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“Nós descobrimos que aqueles com TDAH de início tardio apresentam elevados índices de ansiedade, depressão e dependência de maconha e álcool”, informa o texto divulgado pela equipe de cientistas da King’s College, em Londres. A estimativa é de que 4% dos adultos tenham o transtorno, que pode, cogitam os estudiosos, ter características próprias e distintas, uma vez que muitos dos participantes de ambos os estudos não tiveram o problema durante a infância.
O estudo brasileiro acompanhou 5 mil pessoas a partir de 1993. Apenas 12% dos adultos diagnosticados com TDAH pelos cientistas tiverem o transtorno descoberto na infância. Os estudiosos também detectaram que poucas crianças (17%) continuaram a sofrer com a síndrome na vida adulta. Segundo eles, as constatações sugerem “a existência de duas síndromes que têm trajetórias de desenvolvimento distintas”. A equipe detectou ainda que os participantes com TDAH tardio apresentam “altos níveis de sintomas, comprometimentos e outros distúrbios de saúde mental”.
No Reino Unido, o trabalho contou com a participação de mais de 2 mil gêmeos, sendo que 166 foram diagnosticados com TDAH quando adultos. Desses, 68% não preencheram os critérios para o transtorno em nenhuma avaliação quando crianças. Durante a infância dos voluntários, o problema foi avaliado por meio de depoimentos coletados de mães e professores. Na etapa em que os eles tinham entre 18 e 19 anos, o diagnóstico se deu por entrevistas com os participantes.
Os cientistas encontraram “um grupo menor com TDAH persistente” desde a infância. Segundo eles, a conclusão indica que, talvez, o transtorno em adultos com início na infância e o que surge tardiamente “tenham causas diferentes, as quais têm implicações para estudos genéticos e o tratamento”. Os britânicos também perceberam que o TDAH adulto aparecia quase com a mesma frequência em homens e mulheres, situação contrária ao problema na infância, muito mais comum em meninos.
Cautela
Em editorial divulgado também na Jama Psychiatry, Stephen Faraone, da SUNY Upstate Medical University, em Nova York, e Joseph Biederman, da Harvard Medical School, em Massachusetts, classificaram as conclusões britânicas e brasileiras como interessantes, mas “prematuras”. Segundo eles, os diagnósticos em jovens adultos derivaram de sintomas autorrelatados, que são “menos confiáveis” do que declarações feitas por pais e professores.
“Os adultos nos estudos do Brasil e do Reino Unido tinham entre 18 e 19 anos. Essa é uma fatia muito pequena da vida adulta para tirar conclusões definitivas”, ponderam. Ainda assim, a dupla norte-americana considera a pesquisa como um “chamado” para a realização de estudos mais aprofundados sobre o tema e não descarta que o atual critério de início do transtorno baseado na idade do paciente esteja incorreto.