Os benefícios de armazenar as células-tronco do cordão umbilical para tratamentos futuros são conhecidos. Mas, diferentes desse material que só pode ser utilizado nas doenças sanguíneas, as células-tronco extraídas da polpa do dente de leite possuem considerável capacidade de originar vários tipos de tecidos humanos como osso, gordura, cartilagem e músculo. A técnica tem sido vista por especialistas como revolucionária, indicada como futuro do tratamento com células-tronco.
A cirurgiã-dentista Daniela Bueno, pesquisadora do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, se dedica à técnica desde 2003. O trabalho tem ajudado crianças com malformação congênita ou fissura do lábio palatino, mais conhecida como lábio leporino. A pesquisadora consegue fazer ossos a partir da extração das células-tronco de dente de leite. De acordo com ela, durante o processo de pesquisa, 16 crianças foram operadas, das quais cinco passaram dois anos sendo acompanhadas e as outras, um ano.
Segundo Daniela Bueno, as células do dente de leite são mais jovens em comparação com as do cordão umbilical e outras encontradas na gordura humana. A célula-tronco presente na polpa do dente é do tipo mesenquimal, também existente no tecido adiposo e na medula óssea. “A diferença básica é a origem embrionária. No começo da gestação, quando ocorre a fecundação, há um monte de células que ficam retidas na polpa do dente de leite. É diferente das encontradas na gordura e na medula. Essas envelhecem conosco”, explicou. Outro benefício é que as células-tronco dos dentes de leite são extraídas num processo não invasivo, diferentemente das obtidas por meio da medula.
A pesquisadora relatou a existência de bancos privados de criopreservação de células-tronco de polpa do dente de leite. As unidades fazem a coleta, a criopreservação e a expansão do material. Mas é preciso observar a seriedade dos locais de armazenamento. No Recife ainda não tem. Há três unidades em São Paulo e uma em Curitiba. O valor cobrado, em média, é de R$ 3 mil inicialmente com manutenções anuais de R$ 600. “É preciso checar se o banco está inscrito no Conselho Regional de Odontologia do estado e se tem o registro no Centro de Terapia Celular (CTC) da Anvisa, porque armazenamento de material biológico precisa seguir uma linha ética sólida”, recomendou Daniela Bueno.
A dentista Luciana Oliveira é a única no Recife a fazer o procedimento de coleta dos dentes. Ela é cadastrada em um laboratório de São Paulo e passou por treinamento em dezembro do ano passado para poder trabalhar com a técnica. A profissional retira o dente, insere no material de preservação e envia para São Paulo. Segundo ela, antes de realizar a extração a criança precisa passar por um conjunto de radiografias e exames de sangue, para checar se está apta a fazer o procedimento.
“É preciso saber se há alguma doença sanguínea, por exemplo”, destacou. “Nossos avós falavam em transplante e atualmente nós sabemos que é possível. Para a geração dessas crianças, não haverá transplante, mas autotransplante. Elas não precisarão entrar em fila, porque é uma técnica que abre uma gama de possibilidades”, acrescentou Luciana Oliveira.
Médicos e pacientes esperançosos
Quando soube da extração de células-tronco da polpa do dente de leite, por meio da dentista da filha, Maira Maciel Amaral, de 45 anos, resolveu apostar na prevenção. Para ela, o essencial é ter alternativas se o inesperado bater à porta. É a primeira vez que ela armazenará células-tronco. Não guardou células do cordão umbilical, mas acredita que é válida a prevenção. “É importante ter condições de proporcionar tratamento em situações que não existiriam escolhas. Em caso de necessidade, é mais uma opção de tratamento eficaz”, diz Maira. Segundo ela, a filha, Helena Amaral Accioly, de 9 anos, está na fase de realizar os exames para checar se está apta ao procedimento.
O médico ortopedista Marcelo Strauch Serafim, de 43 anos, pretende realizar a extração nos dois filhos, de 7 e 4 anos. O mais velho, Thiago Serafim, vai passar pela experiência primeiro. Marcelo mora em Fortaleza, no Ceará, e diz que conheceu a técnica por meio de leituras em material científico. O interesse surgiu a partir da busca de alternativas para a área de ortopedia. De acordo com ele, nos últimos anos os trabalhos científicos têm mostrado que o material é mais viável em comparação as células encontradas no cordão umbilical.
O médico diz pesquisar o assunto há três anos. Para ele, que armazenou células do cordão umbilical, a maior vantagem é o fato de as células-tronco da polpa do dente de leite serem mais “flexíveis” para se transformarem em outras, além de serem mais jovens e sofrerem menos influência do meio.
“A gente tem visto na comunidade médica que esse material é mais limitado em relação à polpa do dente de leite. O cordão umbilical não consegue se transformar em vários tipos de tecido como a polpa. Conversei com alguns dentistas e li artigos americanos e europeus sobre esse caminho”, comentou. O ortopedista acredita que o procedimento está abrindo um novo horizonte para saúde e a medicina em geral, algo palpável em cinco ou dez anos. Na opinião dele, os pacientes têm muita dificuldade com perda óssea traumática ou degenerativa, condições que poderão mudar a partir do tratamento com células-tronco da polpa do dente de leite. “Já existem vários trabalhos com cartilagem e reposição óssea”, observou.
