A asma é uma doença que atinge cerca de 300 milhões de pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde, mas as causas dessa enfermidade ainda não foram completamente desvendadas. Mesmo sem saber como ela surge, cientistas buscam formas de evitá-la. E a prevenção, defende uma equipe de estudiosos dos Estados Unidos, pode começar antes mesmo do nascimento de um indivíduo, ainda na barriga da mãe. De acordo com um estudo divulgado na revista American Journal of Health Economics, mulheres que se expõem mais ao sol durante o segundo trimestre da gestação reduzem as chances de seus filhos desenvolverem o problema respiratório em até 23%. A razão para o benefício estaria no aumento da produção da vitamina D provocado pelo contato com os raios solares.
A equipe levou em conta um estudo feito por um grupo de médicos do Brigham and Women Hospital, em Boston. Esse trabalho mostrou que níveis da ingestão de vitamina D no segundo semestre de gravidez poderiam influenciar a probabilidade de um feto desenvolver asma. Com base nesses achados, os cientistas utilizaram dados econômicos e médicos para analisar mais a fundo a constatação.
No primeiro experimento, observaram informações pessoais de 260 mil americanos, como estado, mês e o ano de nascimento, além do histórico médico. Os cientistas contabilizaram a quantidade de sol que as mães dessas pessoas receberam durante a gravidez, de acordo com dados climáticos do local em que viviam e da época da gestação. “Nós olhamos para as diferenças relativas do nível de luz solar em um determinado lugar em um determinado momento do ano”, explicou ao Correio David Slusky, um dos autores do estudo e professor do Departamento de Economia da Universidade de Kansas.
Como resultado, observaram números mais baixos de casos de asma no grupo de filhos de mulheres mais expostas ao sol durante o segundo trimestre da gravidez. De acordo com os cálculos dos pesquisadores, a probabilidade de um diagnóstico da doença nessa parcela de pessoas caiu 10%. Na segunda análise, os cientistas analisaram dados de 2,1 milhões de nascimento (cerca de 3 mil para cada estado dos EUA), e os resultados mostraram que a maior exposição ao sol reduziu as ocorrências de asma em 21,3%.
Para os cientistas, as gestantes podem diminuir a probabilidade de asma em seus filhos com uma quantidade pequena de exposição aos raios solares: cerca de 10 minutos diários. “O câncer de pele é uma doença muito grave, e eu não quero minimizá-la; mas esse período de tempo que você deixa de estar no sol pode custar mais vitamina D, e ele não está ajudando você a ter câncer de pele,” defende Slusky.
Marta de Fátima Rodrigues da Cunha Guidacci, coordenadora de Alergia e Imunologia da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, explica por que a exposição ao sol durante o segundo trimestre de gravidez tem taxas altas de proteção. “Na semana 11 da gravidez, muitos genes relacionados com a vitamina D e conhecidos por serem envolvidos no desenvolvimento do pulmão e diferencialmente expressos em asmáticos são subitamente ativados. Portanto, se a mãe apresentar deficiência dessa vitamina, isso pode levar ao desenvolvimento anormal das vias aéreas associada à asma”, diz.
Prejuízo alto
A especialista avalia que os resultados do estudo são interessantes e podem mostrar uma saída simples para um problema de saúde tão recorrente. “A asma é uma doença crônica inflamatória dos pulmões de alta prevalência, morbidade e mortalidade. Uma recomendação simples de exposição solar de 10 minutos diária que possa reduzir a frequência dessa enfermidade é de grande valia, poupando sofrimento pessoal e familiar, perda da qualidade de vida, produtividade, redução de custos diretos e indiretos, idas ao pronto-socorro, internações e óbitos”, detalhou.
Segundo a especialista, o custo resultante — que mede tanto as despesas de tratamento diretos quanto a perda de produtividade indireta — da doença é estimado em cerca de US$ 56 bilhões anuais só nos Estados Unidos. “Portanto, há a necessidade de os gestores de saúde, as autoridades médicas e os pacientes darem mais atenção a essa doença fazendo tratamento ambulatorial contínuo com uso de medicações profiláticas e controle ambiental, não tratando somente as crises de asma nas emergências”, defende.
Subnotificada
A agência das Nações Unidas também estima que a doença respiratória mate mais de 250 mil pessoas por ano no planeta e que os números podem ser ainda maiores, já que a enfermidade costuma ser subnotificada. Segundo a imunologista Marta de Fátima Rodrigues da Cunha Guidacci, no Brasil, a prevalência varia de 10% a 20% da população, dependendo da região e da faixa etária considerada. Com base nesse percentual, pode ser projetada a existência de 430 mil asmáticos no Distrito Federal.
