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O trabalho se baseia em um experimento feito com ratos de laboratório, que consistia em colocar os bichos em uma caixa com três diferentes objetos em locais específicos. Os roedores podiam explorar o cenário à vontade e, depois, iam dormir. Enquanto um grupo de cobaias podia manter seus hábitos normais de sono, o outro era acordado diversas vezes durante a noite, perdendo cerca de cinco horas de descanso.
No outro dia, os bichos eram recolocados na mesma caixa, mas um dos objetos havia sido deslocado. Os pesquisadores esperavam que os animais com boa memória se interessassem pela novidade, e passassem mais tempo interagindo com o objeto movido. E, de fato, foi exatamente isso que fizeram os ratos que tinham tido uma boa noite de sono. Já os bichos que haviam dormido mal não pareciam notar a mudança e apresentavam um comportamento similar ao da primeira visita àquele ambiente.
Reversão
Os resultados são consistentes com uma série de outros estudos que também encontraram a relação entre o cansaço e problemas cognitivos, mas o aspecto mais interessante desse experimento se revelou na segunda parte do trabalho, quando os cientistas investigaram os efeitos da falta de sono no funcionamento do cérebro dos animais. Mais especificamente, eles analisaram o hipocampo, o centro de memória e aprendizado.
Usando uma substância que acusa a nova produção de proteínas, os pesquisadores constataram que os bichos que dormiram pouco e foram mal no teste de memória também apresentaram níveis mais baixos de um complexo chamado mTORC1. Já as cobaias que dormiram bem não demonstravam essa deficiência, levando à hipótese de a falta dessa molécula afeta o caminho de reações necessárias para a formação de lembranças.
Essa foi a primeira vez que uma pesquisa demonstrou os efeitos da privação do sono na síntese de proteínas no hipocampo de animais vivos. “Embora a relação entre a falta de sono e problemas de memória tenha sido anteriormente constatada, nosso estudo revela como a privação do sono prejudica a formação de memórias em uma perspectiva celular e molecular”, ressalta Jennifer Tudor, pesquisadora de pós-doutorado na Universidade de Pensilvânia, nos Estados Unidos e principal autora do trabalho.
Para confirmar a influência da proteína na memória dos roedores, os pesquisadores desenvolveram um método para estimular a produção dela no cérebro dos animais. Um vírus criado em laboratório especialmente para esse fim foi injetado nos ratos que tiveram o sono interrompido, provocando um aumento na expressão da molécula 4EBP2. Essa estrutura, que é responsável pela produção de proteínas, normalmente é ativada pelo complexo mTORC1. Mas, no caso dos bichos que tiveram o sono interrompido, esse caminho natural havia sido desligado pela falta de descanso.
A estratégia deu certo e restaurou a síntese proteica dos roedores que sofriam com a privação de sono. Como resultado, os animais também passaram a apresentar melhores resultados nos testes de memória, mesmo que continuassem dormindo pouco. Ao estimular a produção dessa molécula de forma artificial, os cientistas encontraram um “atalho” para compensar os efeitos da noite maldormida.
Nova pista
A descoberta pode revolucionar uma área consolidada da ciência. “A privação do sono é uma causa bem conhecida para a diminuição das funções cognitivas, incluindo a interrupção tanto da memória imediata quanto a diminuição da estabilização de memórias de longo prazo”, explica, em um outro artigo publicado na Science Signaling, o especialista David Sweatt, pesquisador do Departamento de Neurobiologia da Universidade do Alabama em Birmingham. “No entanto, os mecanismos moleculares por trás do papel do sono na função da memória estão apenas começando a ser definidos”, ressalta Sweatt, que não participou do trabalho.
Embora os resultados desse experimento não representem necessariamente o processo que ocorre na mente humana, os cientistas acreditam que a descoberta possa indicar o caminho para a produção de novos medicamentos para a memória. “Esse estudo também nos dá uma sugestão sobre como a função do sono leva à síntese de proteínas e ao fortalecimento das memórias”, frisa Ted Abel, professor da Universidade da Pensilvânia e um dos autores do trabalho.
No entanto, o mecanismo encontrado pelos pesquisadores parece ser apenas um pequeno aspecto de um complexo sistema. Outros estudos já haviam revelado, por exemplo, que a falta de sono também tem um impacto na expressão de genes associados com a insulina. O processo estudado nesse estudo também está ligado ao metabolismo celular, portanto ainda resta entender com detalhes o papel da regulação de energia na criação de memórias — e de outras funções reguladas pelo metabolismo, como a fome. Como um próximo passo para essa pesquisa, os cientistas pretendem identificar exatamente como o processo de tradução das proteínas é afetado pela privação do sono.
Influência da dieta
O excesso de peso é uma das causas mais comuns para um sono de má qualidade, especialmente devido à dificuldade que obesos têm para respirar. Muitas dessas pessoas apresentam apneia, um quadro em que a passagem de ar é interrompida por vários segundos, fazendo a pessoa ter leves despertares durante toda a noite. Nesses pacientes, segundo diversos estudos, são comuns problemas como falta de memória, problemas cardíacos e transtornos metabólicos.
