Estudo encontra proteína que provoca obesidade e diabetes durante menopausa

Cientistas dos EUA identificam proteína que provoca a obesidade e o diabetes em mulheres que não menstruam mais. A descoberta abre a possibilidade de tratamentos além da reposição hormonal

por Vilhena Soares 26/04/2016 15:00
Valdo Virgo / CB / D.A Press
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A obesidade e o diabetes tipo 2 são problemas de saúde recorrentes em mulheres que passam pela menopausa. Sabe-se que a falta do estrogênio produzido pelo corpo é um dos desencadeantes dessas enfermidades, mas maneiras de combater esse problema ainda são limitadas. Em busca de mais possibilidades de tratamento, pesquisadores dos Estados Unidos resolveram investigar como esse hormônio fica escasso no organismo. Em um estudo com ratos, encontraram um mecanismo que, ao ser silenciado, provocou alterações ligadas às duas doenças, abrindo a possibilidade de surgimento de novas terapias. Detalhes do trabalho foram divulgados na edição desta semana da revista Science Translational Medicine.

Com base em estudos de outras equipes, os cientistas liderados por Vicent Ribas, da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, sabiam que alterações no receptor de estrogênio — um grupo de proteínas ativadas pelo hormônio presente em todo o corpo — poderiam causar problemas metabólicos no organismo. “Caso seja prejudicado, esse receptor promove a obesidade e a disfunção metabólica em humanos e em camundongos. No entanto, outros mecanismos envolvidos nesses efeitos permanecem desconhecidos”, explicaram, no artigo divulgado.

A escolha foi estudar mais a fundo os receptores de estrogênio presentes no músculo esquelético, que também tem grande importância na produção de energia para o organismo humano. “Considerando que esse músculo é um tecido responsável pela eliminação de glicose e pelo metabolismo oxidativo, um dos mecanismos responsáveis pela energia celular produzida pelo corpo, buscamos reduzir a expressão (dos receptores de estrogênio)”, justificaram.

No experimento, fêmeas de rato foram modificadas para não ter receptores de estrogênio em todo o corpo, mas principalmente no músculo esquelético. Os investigadores passaram a notar nas cobaias obesidade, resistência à insulina, inflamações e estresse oxidativo, além de danificações em músculos e mitocôndrias disfuncionais, alterações que podem gerar doenças metabólicas. “Estabelecemos, no estudo, o raciocínio clínico usado como ponto de partida, mostrando que a expressão reduzida dos receptores no músculo esquelético mostrou características clínicas de uma síndrome metabólica”, destacaram os autores.

Os investigadores acreditam que as observações vistas nos roedores podem estar ligadas a problemas recorrentes durante a menopausa, como o diabetes tipo 2 e a obesidade, já que estudos feitos pela mesma equipe mostraram que mulheres na pós-menopausa também mostraram redução de receptores de estrogênio no músculo esquelético. “Essa pesquisa fornece evidências relevantes de que a variação de estrogênio pode trazer desequilíbrios e, o mais importante, ela mostrou que a expressão diminuída (dos receptores) apresenta as mesmas alterações clínicas em mulheres que apresentavam essa alteração”, destacaram.

Cláudio Vendruscolo, coordenador de ginecologia do Hospital Prontonorte, em Brasília, também ressalta que o estudo norte-americano traz informações que correspondem com o comportamento de mulheres durante o climatério. “Na menopausa, começa a diminuição do estrogênio circulante no corpo e isso provoca alterações mitocondriais e modificações na produção de energia, as mesmas mudanças vistas nas cobaias dessa pesquisa. Elas fazem com que o metabolismo feminino sofra uma baixa, o que pode desencadear o diabetes e a obesidade, que são os problemas mais frequentes nesse período, junto com a hipertensão, o infarto do miocárdio e o acidente vascular cerebral (AVC)”, detalha.

Foco no músculo
Os pesquisadores acreditam que, com as descobertas, há a possibilidade de criação de terapias focadas no aumento da atividade do receptor de estrogênio no músculo esquelético. “Nossos resultados têm claras implicações para a compreensão da disfunção metabólica em mulheres, e isso pode ser um suporte para que apareçam estratégias terapêuticas para a melhoria do metabolismo”, destacaram.

Vendruscolo avalia como bem-vinda a ampliação de abordagens médicas para o climatério, pois uma das poucas opções existentes é a reposição hormonal, não indicada para todas as mulheres. “Algumas não podem receber como tratamento o estrogênio porque possuem grandes chances de desencadear o câncer no útero ou na mama, e, com a reposição, o risco pode aumentar”, explica.

O ginecologista também destaca que estão surgindo mais pesquisas em busca da redução dos efeitos colaterais, mas os resultados são muito iniciais. “Hoje em dia, um dos focos das pesquisas está nos hormônios bioidênticos (Leia Para saber mais), que não possuem tantos efeitos colaterais, mas provocam uma divisão entre os médicos. Alguns aceitam o seu uso e outros não. Além disso, eles têm valor muito alto, sedo usados, em sua maioria, por pessoas com alta renda.”

Mais prescrita
Consiste no uso de doses baixas do estrogênio, receitado com o objetivo de diminuir sintomas indesejáveis da menopausa. Pode ser feita por via oral ou com adesivos, gel e cremes, alternativas que agridem menos o corpo, pois não atingem o fígado da paciente. A progesterona também é prescrita, sendo uma alternativa indicada principalmente a mulheres que não foram histerectomizadas (não perderam o útero). Isso ocorre porque, ao tornar mais espessa a camada do endométrio, a progesterona evita tumores nessa membrana que protege o útero.


Substituto polêmico
Obtidos por meio da engenharia genética, os hormônios bioidênticos têm a estrutura molecular igual à dos hormônios humanos. Dessa forma, conseguem substituí-los. São produzidos em grande parte por farmácias de manipulação, com base em produtos naturais e sintéticos. Uma das maiores vantagens atribuídas a esses compostos é a capacidade de as doses serem prescritas de forma individual, estabelecidas por meio de um teste de saliva.

Apesar dos benefícios prometidos, há especialistas que não os recomendam. A Sociedade de Endocrinologia dos Estados Unidos, por exemplo, adverte que a total semelhança desses produtos com os hormônios humanos não é alcançada, já que a dosagem necessária de estrogênio necessário ao sangue pode sofrer alterações fisiológicas. Outros problemas levantados são a falta de fiscalização dos órgãos que produzem essas substâncias e a ausência de comprovações médicas dos benefícios deles.