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Com imagens bastante precisas e um método de marcadores fluorescentes, o PET/CT forneceu detalhes da atividade cerebral, da medula óssea e das artérias dos participantes. Eles foram divididos em dois grupos, de acordo com o nível de ativação da amígdala — quanto maior, mais alto o nível de estresse.
Essa região, que não tem nenhuma relação com a amígdala da garganta, é uma das mais primitivas do cérebro e está associada às respostas ao estresse e ao medo. Diante de uma situação perigosa, entra em ação, desencadeando um complexo processo fisiológico que inclui a liberação de hormônios e outras substâncias — é por isso que uma pessoa com medo ou raiva tem reações como sudorese, tremor e alteração nos batimentos cardíacos.
Amígdala ativa
Ao longo de cinco anos, os pesquisadores do Hospital Geral de Massachusetts, em Boston, acompanharam os participantes por meio de avaliações cardiovasculares. No fim desse período, descobriram que aqueles que integravam o grupo em que a amígdala era mais ativa apresentaram um risco 14 vezes maior de sofrer problemas cardíacos para cada unidade de aumento da atividade do estresse no cérebro.
Além disso, enquanto entre essas pessoas o percentual de eventos cardiovasculares foi de 35% em cinco anos; no outro, a taxa caiu para 5%. “Esses resultados nos intrigaram. Acredito que eles iluminam, pela primeira vez, a relação entre a ativação de tecidos neurais (aqueles associados ao medo e ao estresse) e os eventos cardíacos subsequentes”, diz Ahmed Tawakol, codiretor do programa de PET/CT cardíaco do Hospital Geral de Massachusetts e coautor do trabalho.
De acordo com Deepak Bhatt, diretor do Programa de Intervenções Integradas cardiovasculares do Hospital Feminino de Brigham, em Harvard, não há dúvidas de que o estresse desencadeie efeitos fisiológicos em todo o corpo, incluindo o coração. “Isso é especialmente verdade no caso de um estresse severo e agudo. Pessoas que recebem uma notícia traumática podem, em casos raros, sofrer um ataque cardíaco imediato”, observa Bhatt, que não participou do estudo. “Isso não é apenas um ataque de ansiedade ou pânico. Quando você faz o cateterismo nesses pacientes, vê que uma artéria que anteriormente estava aberta ficou obstruída. Da mesma forma, o estresse crônico, que vai se acumulando com o tempo, tem esse potencial”, complementa.
Medula óssea
Ahmed Tawakol conta que o aumento crônico da atividade no centro do medo cerebral estimula, na medula óssea, a produção de alguns tipos de células, inclusive os monócitos. Essas estruturas são importantes componentes do sistema imunológico, entrando em ação quando se precisa proteger o corpo contra algum agente externo que entra na corrente sanguínea. Em excesso, porém, provocam inflamações nos tecidos que estão associadas a diversas doenças e condições, de câncer a infarto.
“Essa produção aumentada de monócitos foi visualizada pelo PET/CT nos pacientes que sofriam de mais estresse. No caso deles, as inflamações se instalaram na parede das artérias. Já sabemos, há bastante tempo, que a inflamação crônica arterial é um dos fatores de risco de doenças cardiovasculares”, conta Amorina Ishai, coautora do estudo. Segundo a especialista, a formação e o desenvolvimento de uma lesão aterosclerótica é um processo complexo e tem a inflamação crônica como componente patológico. “O papel dos monócitos é grande tanto no início da formação das placas quanto na progressão das mesmas”, observa.
De acordo com a pesquisadora, no estudo apresentado durante a reunião do Colégio Americano de Cardiologia, não se buscou uma relação causal entre a ativação da amígdala, a produção de monócitos pela medula óssea e a inflamação das artérias. “O que visualizamos foi uma correlação, mas não podemos dizer com certeza, ainda, como isso tudo se relaciona”, explica.