Por isso, para esses indivíduos, emagrecer é uma das principais recomendações para melhorar a qualidade do sono. Um estudo recente, contudo, sugere que o tipo de dieta empregada para reduzir os números na balança pode fazer a diferença. Realizada pela Universidade de Purdue, nos Estados Unidos, a pesquisa observou que indivíduos que emagreceram com a ajuda de uma dieta rica em proteínas passaram a dormir melhor do que outros que também emagreceram, mas com um regime com menos proteína no cardápio.
"A maior parte das pesquisas observa os efeitos do sono sobre o peso das pessoas, mas resolvemos inverter a pergunta e perguntar quais são os efeitos de diferentes dietas sobre o sono", afirma, em um comunicado, Wayne Campbell, um dos autores do estudo, publicado na revista especializada American Journal of Clinical Nutrition. "Nós concluímos que consumir uma dieta de baixa caloria com uma quantidade maior de proteína tem um efeito positivo maior sobre o descanso de adultos de meia-idade do que um regime com uma quantidade normal de proteína", completa o cientista.
O trabalho foi desenvolvido em duas fases. Na primeira, 14 pessoas emagreceram com uma dieta à base de proteína, apresentando melhora na qualidade do descanso noturno depois de quatro semanas perdendo peso. Depois, foram recrutados 44 voluntários, que foram divididos em dois grupos: um seguiu uma dieta padrão, e o outro uma com quase o dobro de proteína em comparação ao regime da primeira turma.
As fontes de proteína incluídas na dieta eram variadas, incluindo carne bovina e suína, soja e leite de soja. Após 16 semanas, a perda de peso havia sido muito parecida nos dois grupos, mas os questionários respondidos periodicamente pelos participantes indicaram que as pessoas que comiam mais proteína estavam dormindo melhor.
Para Campbell, os resultados são um indício de que dietas baseadas em maior consumo de proteína apresentam vantagens em relação a outras estratégias de peso. Entretanto, seu estudo não é o único do tipo, e há divergência sobre o tema. Em uma revisão de trabalhos que buscaram identificar se o tipo de dieta seguido faz diferença na qualidade do sono, um grupo de especialistas americanos notou que apenas a metade deles concluiu que o tipo de dieta tem um papel relevante. Os dados dessa revisão foram publicados no mês passado no The Journal of Alternative and Complementary Medicine.
Por isso, para esses indivíduos, emagrecer é uma das principais recomendações para melhorar a qualidade do sono. Um estudo recente, contudo, sugere que o tipo de dieta empregada para reduzir os números na balança pode fazer a diferença. Realizada pela Universidade de Purdue, nos Estados Unidos, a pesquisa observou que indivíduos que emagreceram com a ajuda de uma dieta rica em proteínas passaram a dormir melhor do que outros que também emagreceram, mas com um regime com menos proteína no cardápio.
"A maior parte das pesquisas observa os efeitos do sono sobre o peso das pessoas, mas resolvemos inverter a pergunta e perguntar quais são os efeitos de diferentes dietas sobre o sono", afirma, em um comunicado, Wayne Campbell, um dos autores do estudo, publicado na revista especializada American Journal of Clinical Nutrition. "Nós concluímos que consumir uma dieta de baixa caloria com uma quantidade maior de proteína tem um efeito positivo maior sobre o descanso de adultos de meia-idade do que um regime com uma quantidade normal de proteína", completa o cientista.
O trabalho foi desenvolvido em duas fases. Na primeira, 14 pessoas emagreceram com uma dieta à base de proteína, apresentando melhora na qualidade do descanso noturno depois de quatro semanas perdendo peso. Depois, foram recrutados 44 voluntários, que foram divididos em dois grupos: um seguiu uma dieta padrão, e o outro uma com quase o dobro de proteína em comparação ao regime da primeira turma.
As fontes de proteína incluídas na dieta eram variadas, incluindo carne bovina e suína, soja e leite de soja. Após 16 semanas, a perda de peso havia sido muito parecida nos dois grupos, mas os questionários respondidos periodicamente pelos participantes indicaram que as pessoas que comiam mais proteína estavam dormindo melhor.
Para Campbell, os resultados são um indício de que dietas baseadas em maior consumo de proteína apresentam vantagens em relação a outras estratégias de peso. Entretanto, seu estudo não é o único do tipo, e há divergência sobre o tema. Em uma revisão de trabalhos que buscaram identificar se o tipo de dieta seguido faz diferença na qualidade do sono, um grupo de especialistas americanos notou que apenas a metade deles concluiu que o tipo de dieta tem um papel relevante. Os dados dessa revisão foram publicados no mês passado no The Journal of Alternative and Complementary Medicine.