Sol para todos
“Pesquisas como a desses cientistas norte-americanos são o que chamamos de trabalhos feitos por associação. Eles não permitem que cheguemos a uma reação de causa e efeito, não é possível determinar se o sol protegeu e reduziu as chances de asma, mas existem mais pesquisas que apontam dados parecidos. Trabalhos anteriores mostraram os benefícios da vitamina D, como mães que apresentavam níveis mais altos dessa vitamina e menor frequência de filhos que nascem com o peso abaixo do ideal. No pré-natal, ela também está presente nos suplementos receitados às mães. Talvez, a mensagem que esse trabalho nos passa é que uma maior exposição ao sol é importante para todos, pois sabemos dos seus benefícios, mas, infelizmente, a vitamina D não é muito consumida. Ela está presente em poucos alimentos, e o medo quanto aos problemas causados pelo sol pode provocar essa diminuição”
Angélica Amato, endocrinologista e professora do Departamento de Farmácia da Universidade de Brasília (UnB)
A equipe levou em conta um estudo feito por um grupo de médicos do Brigham and Women Hospital, em Boston. Esse trabalho mostrou que níveis da ingestão de vitamina D no segundo semestre de gravidez poderiam influenciar a probabilidade de um feto desenvolver asma. Com base nesses achados, os cientistas utilizaram dados econômicos e médicos para analisar mais a fundo a constatação.
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Como resultado, observaram números mais baixos de casos de asma no grupo de filhos de mulheres mais expostas ao sol durante o segundo trimestre da gravidez. De acordo com os cálculos dos pesquisadores, a probabilidade de um diagnóstico da doença nessa parcela de pessoas caiu 10%. Na segunda análise, os cientistas analisaram dados de 2,1 milhões de nascimento (cerca de 3 mil para cada estado dos EUA), e os resultados mostraram que a maior exposição ao sol reduziu as ocorrências de asma em 21,3%.
Para os cientistas, as gestantes podem diminuir a probabilidade de asma em seus filhos com uma quantidade pequena de exposição aos raios solares: cerca de 10 minutos diários. “O câncer de pele é uma doença muito grave, e eu não quero minimizá-la; mas esse período de tempo que você deixa de estar no sol pode custar mais vitamina D, e ele não está ajudando você a ter câncer de pele,” defende Slusky.
Marta de Fátima Rodrigues da Cunha Guidacci, coordenadora de Alergia e Imunologia da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, explica por que a exposição ao sol durante o segundo trimestre de gravidez tem taxas altas de proteção. “Na semana 11 da gravidez, muitos genes relacionados com a vitamina D e conhecidos por serem envolvidos no desenvolvimento do pulmão e diferencialmente expressos em asmáticos são subitamente ativados. Portanto, se a mãe apresentar deficiência dessa vitamina, isso pode levar ao desenvolvimento anormal das vias aéreas associada à asma”, diz.
Prejuízo alto
A especialista avalia que os resultados do estudo são interessantes e podem mostrar uma saída simples para um problema de saúde tão recorrente. “A asma é uma doença crônica inflamatória dos pulmões de alta prevalência, morbidade e mortalidade. Uma recomendação simples de exposição solar de 10 minutos diária que possa reduzir a frequência dessa enfermidade é de grande valia, poupando sofrimento pessoal e familiar, perda da qualidade de vida, produtividade, redução de custos diretos e indiretos, idas ao pronto-socorro, internações e óbitos”, detalhou.
Segundo a especialista, o custo resultante — que mede tanto as despesas de tratamento diretos quanto a perda de produtividade indireta — da doença é estimado em cerca de US$ 56 bilhões anuais só nos Estados Unidos. “Portanto, há a necessidade de os gestores de saúde, as autoridades médicas e os pacientes darem mais atenção a essa doença fazendo tratamento ambulatorial contínuo com uso de medicações profiláticas e controle ambiental, não tratando somente as crises de asma nas emergências”, defende.
Subnotificada
A agência das Nações Unidas também estima que a doença respiratória mate mais de 250 mil pessoas por ano no planeta e que os números podem ser ainda maiores, já que a enfermidade costuma ser subnotificada. Segundo a imunologista Marta de Fátima Rodrigues da Cunha Guidacci, no Brasil, a prevalência varia de 10% a 20% da população, dependendo da região e da faixa etária considerada. Com base nesse percentual, pode ser projetada a existência de 430 mil asmáticos no Distrito Federal.
Sol para todos
“Pesquisas como a desses cientistas norte-americanos são o que chamamos de trabalhos feitos por associação. Eles não permitem que cheguemos a uma reação de causa e efeito, não é possível determinar se o sol protegeu e reduziu as chances de asma, mas existem mais pesquisas que apontam dados parecidos. Trabalhos anteriores mostraram os benefícios da vitamina D, como mães que apresentavam níveis mais altos dessa vitamina e menor frequência de filhos que nascem com o peso abaixo do ideal. No pré-natal, ela também está presente nos suplementos receitados às mães. Talvez, a mensagem que esse trabalho nos passa é que uma maior exposição ao sol é importante para todos, pois sabemos dos seus benefícios, mas, infelizmente, a vitamina D não é muito consumida. Ela está presente em poucos alimentos, e o medo quanto aos problemas causados pelo sol pode provocar essa diminuição”
Angélica Amato, endocrinologista e professora do Departamento de Farmácia da Universidade de Brasília (UnB)