De acordo com Farinha, a capoeira trabalha a coordenação motora, melhora o equilíbrio, a flexibilidade; alonga a musculatura; e também leva à hipertrofia, mas com parâmetros diferentes dos adotados pela musculação. “Como desenvolvimento mental, trabalha a timidez, melhora a depressão. Não tem rico, pobre, branco, negro — é um espaço neutro”, acrescenta.
A capoeira mobiliza praticamente todos os grupos musculares e, em geral, não apresenta restrições. “A gente tem um trabalho com crianças a partir de 2 anos. É uma estimulação precoce, com musicalidade, e se a pessoa tiver 60 ou 70 anos, é a mesma coisa. Qualquer indivíduo, estando em boas condições físicas, pode fazer”, defende o professor.
Para aquecer, é feito um alongamento específico, antes da aula, com movimentos próprios da atividade. Farinha chama a atenção também para os critérios que os interessados precisam levar em conta para começar a prática. Para ele, a qualificação e o histórico do profissional devem prevalecer sob a comodidade de frequentar a “roda perto de casa”.
Para quem quer se aprofundar, a capoeira funciona de acordo com um sistema de graduação e formação contínua. O iniciante é tratado como aluno. Depois de várias etapas de aprendizagem, passa a ser graduado. Posteriormente, torna-se instrutor, que geralmente é alguém que está se preparando ser um professor, e já está apto a ministrar aulas e representar o nome da instituição. Por último, há o mestrando, que é alguém que já tem bagagem, nível técnico e experiência de vida — aspectos levados em consideração para que a comunidade da capoeira enxergue o indivíduo como mestre.
De dança a esporte
Em fevereiro deste ano, o Conselho Nacional do Esporte, órgão consultivo do Ministério do Esporte, determinou que a capoeira, além de outras artes marciais, seja considerada um esporte e não apenas uma dança. Na prática, isso quer dizer que a modalidade se beneficiará de programas do ME, como o Bolsa Atleta, com repasse de verbas para a confederação desses esportes.
Bom para a cabeça
A capoeira aprimora o condicionamento físico e o raciocínio. “Há pesquisas científicas que afirmam que esse cruzar de braços e pernas, característicos da atividade, estimula os dois hemisférios do cérebro ao mesmo tempo.” É o que explica o empresário e mestrando em capoeira Eberson Pereira, 40 anos.
O ganho emocional foi experimentado pela engenheira ambiental e servidora pública Juliana Pereira, 30 anos. “Eu melhorei bastante a minha timidez. Pelo fato de você ter que entrar numa roda e jogar com uma pessoa diferente, então tem me ajudado”, explica.
Exemplo disso é a trajetória de superação e ganho de qualidade de vida do engenheiro agrônomo e indigenista Nelson Júnior, 62 anos. O carioca, também conhecido como “Toda hora”, conta que sempre gostou de capoeira, mas não tinha condição financeira de pagar por uma academia ou uma escola especializada. “Na época, eu fumava um monte. Parei de fumar porque achava que não condizia com a vida de atleta. E nunca mais eu pus um cigarro na boca. A capoeira só me trouxe coisas boas”, defende.
Sobre os apelidos, comuns entre os capoeiristas, “Toda hora” — que começou a jogar aos 42 anos — explica que tem origens históricas.
Para o professor de educação física Dênis Silva, 36 anos, o esporte evitou que ele tivesse alguma aproximação com o mundo das drogas na juventude. Ele relata que morava em Luziânia e a condição financeira da família era precária. Até que um professor notou a presença dele assistindo às rodas e pediu para a avó de Dênis, que era a sua responsável na época, para que ele começasse a praticar como bolsista. “A capoeira entrou na minha vida para ficar, me colocando onde estou hoje. O brasileiro ainda não aprendeu a valorizar nossa arte. É uma identidade brasileira.”.