Para a OMS, o aumento do sobrepeso e da obesidade está diretamente ligado ao avanço do diabetes. O primeiro afeta 25% dos adultos. O segundo, 10%. “Para progredir, devemos repensar o nosso dia a dia: ter uma alimentação saudável, estar ativo e evitar engordar em demasia”, enfatizou Margaret Chan, diretora-geral da agência.
Nas Américas, o percentual subiu de 5% em 1980 para 8,3% em 2014 — ou seja, de 18 milhões para 62 milhões de pacientes adultos. O relatório da OMS não traz dados sobre o diabetes no Brasil, mas, segundo Luiz Turatti, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, assim como a maiorias das nações em desenvolvimento, a doença crônica também avança por aqui. “Provavelmente, esses números mais altos em países em desenvolvimento estão associados a uma dieta de baixa qualidade, já que, nessas regiões, o custo dos alimentos saudáveis é maior. Hoje em dia, percebemos a tendência a uma dieta rica em açúcares e gordura, e isso é um grande risco”, diz o especialista.
A Federação Internacional do Diabetes estima que, em 2015, havia no Brasil 14,3 milhões de diabéticos e que, em 2040, o número chegue a 23,2 milhões. Há duas formas de diabetes mellitus, quando a concentração de açúcar no sangue fica excessivamente alta (veja infográfico). A que mais avança no mundo é a tipo 2, que está justamente ligada ao sedentarismo: a obesidade é o principal fator de risco para a doença metabólica, acometendo de 80% a 90% dos pacientes, segundo o Manual Merck de Informação Médica. “A ideia para combater esse aumento (do diabetes) é traçar novas estratégias. Os esforços devem se concentrar em medidas de prevenção, programas de educação, campanhas de conscientização e assim por diante”, defende Turatti.
Tratamento falho
O relatório global da OMS segue na mesma linha. Além de retratar “a enorme escalada do problema”, a agência considera que a tendência pode ser invertida. Entre as medidas propostas, estão priorizar ações para evitar que as pessoas fiquem com sobrepeso ou obesas, sendo que elas devem ser iniciadas antes do nascimento ou no início da infância; criar suportes e ambientes que estimulem a prática de atividades físicas; e tornar os medicamentos essenciais para o tratamento mais acessíveis. “Se dispõe de insulina e de hipoglicemiantes orais de forma generalizada em apenas uma minoria de países de baixa renda”, denuncia a agência.
Segundo Turatti, o cenário de carência é realidade brasileira. “Hoje, temos uma gama de medicamentos que compõem um bom tratamento para esses pacientes. O problema é que grande parte desses remédios não está disponível no sistema público de saúde.
Falhas no tratamento têm impacto direto nas complicações ligadas ao diabetes. Ataques cardíacos, acidentes vascular encefálicos, insuficiência renal, amputação de pernas, perda de visão e danos neurológicos estão entre os principais danos. A OMS estima que, em 2012, o diabetes tenha matado 1,5 milhão de pessoas no mundo, mas ressalta que 2,2 milhões de óbitos causados por doenças relacionadas à enfermidade devem fazer parte da conta.
Juntos, o diabetes e as complicações, avalia a agência, “provocam importantes perdas econômicas para as pessoas que padecem da doença e suas famílias, assim como para os sistemas de saúde e as economias nacionais”. Etienne Krug, diretor do Departamento de Doenças Não Transmissíveis da OMS, estima que o custo direto com a doença crônica supere US$ 827 bilhões por ano. “Não há soluções simples para combater o diabetes, mas, com intervenções coordenadas com múltiplos componentes, podem ser obtidas mudanças importantes”, conclui o documento divulgado pela agência..