A internação é um desses momentos mais críticos. Isso porque ela aciona um “sistema de alarme”, um sinal de que “algo não vai bem”. “Aciona a imprevisibilidade, uma situação inesperada. Consequentemente, as reações de susto, medo, ansiedade e choque são esperadas e naturais. Isso muda a rotina do sujeito e mobiliza uma adaptação a essa nova realidade”, explica Maria Emídia de Melo Coelho, especialista em Psicologia Hospitalar e Luto e coordenadora e professora no curso de Tanatologia e cuidados paliativos da Sociedade de Tanatologia e Cuidado Paliativo de Minas Gerais (Sotamig).
A princípio, hospitais deveriam ser ambiente de acolhimento e intervenções médicas, onde se recebe cuidado especial e, dependendo da situação, a pessoa é atendida por profissionais de diversas especialidades.
Mas há casos e casos. Os motivos de uma internação são diversos e provocam reações diferentes. Aquelas que ocorrem para fazer um simples procedimento suscitam menos ansiedade, até mesmo pelo fato de, na maioria das vezes, serem breves. No caso de internação para a recuperação de cirurgias, a ansiedade será proporcional à sua complexidade. As que ocorrem numa emergência costumam gerar mais impacto, pela situação inesperada ou violenta. Os atendimentos são pontuais e, por isso mesmo, demandam mais atenção e quase sempre, no primeiro momento, são feitos nos corredores do hospital. Segundo Maria Emídia, é necessário acolhimento específico nessa situação.
UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA
Mas quando há o encaminhamento para UTI, as fantasias e superstições se intensificam.
Alguns estudos já constataram que, para a humanização do cuidado em UTIs, é imprescindível que todos os profissionais de saúde do setor utilizem da tecnologia disponível, aliando a empatia, com a compreensão do cuidado fundamentado no relacionamento interpessoal terapêutico, visando à promoção do cuidado seguro, responsável e ético a indivíduos críticos.
Os pesquisadores defendem a importância do investimento nas práticas de humanização com inserção de conteúdos relacionados à temática nas grades curriculares dos cursos. Isso permitirá a formação de profissionais não apenas do ponto de vista técnico, mas com condutas e posturas diferenciadas, norteadas pela ética e pela humanização, independentemente do local onde o profissional esteja inserido
Um dos principais objetivos do cuidado humanizado em UTIs relaciona-se à necessidade de manutenção da dignidade do ser humano e o respeito por seus direitos em todas as fases da vida, já que se trata de uma situação muito particular, de total dependência a familiares e profissionais de saúde.
Mas são as internações advindas de doenças crônicas, graves ou incuráveis as mais difíceis e que demandam maior atenção. “É necessário cuidado integral, que atenda a pessoa na sua totalidade de maneira singular e respeitando as suas condições pessoais. Esse atendimento deve ser extensivo aos familiares. No caso de morte iminente deve ser feita a preparação para o óbito com rituais de despedida. Essa é a vivência que chamamos de luto antecipatório, que prepara o doente e seus familiares para o processo da morte, atendendo às necessidades e facilitando a aceitação e elaboração do luto. Nessa fase, o apoio psicológico é imprescindível. Ele fortalece as possibilidades de enfrentamento e adaptação do indivíduo”, explica a especialista.
As reações, claro, vão variar de acordo com a estrutura de cada personalidade e como o paciente se apropria ou não de sua doença.