Para além do estresse, evidências científicas mostram que a meditação é benéfica como abordagem terapêutica para vários transtornos psicossomáticos como a ansiedade, a depressão e problemas respiratórios e gástricos de fundo emocional.
Rubens de Aguiar Maciel desenvolve atualmente uma pesquisa de pós-doutorado na Faculdade de Medicina da USP que mostra que a meditação controla a hipertensão arterial. Segundo ele, a pesquisa tem acompanhado pacientes hipertensos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. O estudo contempla doze testes e um deles consiste em medir a eficácia de um programa de oito semanas em que parte dos pacientes aprende a meditar e a outra parte, o grupo controle, não. “No grupo que fez a meditação os resultados são muito mais positivos no controle da pressão arterial. De fato, a pressão arterial diminui, mas é importante dizer que para isso, é preciso manter a prática da meditação. É um trabalho do dia a dia e para o resto da vida”, salienta.
Escola
Uma tendência que já tem sido observada no Brasil é a prática de meditação no contexto escolar. A técnica ajudar a melhorar a concentração dos estudantes, reduz o estresse e a ansiedade e favorece habilidades sociais. Psicopedagoga, psicanalista e especialista em educação, Cristina Silveira afirma que a neuroplasticidade é um tema muito estudado atualmente e que pesquisadores da neurociência já verificaram que as estruturas cerebrais podem ser modificadas pela prática da meditação, como o córtex pré-frontal, responsável pelas funções executivas. “As funções executivas são aquelas que modulam o raciocínio, a lógica, as estratégias e a tomada de decisões, além de manter ações permanentes de controle mental. Esse conjunto de funções tem um papel central na organização e no planejamento de todas as nossas ações, pois auxiliam na manutenção de iniciativa, no estabelecimento de objetivos e em como monitorar as tarefas por meio do autocontrole, sempre repensando as estratégias de acordo com o plano original”, diz.
Na área pedagógica, segundo ela, as funções executivas estão diretamente relacionadas ao processo de aprendizagem e problemas no funcionamento executivo estão associados, por exemplo, a quadros clínicos como o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), o transtorno obsessivo compulsivo (TOC). “A meditação não substitui as abordagens terapêuticas tradicionais para transtornos como os já citados, mas as pesquisas mostram que os quadros podem ter melhoras significativas se o tratamento estiver associado à técnica”, pondera.
Rubens de Aguiar Maciel aponta ainda que, no caso das crianças, além do desempenho escolar, a meditação é benéfica em vários outros aspectos: as brigas diminuem e a relação entre os estudantes melhora.
Desenvolvimento da atenção
Apesar de muito se falar dos benefícios da meditação para o doente, Rubens de Aguiar Maciel afirma que a meditação se aplica às pessoas saudáveis com o objetivo de aumentar a capacidade de resiliência, aumentar a inteligência emocional, a capacidade de administração do estresse e melhorar as relações interpessoais. “A meditação trabalha essencialmente com as emoções positivas e, independentemente da técnica, o foco é o desenvolvimento da atenção”, diz.
O coordenador do Programa de Meditação aplicada à Saúde e Bem-estar da Faculdade de Saúde Pública da USP explica que o modo de funcionamento padrão do cérebro de qualquer pessoa é o de deixar a mente vagar, que é o 'ficar sonhando acordado' (como quando se está lendo um livro, mas o pensamento está em algum acontecimento do passado ou do futuro).
Maciel define a meditação como a capacidade de estar presente no momento sem julgamento. “Quando a pessoa começa a focar sua atenção em um objeto, o fluxo de pensamentos com o qual ela se identificava e ia atrás começa a ficar inútil e estressante porque tira o indivíduo do contexto da realidade. A meditação te trás para o presente”, esclarece.
Segundo ele, qualquer pessoa, de qualquer idade, é capaz de meditar, mas algumas não têm o desejo e a técnica não vai ressoar para ela; outras têm uma dificuldade interna e logo desistem por falta de persistência. “Estar consigo próprio em silêncio, no começo é difícil, mas com o tempo fica fácil e se torna prazeroso”, salienta.
O pesquisador reafirma que a prática da meditação desenvolve a saúde e o sentimento de bem-estar de qualquer pessoa. “Não precisa ser doente ou estar estressado para ter benefícios. Pessoas saudáveis ganham em desenvolvimento emocional, cognitivo e conativo (desejo). Ou seja, se uma pessoa precisa fazer dieta e pratica meditação, ela será capaz de manter seus objetivos com mais força de vontade e clareza”, pondera.
Como são muitas as linhas de meditação disseminadas no Brasil, a dica da doutora em epidemiologia, Gurusangat Kaur Khalsa, é procurar por aquelas que têm lastro. “Não recomendo cair nas mãos de alguém que “inventou” seu próprio método. Meditar é algo sagrado e também concreto. A meditação tem por objetivo trabalhar o sistema nervoso, o imunológico e o glandular. Não se brinca com o corpo humano e o charlatanismo vigora principalmente nessa área, onde pessoas sem o necessário preparo se aventuram em conduzir outras no processo da meditação”, alerta.
Satyaprem em BH
Para quem está em Belo Horizonte e tem curiosidade em saber mais sobre meditação, o mestre Satyaprem, nome que significa encontro com a verdade, estará na cidade entre 14 e 17 de abril. O brasileiro foi discípulo de Osho por 29 anos na Índia e para ele, “a meditação é o momento em que nada (ausência de coisas, pensamentos e julgamentos) está acontecendo”.
De 14 a 17 de abril
Casa Manga
Rua Adolfo Radice, 318, Bairro Mangabeiras
14 de abril, a partir das 20h30, aberto ao público, R$ 60
15, 16 e 17 de abril, satsang fechado, R$ 700
Informações: (31) 9 9983-
8576(31) 9 9985-5723
manimaniprem@gmail.com.