“Para compreendermos melhor a interação entre esses fatores, teríamos de desenhar um novo estudo que envolvesse uma intervenção de redução de estresse no cérebro ou da resposta emocional e constatar que isso reduziu os eventos cardiovasculares”, diz Ahmed Tawakol. “Se descobrirmos que tratar o estresse de alguma forma resulta na redução de doenças cardiovasculares, teremos uma janela para novos diagnósticos e novas intervenções. Certamente, temos interesse em testar a hipótese de que ferramentas para lidar com o estresse podem reduzir o risco cardíaco”, afirma.
Peso no quadril
Uma pesquisa do Hospital John Hopkins de Baltimore acrescentou evidências de que, para evitar riscos cardiovasculares, é melhor ter um formato corporal de pera (o peso concentrado nos quadris) do que de maçã (peso ao redor do abdômen). Os pesquisadores constataram que a obesidade abdominal é um forte preditor de doenças cardíacas graves em pacientes que têm diabetes 1 e 2, sem, contudo, apresentar sintomas de problemas no coração. O trabalho foi feito com mais de 200 homens e mulheres. A conclusão dos cientistas é de que a circunferência abdominal é um indicador melhor para risco coronariano que o índice de massa corporal, medida que considera peso e altura.
Depressão é fator de risco
A depressão é um conhecido fator de risco para doenças cardiovasculares, mas, até agora, não se sabia se a chance de sofrer um ataque cardíaco ou um derrame pode aumentar ou piorar caso haja alguma mudança no quadro dessa condição mental. Um novo estudo conduzido por pesquisadores do Instituto do Coração de Salt Lake City (EUA) mostra que tratar efetivamente o paciente depressivo pode reduzir a probabilidade de ele sofrer complicações cardiovasculares. O trabalho também foi apresentado no Colégio Americano de Cardiologia.
“Com a ajuda de pesquisas anteriores, sabemos que a depressão está associada a riscos cardiovasculares a longo prazo, mas identificar que, a curto prazo, aliviar os sintomas da doença reduz o risco cardíaco do paciente pode ajudar essas pessoas a se comprometerem mais com o tratamento dos sintomas depressivos”, aposta Heidi May, epidemiologista e autora do estudo. “A principal conclusão de nossas pesquisas é: se a depressão não é tratada, o risco de complicações cardiovasculares aumenta significativamente”, avisa.
A equipe liderada por May analisou dados do Intermountain, um banco de dados que contém informação de mais de 100 mil pacientes de Salt Lake City. Ele focaram em 7.550 pessoas que completaram pelo menos dois questionários sobre depressão ao longo de um ou dois anos. Elas foram categorizadas com base nos resultados da pesquisa como nunca deprimidas, não mais deprimidas, continuam deprimidas ou se tornaram deprimidas. Então, os pacientes foram acompanhados para verificar se haviam sofrido algum problema cardiovascular importante, como derrame, falência cardíaca, ataque cardíaco ou morte.
No fim do estudo, 4,6% dos que não estavam mais deprimidos apresentaram ocorrência dessas complicações similar às taxas daqueles que jamais haviam sofrido depressão (4,8%). Já os que continuavam deprimidos e os que adquiriram o transtorno mental ao longo da pesquisa registraram percentuais de 6% e 6,4%, respectivamente.
Mais testes
Segundo May, o trabalho indica que um tratamento efetivo diminui o risco de sofrer problemas cardiovasculares a curto prazo. Contudo, ela ressalta que mais estudos são necessários para identificar exatamente como deve ser essa terapia. “O que fizemos foi simplesmente observar dados que foram coletados previamente. Para irmos além, precisamos fazer um teste clínico completo, que avalie o que observamos”, diz.
Devido à natureza complexa da depressão, é difícil dizer se ela leva ao aumento de fatores de risco de problemas cardiovasculares ou se é justamente o contrário. Uma pista do trabalho de May é que mudanças nos sintomas depressivos podem causar mudanças fisiológicas imediatas, o que, por sua vez, reduzem a chance de ocorrências cardíacas. Mas a médica ressalta que essa questão não está fechada.