Determinante no acompanhamento de cirurgias e acidentes, o processo de cicatrização de órgãos humanos, internos e externos, pode ganhar um reforço da terapia genética. Pesquisadores da Ohio State University, nos Estados Unidos, identificaram um gene que desempenha papel-chave na cura de feridas. É o MG53 — uma proteína que, entre as funções, corrige o dano celular e tecidual que ocorre durante atividades cotidianas, como caminhar e digitar, evitando, assim, o surgimento de lesões.
“Todos os animais carregam essa proteína, que é quase idêntica neles, não importa em qual espécie”, explicaram, em comunicado, os autores do estudo, apresentado, na quarta-feira, na 60° Reunião Anual da Biophysical Society, nos EUA. Para investigar a fundo essa capacidade curativa, a equipe decidiu averiguar o que aconteceria se ação do MG53 fosse silenciada. O experimento foi feito com ratos — alguns tiveram danos induzidos no coração, outros não. As cobaias sem a proteína MG53 não conseguiram se recuperar do problema, diferentemente dos roedores do segundo grupo, que tinham a substância ativa no corpo. A consequência imediata dessa falha é que, em situações de estresse, o órgão vital teria o funcionamento comprometido.
Os autores também identificaram que o gene viaja por todo o sangue e auxilia na correção de lesões no corpo inteiro, como pele e pulmões, sem causar cicatrizes. Isso porque funciona como um regulador da migração das células que atuam no processo de cura das feridas, os fibroblastos, permitindo que elas ajam até não comprometerem a integridade do órgão. “Uma cicatriz enorme na pele pode parecer ruim, mas imagine que você tenha um ataque cardíaco e uma cicatriz no coração. Isso poderia ser letal”, ilustrou Jianjie Ma, fisiologista na Universidade de Ohio e coautor do trabalho.
Os cientistas perceberam ainda que o MG53 trabalha com a proteína TGF-beta. Também envolvida no processo de cura de feridas, essa citocina tem ação mais rápida no corpo, o que pode causar cicatrizes. O experimento mostrou que, caso a quantidade de TGF-beta no sangue seja maior do que a de MG53, as chances de formação de cicatrizes são bem maiores. Uma das alternativas terapêuticas que surgiram as partir desse resultado é inibir a TGF-beta e aumentar a ação do MG53, potencializando a ação da proteína que age sem deixar marcas
Processo complexo
Gustavo Souza Guimarães, médico do Hospital Santa Helena, em Brasília, e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia, observa que o trabalho norte-americano é baseado em uma área que vem ganhando força nas pesquisas médicas: a manipulação de genes. “A terapia genética vai ser a próxima fronteira da medicina. Quanto mais você puder mexer com a genética, mais opções de resultados melhores surgirão”, diz. O especialista cita o queloide como exemplo de um problema beneficiado por esse tipo de abordagem. “Esse excesso de cicatrização ocorre devido à atuação de muitos fatores inflamatórios. Se isso for modulado, poderá ser evitado”, explica.
Apesar de considerar os resultados do estudo norte-americano interessantes, Guimarães ressalta que, pelo fato de a cura de lesões e feridas ser um processo muito complexo, mais pesquisas precisam ser feitas antes de chegar à aplicação clínica. “Imagino que devam existir muitos outros genes envolvidos, mas que, se forem desvendados, também poderão trazer mais ganhos em outras áreas, como as doenças inflamatórias, já que a TGF-beta também está presente em muitas delas e em problemas reumatológicos”, cogita.
O médico aponta que as cirurgias seriam beneficiadas pela terapia genética, pois a manipulação da proteína-chave da cicatrização aceleraria o tempo de recuperação de pacientes, reduzindo risco de infecções. “Também temos uma grande barreira em tratamentos médicos para queimaduras. É difícil recuperar essas feridas, que cicatrizam demais. Saber um modo para evitar que isso ocorra seria um grande facilitador na correção”, complementa.
Acumulação fibrosa
Ocorre com mais frequência em negros americanos e asiáticos e é consequência da formação proliferativa de tecidos fibroso sobre uma área lesionada ou cicatrizes de cirurgia. Caracteriza-se pelo inchaço, com coloração rosa, que provoca coceira, muitas vezes dolorosa. Pode surgir em qualquer lugar do corpo, mas raramente se desenvolve nas mãos, nos pés, nas axilas e no couro cabeludo. O tratamento envolve radioterapia local, injeções de corticosteroides e cirurgias redutoras.
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Os autores também identificaram que o gene viaja por todo o sangue e auxilia na correção de lesões no corpo inteiro, como pele e pulmões, sem causar cicatrizes. Isso porque funciona como um regulador da migração das células que atuam no processo de cura das feridas, os fibroblastos, permitindo que elas ajam até não comprometerem a integridade do órgão. “Uma cicatriz enorme na pele pode parecer ruim, mas imagine que você tenha um ataque cardíaco e uma cicatriz no coração. Isso poderia ser letal”, ilustrou Jianjie Ma, fisiologista na Universidade de Ohio e coautor do trabalho.
Os cientistas perceberam ainda que o MG53 trabalha com a proteína TGF-beta. Também envolvida no processo de cura de feridas, essa citocina tem ação mais rápida no corpo, o que pode causar cicatrizes. O experimento mostrou que, caso a quantidade de TGF-beta no sangue seja maior do que a de MG53, as chances de formação de cicatrizes são bem maiores. Uma das alternativas terapêuticas que surgiram as partir desse resultado é inibir a TGF-beta e aumentar a ação do MG53, potencializando a ação da proteína que age sem deixar marcas
Processo complexo
Gustavo Souza Guimarães, médico do Hospital Santa Helena, em Brasília, e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia, observa que o trabalho norte-americano é baseado em uma área que vem ganhando força nas pesquisas médicas: a manipulação de genes. “A terapia genética vai ser a próxima fronteira da medicina. Quanto mais você puder mexer com a genética, mais opções de resultados melhores surgirão”, diz. O especialista cita o queloide como exemplo de um problema beneficiado por esse tipo de abordagem. “Esse excesso de cicatrização ocorre devido à atuação de muitos fatores inflamatórios. Se isso for modulado, poderá ser evitado”, explica.
Apesar de considerar os resultados do estudo norte-americano interessantes, Guimarães ressalta que, pelo fato de a cura de lesões e feridas ser um processo muito complexo, mais pesquisas precisam ser feitas antes de chegar à aplicação clínica. “Imagino que devam existir muitos outros genes envolvidos, mas que, se forem desvendados, também poderão trazer mais ganhos em outras áreas, como as doenças inflamatórias, já que a TGF-beta também está presente em muitas delas e em problemas reumatológicos”, cogita.
O médico aponta que as cirurgias seriam beneficiadas pela terapia genética, pois a manipulação da proteína-chave da cicatrização aceleraria o tempo de recuperação de pacientes, reduzindo risco de infecções. “Também temos uma grande barreira em tratamentos médicos para queimaduras. É difícil recuperar essas feridas, que cicatrizam demais. Saber um modo para evitar que isso ocorra seria um grande facilitador na correção”, complementa.
Acumulação fibrosa
Ocorre com mais frequência em negros americanos e asiáticos e é consequência da formação proliferativa de tecidos fibroso sobre uma área lesionada ou cicatrizes de cirurgia. Caracteriza-se pelo inchaço, com coloração rosa, que provoca coceira, muitas vezes dolorosa. Pode surgir em qualquer lugar do corpo, mas raramente se desenvolve nas mãos, nos pés, nas axilas e no couro cabeludo. O tratamento envolve radioterapia local, injeções de corticosteroides e cirurgias redutoras.