Quando Alice nasceu, há pouco mais de dois meses, Camila Honesko abriu as portas de um universo paralelo. As preocupações típicas de uma jovem de 19 anos foram substituídas pela vontade de acertar nos cuidados com a filha, especialmente em relação à saúde da pequena. Na semana passada, febre e choro maltrataram sem trégua a recém-nascida, deixando a mãe de primeira viagem preocupada. “Falaram que podem ser os primeiros dentinhos despontando. Mas e se for uma coisa grave, como meningite?”, indagou.
O temor não é exclusividade de Camila: de 14 doenças preveníveis com vacinação, a meningite é apontada como uma preocupação por 64% dos pais brasileiros, aponta uma pesquisa encomendada pela empresa farmacêutica GSK. Além disso, a enfermidade aparece em primeiro lugar na lista de maior ameaça aos filhos, seguida por hepatite B, doença pneumocócica, poliomielite, tétano e coqueluche.
Apesar da preocupação, ainda falta informação. Dos participantes do levantamento, 70% não conhecem as cinco principais
estirpes da bactéria Neisseria meningitidis, ou meningococo, e 52% não sabem ou não têm certeza de que existem diferentes micro-organismos que causam a doença.
Os tipos A, B, C, Y e W do meningococo são responsáveis pela maioria dos casos da infecção aguda na meninge, película que reveste o cérebro e a medula espinhal. Felizmente, podem ser prevenidos com vacinação e tratados com antibióticos. Eles também respondem pela forma mais grave, a meningococemia, como é chamada a infecção generalizada que leva à falência de órgãos vitais e à morte. Ambas as formas têm rápida evolução e podem levar à morte entre 24 e 48 horas desde os sintomas iniciais. Três em cada 10 pacientes não resistem.
Além da N. meningitidis, a doença pode ser causada por bactérias pneumococos e hemófilos, outras espécies comuns. Werciley Júnior, infectologista chefe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, acrescenta que ainda provocam a enfermidade vírus, fungos, protozoários e até vermes, sendo esses mais raros. “Mas, sem dúvida, a bacteriana seguida da viral são as formas mais comuns. As meningites fúngicas são mais frequentes em imunodeprimidos, como pacientes transplantados ou soropositivos. As causadas por protozoários, por exemplo o da toxoplasmose, afetam também pessoas com HIV”, diz Júnior, que é membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Manifestação
Com relação aos sintomas, os pais brasileiros se mostram mais bem informados, no entanto, 18%, quase um em cada cinco, não sabem descrevê-los. “Inicialmente, a pessoa apresenta um quadro parecido com o gripal, seguido de febre alta, dor de cabeça, vômitos e rigidez nos músculos do pescoço. Nesse caso, é preciso buscar a emergência imediatamente, porque essa doença, se tratada rapidamente, tem um bom prognóstico”, esclarece a infectologista Ana Rosa dos Santos, gerente médica do Sabinvacinas.
Em bebês, contudo, o reconhecimento da doença é mais difícil, e apresenta algumas diferenças. “É difícil saber, porque eles não podem falar o que sentem”, diz Camila, a mãe da pequena Alice. “Realmente, neles, a meningite se apresenta de forma diferente: os bebês ficam sonolentos, se recusam a comer, choram, têm febre. Além disso, a chamada moleira fica tensa, dura”, explica Santos.
Mesmo sendo enfermeira, Katiane Godois da Silva, mãe de Sofia, 4 anos, passou muito tempo com dúvidas sobre a meningite. “Eu só fui compreender a doença quando fui trabalhar com vacinas. Era uma necessidade, pois a maioria das pessoas chega com a recomendação médica para a vacina, mas não sabe exatamente para que ela serve. Por conhecer os danos e sequelas que essas doenças deixam, acredito que a vacinação é a melhor saída. Sigo o calendário vacinal rigorosamente com a minha filha”, diz Katiane.
Proteção
Gerente médico para vacinas da GSK, Felipe Lorenzato considera a disseminação da informação essencial para erradicar o mal. “Em relação a países como Alemanha e Portugal (países onde levantamentos semelhantes foram feitos), os brasileiros têm uma percepção menor da doença. Apesar disso, a conscientização e a prevenção são muito boa, porque as vacinas para a meningite são contempladas pelo Programa Nacional de Imunizações, do Ministério da Saúde (leia Para saber mais)”, observa Lorenzato, que é especialista em patologia molecular e Saúde da Mulher e da Criança pela University College London, na Inglaterra.
