Uai Saúde

Meditação aplicada à saúde já é uma realidade no Brasil

Estudos mostram que meditar diminui posturas negativas, como indagações em excesso e tensões. Por outro lado, trata depressão, hipertensão, ansiedade e doenças degenerativas cerebrais. Nesta semana, mestre Satyaprem, discípulo de Osho, estará em BH

Valéria Mendes
Apesar de muito se falar dos benefícios da meditação para o doente, a meditação se aplica às pessoas saudáveis com o objetivo de aumentar a capacidade de resiliência, aumentar a inteligência emocional, a capacidade de administração do estresse e melhorar as relações interpessoais - Foto: AFP PHOTO / SONNY TUMBELAKA Se para algumas pessoas a meditação está culturalmente associada à espiritualidade, para a medicina, há mais de 30 anos, a técnica vem sendo estudada e utilizada na promoção da saúde e como abordagem terapêutica para inúmeras doenças.
Isso por que a meditação é um exercício cerebral consciente, comprovado em imagens de ressonância magnética que mostra alterações no cérebro no momento em que é realizada. “Muito se tem estudado sobre a neurofisiologia da meditação. Quando uma pessoa medita, mudanças benéficas ocorrem no cérebro. Além do aumento da área cerebral, do crescimento do número de neurônios, do aumento das redes de comunicações cerebrais, exames de imagens mostram que áreas do cérebro relacionadas à felicidade ficam ativas. Por outro lado, diminui a atividade neurológica de regiões relacionadas às indagações, mal-estar e tensões, o sistema límbico. A meditação aumenta a imunidade e também altera a liberação de hormônios como o cortisol, associado ao estresse. Quando se começa a meditar um dos primeiros benefícios é ficar menos reativo emocionalmente”, afirma o coordenador do Programa de Meditação aplicada à Saúde e Bem-estar da Faculdade de Saúde Pública da USP, Rubens de Aguiar Maciel.

Para além do estresse, evidências científicas mostram que a meditação é benéfica como abordagem terapêutica para vários transtornos psicossomáticos como a ansiedade, a depressão e problemas respiratórios e gástricos de fundo emocional.
A técnica também tem se mostrado eficaz no tratamento de dor crônica, hiperatividade e Alzheimer. A aliança entre medicina convencional e a meditação tem se consolidado cada vez mais. Em uma pesquisa rápida pelo tema no ‘Google Acadêmico’ é possível notar o interesse da ciência pela relação meditação e saúde: são mais de 200 mil trabalhos com achados dos mais variados.

Rubens de Aguiar Maciel desenvolve atualmente uma pesquisa de pós-doutorado na Faculdade de Medicina da USP que mostra que a meditação controla a hipertensão arterial. Segundo ele, a pesquisa tem acompanhado pacientes hipertensos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. O estudo contempla doze testes e um deles consiste em medir a eficácia de um programa de oito semanas em que parte dos pacientes aprende a meditar e a outra parte, o grupo controle, não. “No grupo que fez a meditação os resultados são muito mais positivos no controle da pressão arterial. De fato, a pressão arterial diminui, mas é importante dizer que para isso, é preciso manter a prática da meditação. É um trabalho do dia a dia e para o resto da vida”, salienta.

Discípulo de Osho, mestre Satyaprem estará em BH de 14 a 17 de abril - Foto: DivulgaçãoDoutora em epidemiologia pela Freie Universitaet Berlin e treinadora-líder do Kundalini Research Institute dos Estados Unidos, a médica Gurusangat Kaur Khalsa afirma que a meditação está presente em protocolos clínicos de várias áreas médicas. “Hoje ela é chave no tratamento de doenças degenerativas cerebrais. No Brasil, já temos universidades e hospitais de referência que já incorporam a prática da meditação em alguns de seus protocolos como a Faculdade de Medicina da USP e o Hospital Albert Einstein. Na Europa, meditar e fazer yoga são vistos como base fundamental da saúde.
Nos Estados Unidos, por exemplo, as técnicas são utilizadas no tratamento de doenças mentais e para prevenção e tratamento do Alzheimer”, afirma.

Escola
Uma tendência que já tem sido observada no Brasil é a prática de meditação no contexto escolar. A técnica ajudar a melhorar a concentração dos estudantes, reduz o estresse e a ansiedade e favorece habilidades sociais. Psicopedagoga, psicanalista e especialista em educação, Cristina Silveira afirma que a neuroplasticidade é um tema muito estudado atualmente e que pesquisadores da neurociência já verificaram que as estruturas cerebrais podem ser modificadas pela prática da meditação, como o córtex pré-frontal, responsável pelas funções executivas. “As funções executivas são aquelas que modulam o raciocínio, a lógica, as estratégias e a tomada de decisões, além de manter ações permanentes de controle mental. Esse conjunto de funções tem um papel central na organização e no planejamento de todas as nossas ações, pois auxiliam na manutenção de iniciativa, no estabelecimento de objetivos e em como monitorar as tarefas por meio do autocontrole, sempre repensando as estratégias de acordo com o plano original”, diz.

