As cirurgias foram realizadas no dia 30 de janeiro no Hospital de Clínicas do Alvarenga pela equipe do Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista, que foi contratada pela prefeitura do município para prestar serviços na área de oftalmologia.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de São Bernardo do Campo, dos 27 pacientes que foram submetidos à cirurgia, 22 tiveram quadros infecciosos causados por uma bactéria e precisaram passar por remoção parcial ou total do globo ocular. Uma das vítimas morreu 20 dias depois do mutirão.
Procedimento
"Não foram utilizadas técnicas assépticas naquele dia, o que não segue as orientações de boas práticas cirúrgicas, não sendo observados procedimentos como lavagem das mãos, troca de avental cirúrgico e esterilização de materiais e, ainda, houve o compartilhamento de material perfurocortante entre os pacientes, aumentando sobremaneira a possibilidade de infecção e disseminação bacteriana entre os pacientes", diz o relatório.
A apuração apontou ainda que a contaminação não está relacionada com o hospital. "A bactéria apresentava sensibilidade a todos os antibióticos testados, descartando a hipótese de contaminação por bactéria multirresistente, geralmente encontrada em ambiente hospitalar".
A secretaria de Saúde do município informou que determinou que o relatório fosse encaminhado ao Ministério Público, à Polícia Civil e aos conselhos regionais de Medicina e de Enfermagem.
Advogado do Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista, José Luiz Macedo diz que o instituto não teve acesso ao relatório da sindicância e que não tinha como comentar o resultado. "Não sabemos o que levou a essa conclusão. Os procedimentos foram adotados e todos os insumos estavam dentro das regras, seguindo as orientações médicas."
Vítimas
A Secretaria de Saúde de São Bernardo do Campo convocou uma reunião, fechada à imprensa, com os parentes das vítimas para apresentar os resultados da sindicância. Zenilda Caldeira Batista, dona de casa, representou o marido Expedito Batista, de 66 anos, aposentado que ficou cego do olho direito. Antes da cirugia, ele tinha 70% de capacidade de visão.
“A cirurgia foi num sábado, no domingo ele estava bem, mas na segunda-feira de manhã já não estava enxergando mais, com muita dor e o olho bem irritado.
A dona de casa Janete Oliveira representou o marido Anísio Augusto de Oliveira, de 68 anos, aposentado, que teve de remover o olho esquerdo. “A Secretaria de Saúde está dando assistência, mas já está ficando meio parado. Deu uns óculos, mas que não valem nada, não ajudam. A gente vai reclamar. Agora ele ainda tem que colocar uma prótese. Esperamos que façam alguma coisa por nós. Uma indenização não vai pagar o que sofremos”, lamentou.
A secretaria informou que vem prestando toda assistência às vítimas e que determinou o envio do relatório divulgado hoje ao Ministério Público e à Polícia Civil para subsídio às investigações, e aos Conselhos Regionais de Medicina (CRM) e de Enfermagem (COREN), para que apurem e responsabilizem os profissionais..