Coautor do levantamento, o médico nota que muitos brasileiros pensam que a doença está restrita ao passado. “Uma boa parte dos entrevistados disse que as prioridades eram dengue e gripe, talvez porque sejam mais abordadas pela imprensa. Mas a meningite é uma doença endêmica, ou seja, está sempre presente. Também é preciso se prevenir contra a enfermidade, por meio de higiene, lavando as mãos e tampando a boca ao espirrar.”
Além de crianças, adolescentes são os mais expostos à doença: Lorenzato estima que de 10% a 18% deles tenham meningococo no epitélio do nariz, garganta e boca sem apresentar a doença. O risco é que, embora sejam assintomáticos, são transmissores da doença. “Hoje, a vacinação é voltada para crianças, mas adolescentes também deveriam ser imunizados”, afirma Lorenzato.
Isabella Balallai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), considera importante a discussão sobre imunização de indivíduos mais velhos, como adolescentes, que só vão ao médico quando estão doentes. “Será que os pais sabem que uma única dose não protege pelo resto da vida? Após cinco anos, ela perde a eficácia e, por isso, informar-se sobre vacinação deve ser uma rotina para responsáveis de crianças e adolescentes, públicos vulneráveis porque ainda não tiveram tempo de desenvolver uma imunidade completa contra esse mal”, diz.
Oferta no SUS
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece a vacina pentavalente, a BCG, a meningocócica conjugada C e a pneumocócica conjugada 10-valente. Elas devem ser tomadas a partir dos 2 meses de vida, conforme o cartão de vacinas. A dose contra o meningococo tipo B chegou à rede particular de saúde recentemente. “O tipo mais comum no Brasil é o C, mas estamos praticamente imunes a ele. Isso significa que o tipo B pode proliferar. Estamos observando isso na Região Sul e, por isso, o Ministério da Saúde já começou a se mobilizar com a autorização desse novo imunizador”, explica a infectologista Ana Rosa dos Santos, gerente médica do Sabinvacinas. Segundo a Secretaria de Saúde do Distrito Federal, no primeiro semestre de 2015, foram registrados na capital 45 casos de meningite. Cinco deles confirmados como doença meningocócica; sete, como pneumocócica; um provocado por hemófilo; nove por outras bactérias; e 25 não especificados.
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Apesar da preocupação, ainda falta informação. Dos participantes do levantamento, 70% não conhecem as cinco principais
estirpes da bactéria Neisseria meningitidis, ou meningococo, e 52% não sabem ou não têm certeza de que existem diferentes micro-organismos que causam a doença.
Os tipos A, B, C, Y e W do meningococo são responsáveis pela maioria dos casos da infecção aguda na meninge, película que reveste o cérebro e a medula espinhal. Felizmente, podem ser prevenidos com vacinação e tratados com antibióticos. Eles também respondem pela forma mais grave, a meningococemia, como é chamada a infecção generalizada que leva à falência de órgãos vitais e à morte. Ambas as formas têm rápida evolução e podem levar à morte entre 24 e 48 horas desde os sintomas iniciais. Três em cada 10 pacientes não resistem.
Além da N. meningitidis, a doença pode ser causada por bactérias pneumococos e hemófilos, outras espécies comuns. Werciley Júnior, infectologista chefe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, acrescenta que ainda provocam a enfermidade vírus, fungos, protozoários e até vermes, sendo esses mais raros. “Mas, sem dúvida, a bacteriana seguida da viral são as formas mais comuns. As meningites fúngicas são mais frequentes em imunodeprimidos, como pacientes transplantados ou soropositivos. As causadas por protozoários, por exemplo o da toxoplasmose, afetam também pessoas com HIV”, diz Júnior, que é membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Manifestação
Com relação aos sintomas, os pais brasileiros se mostram mais bem informados, no entanto, 18%, quase um em cada cinco, não sabem descrevê-los. “Inicialmente, a pessoa apresenta um quadro parecido com o gripal, seguido de febre alta, dor de cabeça, vômitos e rigidez nos músculos do pescoço. Nesse caso, é preciso buscar a emergência imediatamente, porque essa doença, se tratada rapidamente, tem um bom prognóstico”, esclarece a infectologista Ana Rosa dos Santos, gerente médica do Sabinvacinas.
