, aprovado pela presidente afastada Dilma Rousseff, no dia 28 de abril.
Para Sâmara Paz, é muito gratificante saber que a campanha pode vir a mudar a forma de pensar de alguém. “Como mulher bissexual, sinto na pele diariamente os desdobramentos da LGBTfobia.
Personagens conhecidos da cena cultural belo-horizonte estão retratados na campanha, como os artistas Ed Marte e Cristal Lopes. Além das peças gráficas, os interessados podem saber mais sobre a campanha no site https://unasemmoldura.com.br/.