Saiba mais:
Vantagens das células-tronco extraídas do dente de leite:
Capacidade de originar vários tipos de tecidos humanos como osso, gordura, cartilagem e músculo
São mais jovens em relação às células do cordão umbilical e da medula óssea
Sofreram menos influência do meio, já que são extraídas de crianças
São obtidas por meio de processo não invasivo, diferente das células da medula óssea, que precisam de punção com agulha especial e seringa
Como é feito o procedimento:
A criança é avaliada pelo dentista capacitado para a extração
Em seguida, realiza exames de sangue e uma série de radiografias
No dia marcado, o profissional retira o dente, insere no material de preservação e envia para o laboratório
A cirurgiã-dentista Daniela Bueno, pesquisadora do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, se dedica à técnica desde 2003. O trabalho tem ajudado crianças com malformação congênita ou fissura do lábio palatino, mais conhecida como lábio leporino. A pesquisadora consegue fazer ossos a partir da extração das células-tronco de dente de leite. De acordo com ela, durante o processo de pesquisa, 16 crianças foram operadas, das quais cinco passaram dois anos sendo acompanhadas e as outras, um ano.
Segundo Daniela Bueno, as células do dente de leite são mais jovens em comparação com as do cordão umbilical e outras encontradas na gordura humana. A célula-tronco presente na polpa do dente é do tipo mesenquimal, também existente no tecido adiposo e na medula óssea. “A diferença básica é a origem embrionária. No começo da gestação, quando ocorre a fecundação, há um monte de células que ficam retidas na polpa do dente de leite. É diferente das encontradas na gordura e na medula. Essas envelhecem conosco”, explicou. Outro benefício é que as células-tronco dos dentes de leite são extraídas num processo não invasivo, diferentemente das obtidas por meio da medula.
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A dentista Luciana Oliveira é a única no Recife a fazer o procedimento de coleta dos dentes. Ela é cadastrada em um laboratório de São Paulo e passou por treinamento em dezembro do ano passado para poder trabalhar com a técnica. A profissional retira o dente, insere no material de preservação e envia para São Paulo. Segundo ela, antes de realizar a extração a criança precisa passar por um conjunto de radiografias e exames de sangue, para checar se está apta a fazer o procedimento.
“É preciso saber se há alguma doença sanguínea, por exemplo”, destacou. “Nossos avós falavam em transplante e atualmente nós sabemos que é possível. Para a geração dessas crianças, não haverá transplante, mas autotransplante. Elas não precisarão entrar em fila, porque é uma técnica que abre uma gama de possibilidades”, acrescentou Luciana Oliveira.
Médicos e pacientes esperançosos
Quando soube da extração de células-tronco da polpa do dente de leite, por meio da dentista da filha, Maira Maciel Amaral, de 45 anos, resolveu apostar na prevenção. Para ela, o essencial é ter alternativas se o inesperado bater à porta. É a primeira vez que ela armazenará células-tronco. Não guardou células do cordão umbilical, mas acredita que é válida a prevenção. “É importante ter condições de proporcionar tratamento em situações que não existiriam escolhas. Em caso de necessidade, é mais uma opção de tratamento eficaz”, diz Maira. Segundo ela, a filha, Helena Amaral Accioly, de 9 anos, está na fase de realizar os exames para checar se está apta ao procedimento.
O médico ortopedista Marcelo Strauch Serafim, de 43 anos, pretende realizar a extração nos dois filhos, de 7 e 4 anos. O mais velho, Thiago Serafim, vai passar pela experiência primeiro. Marcelo mora em Fortaleza, no Ceará, e diz que conheceu a técnica por meio de leituras em material científico. O interesse surgiu a partir da busca de alternativas para a área de ortopedia. De acordo com ele, nos últimos anos os trabalhos científicos têm mostrado que o material é mais viável em comparação as células encontradas no cordão umbilical.
O médico diz pesquisar o assunto há três anos. Para ele, que armazenou células do cordão umbilical, a maior vantagem é o fato de as células-tronco da polpa do dente de leite serem mais “flexíveis” para se transformarem em outras, além de serem mais jovens e sofrerem menos influência do meio.
“A gente tem visto na comunidade médica que esse material é mais limitado em relação à polpa do dente de leite. O cordão umbilical não consegue se transformar em vários tipos de tecido como a polpa. Conversei com alguns dentistas e li artigos americanos e europeus sobre esse caminho”, comentou. O ortopedista acredita que o procedimento está abrindo um novo horizonte para saúde e a medicina em geral, algo palpável em cinco ou dez anos. Na opinião dele, os pacientes têm muita dificuldade com perda óssea traumática ou degenerativa, condições que poderão mudar a partir do tratamento com células-tronco da polpa do dente de leite. “Já existem vários trabalhos com cartilagem e reposição óssea”, observou.
Saiba mais:
Vantagens das células-tronco extraídas do dente de leite:
Capacidade de originar vários tipos de tecidos humanos como osso, gordura, cartilagem e músculo
São mais jovens em relação às células do cordão umbilical e da medula óssea
Sofreram menos influência do meio, já que são extraídas de crianças
São obtidas por meio de processo não invasivo, diferente das células da medula óssea, que precisam de punção com agulha especial e seringa
Como é feito o procedimento:
A criança é avaliada pelo dentista capacitado para a extração
Em seguida, realiza exames de sangue e uma série de radiografias
No dia marcado, o profissional retira o dente, insere no material de preservação e envia para o laboratório