Em bebês, contudo, o reconhecimento da doença é mais difícil, e apresenta algumas diferenças. “É difícil saber, porque eles não podem falar o que sentem”, diz Camila, a mãe da pequena Alice. “Realmente, neles, a meningite se apresenta de forma diferente: os bebês ficam sonolentos, se recusam a comer, choram, têm febre. Além disso, a chamada moleira fica tensa, dura”, explica Santos.
Mesmo sendo enfermeira, Katiane Godois da Silva, mãe de Sofia, 4 anos, passou muito tempo com dúvidas sobre a meningite. “Eu só fui compreender a doença quando fui trabalhar com vacinas. Era uma necessidade, pois a maioria das pessoas chega com a recomendação médica para a vacina, mas não sabe exatamente para que ela serve. Por conhecer os danos e sequelas que essas doenças deixam, acredito que a vacinação é a melhor saída. Sigo o calendário vacinal rigorosamente com a minha filha”, diz Katiane.
Proteção
Gerente médico para vacinas da GSK, Felipe Lorenzato considera a disseminação da informação essencial para erradicar o mal. “Em relação a países como Alemanha e Portugal (países onde levantamentos semelhantes foram feitos), os brasileiros têm uma percepção menor da doença. Apesar disso, a conscientização e a prevenção são muito boa, porque as vacinas para a meningite são contempladas pelo Programa Nacional de Imunizações, do Ministério da Saúde (leia Para saber mais)”, observa Lorenzato, que é especialista em patologia molecular e Saúde da Mulher e da Criança pela University College London, na Inglaterra.
Coautor do levantamento, o médico nota que muitos brasileiros pensam que a doença está restrita ao passado. “Uma boa parte dos entrevistados disse que as prioridades eram dengue e gripe, talvez porque sejam mais abordadas pela imprensa. Mas a meningite é uma doença endêmica, ou seja, está sempre presente. Também é preciso se prevenir contra a enfermidade, por meio de higiene, lavando as mãos e tampando a boca ao espirrar.”
Além de crianças, adolescentes são os mais expostos à doença: Lorenzato estima que de 10% a 18% deles tenham meningococo no epitélio do nariz, garganta e boca sem apresentar a doença. O risco é que, embora sejam assintomáticos, são transmissores da doença. “Hoje, a vacinação é voltada para crianças, mas adolescentes também deveriam ser imunizados”, afirma Lorenzato.
Isabella Balallai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), considera importante a discussão sobre imunização de indivíduos mais velhos, como adolescentes, que só vão ao médico quando estão doentes. “Será que os pais sabem que uma única dose não protege pelo resto da vida? Após cinco anos, ela perde a eficácia e, por isso, informar-se sobre vacinação deve ser uma rotina para responsáveis de crianças e adolescentes, públicos vulneráveis porque ainda não tiveram tempo de desenvolver uma imunidade completa contra esse mal”, diz.
Oferta no SUS
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece a vacina pentavalente, a BCG, a meningocócica conjugada C e a pneumocócica conjugada 10-valente. Elas devem ser tomadas a partir dos 2 meses de vida, conforme o cartão de vacinas. A dose contra o meningococo tipo B chegou à rede particular de saúde recentemente. “O tipo mais comum no Brasil é o C, mas estamos praticamente imunes a ele. Isso significa que o tipo B pode proliferar. Estamos observando isso na Região Sul e, por isso, o Ministério da Saúde já começou a se mobilizar com a autorização desse novo imunizador”, explica a infectologista Ana Rosa dos Santos, gerente médica do Sabinvacinas. Segundo a Secretaria de Saúde do Distrito Federal, no primeiro semestre de 2015, foram registrados na capital 45 casos de meningite. Cinco deles confirmados como doença meningocócica; sete, como pneumocócica; um provocado por hemófilo; nove por outras bactérias; e 25 não especificados.