Nos casos justificados organicamente, a insônia infantil pode ser reflexo de quadros obstrutivos, como a adenoide, por exemplo. Segundo Christian, a criança não consegue respirar direito, tem dificuldades para dormir e manter o sono durante a noite. O mesmo acontece quando ela apresenta sintomas alérgicos, como a rinite. Existem também as alterações neurológicas benignas, que são mais raras, como os casos de sonambulismo e de pesadelos crônicos, por exemplo.
Para as disfunções biológicas, tratamentos, medicamentos e até mesmo cirurgias podem apresentar a solução. O diagnóstico é fechado e geralmente já é apresentado com a solução. No entanto, na insônia infantil comportamental, a “cura” nem sempre é tão imediata ou simples.
De acordo com Christian, o local onde a criança dorme — se no próprio quarto ou na cama dos pais —, a iluminação do ambiente, as atividades noturnas e a rotina familiar no momento de ir para a cama são os primeiros aspectos a serem analisados quando a dificuldade para dormir não apresenta uma causa orgânica.
Considerando esse conceito, a terapeuta e professora de psicologia da Universidade Católica de Brasília, Letícia Faria, também ressalta a importância do ritual para dormir. “Muitas vezes, é uma rotina que não favorece o sono. A criança se acostuma e passa a postergar o momento de dormir”, afirma. A especialista acrescenta que os pais devem observar se a insônia começou após ou durante algum evento significativo na vida da criança — como mudança de escola, de casa, alterações na rotina familiar, separação dos pais, por exemplo —, que podem ser fatores de estresse ou ansiedade.
Entre os hábitos que podem dificultar o adormecer das crianças estão o uso de dispositivos eletrônicos após as 19h e as brincadeiras agitadas, que exigem movimentação intensa da criança. “Os dispositivos, como celulares e tablets, por exemplo, interferem na liberação de melatonina, substância que gera o sono”, afirma Christian.
Os especialistas chamam a atenção ainda para duas maneiras nas quais a insônia se apresenta. Existem as crianças que demoram a adormecer. Há ainda aquelas que adormecem, mas não têm um sono de qualidade e acordam cansadas. “É o sono superficial, que não é repousante”, completa o neuropediatra.
A pequena Evelin Sofia dos Santos Silva, 6 anos, sofria duplamente. Além de demorar a dormir, acordava de hora em hora. O problema começou aos 2 anos e os pais de Evelin, a empresária Nayara Jasmyriam Santos Veiga, 3 anos, e o policial militar Igor Araújo da Silva, 34, passaram por seis especialistas até receberem o diagnóstico de insônia comportamental. Com a dificuldade em cair no sono, vinham a irritabilidade e o estresse da menina. Evelin roía as unhas e chorava muito durante o dia e a noite, sintomas comuns na insônia infantil, bem como queda no rendimento escolar, diminuição na imunidade, dores de cabeça, desatenção e diminuição da liberação dos hormônios do crescimento.
Como consequência de noites maldormidas, toda a família apresentava sinais de cansaço. “Refletia muito na gente e precisei fazer acompanhamento médico também.
O pediatra Christian explica que o hábito é prejudicial e pode ser um dos fatores causadores da insônia. “A criança se acostuma a adormecer ao lado da mãe ou do pai. Quando acorda no meio da noite, não consegue voltar a dormir sozinha, pois não tem esse costume”, completa. Foram cerca de três anos de tratamento com o colchão, natação durante o dia, acompanhamento psicológico e medicamentos para dormir. Hoje, Evelin tem um sono mais saudável, ainda que leve tempo para adormecer.
Pesquisas comprovam
A importância da higiene do sono ou da rotina pré-sono foi comprovada em um estudo realizado pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). A psicóloga Renatha El Rafihi Ferreira propôs uma intervenção comportamental com aconselhamento parental para avaliar os efeitos dos comportamentos e hábitos noturnos da família no sono da criança.
O estudo selecionou 62 crianças entre 1 e 5 anos, todas elas com dificuldade para adormecer. Antes do estudo, foram descartadas causas biológicas para a insônia.
O resultado foi avaliado por meio de pulseiras de actigrafia, aparelhos que calculam a atividade noturna. Os resultados mostraram que as crianças que passaram pelos testes apresentaram melhora no sono, dormindo mais rápido e acordando menos vezes durante a noite.
Fonte: Site do Instituto de Psicologia da USP
O que evitar na hora de dormir:
- Uso de dispositivos eletrônicos;
- Atividade física intensa;
- Brincadeiras agitadas;
- Alimentos com cafeína.
Como se preparar:
- Ter rotina estabelecida;
- A criança deve se habituar a dormir sozinha e no próprio quarto;
- O quarto deve estar escuro e a televisão, desligada;
- Os pais devem aproveitar o momento para ler para os filhos, ter conversas tranquilas e para fazer orações, a depender da orientação religiosa da família;
- A família deve evitar discussões e assuntos conflituosos no período noturno.
- Apesar de a insônia comportamental ser mais comum em crianças, é sempre recomendado procurar o médico. Se necessário, o pediatra fará o encaminhamento para neuropediatras e pneumopediatras.