A prática da meditação em escolas ajuda a melhorar a concentração dos estudantes, reduz o estresse e a ansiedade e favorece habilidades sociais - Foto: Carlos Moura/CB/D.A Press

Na área pedagógica, segundo ela, as funções executivas estão diretamente relacionadas ao processo de aprendizagem e problemas no funcionamento executivo estão associados, por exemplo, a quadros clínicos como o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), o transtorno obsessivo compulsivo (TOC). “A meditação não substitui as abordagens terapêuticas tradicionais para transtornos como os já citados, mas as pesquisas mostram que os quadros podem ter melhoras significativas se o tratamento estiver associado à técnica”, pondera.

Rubens de Aguiar Maciel aponta ainda que, no caso das crianças, além do desempenho escolar, a meditação é benéfica em vários outros aspectos: as brigas diminuem e a relação entre os estudantes melhora.

Desenvolvimento da atenção
Apesar de muito se falar dos benefícios da meditação para o doente, Rubens de Aguiar Maciel afirma que a meditação se aplica às pessoas saudáveis com o objetivo de aumentar a capacidade de resiliência, aumentar a inteligência emocional, a capacidade de administração do estresse e melhorar as relações interpessoais. “A meditação trabalha essencialmente com as emoções positivas e, independentemente da técnica, o foco é o desenvolvimento da atenção”, diz.

O coordenador do Programa de Meditação aplicada à Saúde e Bem-estar da Faculdade de Saúde Pública da USP explica que o modo de funcionamento padrão do cérebro de qualquer pessoa é o de deixar a mente vagar, que é o 'ficar sonhando acordado' (como quando se está lendo um livro, mas o pensamento está em algum acontecimento do passado ou do futuro).
Inúmeras situações do dia a dia nos ajudam a entender como é fraco o foco de atenção dessa “mente selvagem” - expressão usada em contraposição à mente treinada pela meditação. “Qualquer que seja a técnica de meditação, a primeira coisa que se faz é o trabalho com foco na atenção em algum objeto, seja um mantra, a chama de uma vela, a respiração ou uma figura religiosa”, explica.

- Foto: EM / D.A PressSem julgar
Maciel define a meditação como a capacidade de estar presente no momento sem julgamento. “Quando a pessoa começa a focar sua atenção em um objeto, o fluxo de pensamentos com o qual ela se identificava e ia atrás começa a ficar inútil e estressante porque tira o indivíduo do contexto da realidade. A meditação te trás para o presente”, esclarece.

Segundo ele, qualquer pessoa, de qualquer idade, é capaz de meditar, mas algumas não têm o desejo e a técnica não vai ressoar para ela; outras têm uma dificuldade interna e logo desistem por falta de persistência. “Estar consigo próprio em silêncio, no começo é difícil, mas com o tempo fica fácil e se torna prazeroso”, salienta.

O pesquisador reafirma que a prática da meditação desenvolve a saúde e o sentimento de bem-estar de qualquer pessoa. “Não precisa ser doente ou estar estressado para ter benefícios. Pessoas saudáveis ganham em desenvolvimento emocional, cognitivo e conativo (desejo). Ou seja, se uma pessoa precisa fazer dieta e pratica meditação, ela será capaz de manter seus objetivos com mais força de vontade e clareza”, pondera.

Como são muitas as linhas de meditação disseminadas no Brasil, a dica da doutora em epidemiologia, Gurusangat Kaur Khalsa, é procurar por aquelas que têm lastro. “Não recomendo cair nas mãos de alguém que “inventou” seu próprio método. Meditar é algo sagrado e também concreto. A meditação tem por objetivo trabalhar o sistema nervoso, o imunológico e o glandular. Não se brinca com o corpo humano e o charlatanismo vigora principalmente nessa área, onde pessoas sem o necessário preparo se aventuram em conduzir outras no processo da meditação”, alerta.

Satyaprem em BH
Para quem está em Belo Horizonte e tem curiosidade em saber mais sobre meditação, o mestre Satyaprem, nome que significa encontro com a verdade, estará na cidade entre 14 e 17 de abril. O brasileiro foi discípulo de Osho por 29 anos na Índia e para ele, “a meditação é o momento em que nada (ausência de coisas, pensamentos e julgamentos) está acontecendo”.

De 14 a 17 de abril

Casa Manga
Rua Adolfo Radice, 318, Bairro Mangabeiras

14 de abril, a partir das 20h30, aberto ao público, R$ 60
15, 16 e 17 de abril, satsang fechado, R$ 700

Informações: (31) 9 9983-
8576(31) 9 9985-5723
manimaniprem@gmail.com.