A imunização é feita em duas doses injetáveis – a primeira, de preferência, nos meses de março ou abril e a segunda seis meses após a primeira. Depois de pesquisas, o MS resolveu diminuir a quantidade de doses. É importante ressaltar que a pessoa só estará protegida contra o HPV após a segunda dose. Meninas e mulheres, na faixa etária dos 9 aos 26 anos, vivendo com HIV ou Aids, também devem ser vacinadas.
O MS informou que foram gastos R$ 1,1 bilhão para a compra de 32 milhões de doses contra o HPV nos últimos três anos. A vacina usada pelo governo brasileiro é a quadrivalente e confere proteção contra os subtipos 6, 11, 16 e 18, principais responsáveis por casos de câncer do colo do útero e verrugas anais e genitais. Os dois tipos mais comuns de tumores malignos uterinos são os carcinomas epidermoides (80%) e os adenocarcinomas (20%).
Existem mais de uma centena de subtipos diferentes de HPV, mas somente alguns são associados ao câncer do colo uterino. Os classificados como de alto risco são os subtipos 16, 18, 45 e 56. De risco intermediário são os subtipos 31, 33, 35, 51 e 52. Já os de baixo risco são os subtipos 6, 11, 41, 42 e 44. “A vacina é segura e recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A dose já é utilizada em mais de 100 países”, afirma a coordenadora-geral do Programa Nacional de Imunização, Carla Domingues. Ela lembra que o vírus é atualmente muito disseminado e transmitido pelo contato direto com a pele ou mucosas infectadas. A estimativa, segundo ela, é que o país registre, este ano, 16 mil novos casos de câncer do colo do útero e cerca de 5,4 mil mortes provocadas pela doença.
Responsável técnica do setor de vacinas do Grupo Hermes Pardini, Marilene Lucinda atesta a eficácia da vacina quadrivalente. “Contra os subtipos de HPV que ela combate, ela tem proteção em torno de 100%. É uma das vacinas mais eficazes que conhecemos.
ASSINTOMÁTICOS
Prêmio Nobel de Medicina em 2008, o virologista alemão Harald zur Hausen é o responsável pela descoberta, na década de 1980, de que o HPV é o agente etiológico do câncer do colo do útero. Ele é um dos principais defensores de que a vacinação seja estendida também para os homens, mais especificamente meninos que ainda não têm vida sexual ativa. A vacinação do sexo masculino, segundo Hausen, é importante, pois eles transmitem os vírus às parceiras. No caso dos cânceres anais, mais frequentes nos homens, assim como os orofaríngeos, quase metade dos casos são associados ao HPV.
Ao menos uma vez na vida, indivíduos sexualmente ativos terão contato com o vírus do papiloma humano, segundo diversas pesquisas realizadas pelo mundo. Como no Brasil a vacinação é focada nas mulheres, surge a questão da razão pela opção, já que, como é um vírus transmitido sexualmente, por que não incluir os homens?
Adotada na Austrália e Canadá, fica cada vez mais evidente que a imunização é eficaz para proteger jovens do sexo masculino do desenvolvimento de verrugas genitais e cânceres peniano, anal e de garganta. “Não só o governo brasileiro, mas alguns outros países também optam por vacinar somente as meninas. É importante a vacinação masculina porque eles são, além de transmissores, portadores assintomáticos. Eles portam o vírus, o transmitem, mas não apresentam a doença na maior parte dos casos. Se fizermos um bloqueio em ambos os sexos, atingiremos o objetivo mais rápido”, aponta Lucinda.
só meninas A médica, porém, não considera que a campanha voltada para garotas, adotada pelo MS, seja equivocada.
Marilene Lucinda orienta a meninas para que tomem as duas doses recomendadas, para garantir a eficiência da imunização da quadrivalente. Uma das principais causas da baixa adesão à campanha são a veiculação de notícias que relatam reações adversas à vacina. “Muitas meninas não tomaram a segunda dose por conta de campanhas negativas contra a vacina nas redes sociais. Muitas notícias sem fundamento científico, falsas, mas que circulam livremente. E isso, infelizmente, atrapalhou muito a campanha no ano passado e continua atrapalhando”, afirma.
Os homens que quiserem se imunizar devem procurar a rede privada, pois o governo não fornece a anti-HPV para o sexo masculino. O recomendado é que sejam aplicadas três doses neles.
Cláudio Antônio Bonjardim
Professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais
Qual a razão de o foco da campanha de vacinação do governo ser somente as meninas?
É uma questão de suscetibilidade. O sexo feminino é muito mais suscetível a infecção por HPV que leve a estados cancerígenos pré-malignos e malignos que o homem. Isso não significa que o homem não possa também desenvolver, quando infectado, alguns tipos de câncer. A ideia é proteger o maior número possível de adolescentes mulheres.
Na Austrália, a vacinação contra o HPV em ambos os sexos apresentou resultado muito efetivo. É mais efetiva a vacinação para homens e mulheres ou não?
É uma questão de estratégia política do governo e qual a extensão de cobertura que ele pretende. Quando você faz uma análise populacional, verifica se há maior incidência em mulheres do que nos homens e se há uma diferença regional. Não saberia dizer a situação pesquisada na Austrália. Aqui, nossa incidência é comprovadamente maior no sexo feminino. Então, é uma questão do que o governo prioriza. Até aqui, a estratégia é de que, como o maior risco é feminino, proteja-se mais as mulheres. A Austrália talvez tenha mais recursos. Mas o ideal, realmente, é que se fizesse isso também para homens. Mas acho que não tem o caráter preventivo como tem para as mulheres.
O objetivo do governo é combater o câncer do colo do útero. Mas o HPV pode também causar problema nos homens, não é?
Sim. Pode, inclusive, levar ao câncer anogenital masculino. Quando isso ocorre no homem, normalmente, é uma questão mais tardia, não é frequente em crianças e adolescentes e passa por outros fatores de risco ou falta de assistência médica. Já vi casos, quando trabalhava em São Paulo, de homens que chegavam ao hospital com o ânus completamente obstruído. Mas isso porque demorou a procurar um médico. Não é que não exista, pode sim existir. Mas é muito menos frequente e ocorre em situações de ausência de assistência clínica. Acho que não há necessidade de criar a situação de dizer que pode levar a câncer anal ou mesmo peniano, porque é uma situação que ocorre somente com extremo descuido. Mesmo em casos precoces, eles são tratáveis. Então, se comparado o risco entre a infecção intrauterina feminina e a de glande masculina, eu privilegiaria a campanha de vacinação para as mulheres. É uma questão de prioridade. .