Há tempos a medicina trabalha com o conceito minimamente invasivo, valendo-se de técnicas endoscópicas e de outros braços robóticos, que auxiliam o cirurgião durante o procedimento. A diferença do Star (abreviação para Smart Tissue Autonomous Robot, ou Robô Autônomo de Tecidos Inteligente, em tradução livre) é que ele executa a intervenção completamente sozinho. O médico pré-programa no software o tamanho da incisão e a distância entre as suturas, por exemplo, e a máquina faz todo o resto. Ainda experimentais, as cirurgias desempenhadas pelo Star e descritas ontem foram realizadas em porcos — todos os animais sobreviveram sem complicações.
Um dos desafios ao se pensar uma cirurgia robótica autônoma, na qual os médicos não encostam a mão no paciente, é que os tecidos moles — coração, intestino, estômago, entre outros — são maleáveis. Contudo, as sofisticadas ferramentas cirúrgicas e de imagem que integram o novo sistema permitem que o médico fique ao lado do robô, ajudando-o a manipular os tecidos e adaptar os movimentos à medida em que eles deformam.
“Imagine que você precisa de uma cirurgia.
Kim destacou que, apesar dessas vantagens, o mais importante é a possibilidade de programar a máquina com as mais avançadas técnicas cirúrgicas disponíveis. “Acho que, quando você junta inteligência e tecnologia, você tem a autonomia. Nossa proposta não era substituir os cirurgiões. Contudo, se você tem uma ferramenta inteligente que trabalha com um cirurgião, isso vai melhorar os resultados. Nós, cirurgiões, normalmente fazemos três coisas: usamos nossa visão, nossas mãos e nossa mente. Se pudermos melhorar todas essas coisas, o resultado de nossa tarefa com certeza fica melhor”, afirmou.
Intestino
Para testar a qualidade e a precisão do Star, os cirurgiões executaram, em porcos, a anastomose intestinal, uma complexa técnica que consiste na sutura entre dois segmentos do tubo digestivo para alterar o trânsito do intestino. “Nós escolhemos a anastomose porque é um procedimento muito difícil e requer guiar uma pequena agulha acoplada na ponta de ferramentas compridas, atingindo precisamente tecidos delicados”, explicou, na entrevista coletiva, Axel Krieger, também pesquisador do Xeique Zayed.
Embora o braço robótico tenha potencial para realizar qualquer tipo de procedimento em todos os tecidos e órgãos humanos, nessa primeira fase, ele foi programado para auxiliar os cirurgiões nesse tipo de operação. Krieger afirmou que ele é capaz de desempenhar sete movimentos autônomos diferentes e possui um sensor que limita, com acurácia, a tensão da sutura, na medida exata necessária para a cicatrização do tecido. De acordo com Ryan Decker, engenheiro do instituto que ajudou a desenvolver o sistema, a anastomose intestinal foi realizada em porcos também pela técnica manual tradicional, pela laparoscopia e pelo Sistema Cirúrgico Da Vinci, de robótica assistida. “O Star foi o que saiu melhor na sutura e na conexão dos segmentos intestinais”, observou.
Peter Kim disse que a expectativa é que o Star auxilie cirurgiões em todos os tipos de procedimentos em tecidos moles.