“Todos os animais carregam essa proteína, que é quase idêntica neles, não importa em qual espécie”, explicaram, em comunicado, os autores do estudo, apresentado, na quarta-feira, na 60° Reunião Anual da Biophysical Society, nos EUA. Para investigar a fundo essa capacidade curativa, a equipe decidiu averiguar o que aconteceria se ação do MG53 fosse silenciada. O experimento foi feito com ratos — alguns tiveram danos induzidos no coração, outros não. As cobaias sem a proteína MG53 não conseguiram se recuperar do problema, diferentemente dos roedores do segundo grupo, que tinham a substância ativa no corpo. A consequência imediata dessa falha é que, em situações de estresse, o órgão vital teria o funcionamento comprometido.
Os autores também identificaram que o gene viaja por todo o sangue e auxilia na correção de lesões no corpo inteiro, como pele e pulmões, sem causar cicatrizes. Isso porque funciona como um regulador da migração das células que atuam no processo de cura das feridas, os fibroblastos, permitindo que elas ajam até não comprometerem a integridade do órgão.
Os cientistas perceberam ainda que o MG53 trabalha com a proteína TGF-beta. Também envolvida no processo de cura de feridas, essa citocina tem ação mais rápida no corpo, o que pode causar cicatrizes. O experimento mostrou que, caso a quantidade de TGF-beta no sangue seja maior do que a de MG53, as chances de formação de cicatrizes são bem maiores. Uma das alternativas terapêuticas que surgiram as partir desse resultado é inibir a TGF-beta e aumentar a ação do MG53, potencializando a ação da proteína que age sem deixar marcas
Processo complexo
Gustavo Souza Guimarães, médico do Hospital Santa Helena, em Brasília, e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia, observa que o trabalho norte-americano é baseado em uma área que vem ganhando força nas pesquisas médicas: a manipulação de genes. “A terapia genética vai ser a próxima fronteira da medicina. Quanto mais você puder mexer com a genética, mais opções de resultados melhores surgirão”, diz. O especialista cita o queloide como exemplo de um problema beneficiado por esse tipo de abordagem. “Esse excesso de cicatrização ocorre devido à atuação de muitos fatores inflamatórios. Se isso for modulado, poderá ser evitado”, explica.
Apesar de considerar os resultados do estudo norte-americano interessantes, Guimarães ressalta que, pelo fato de a cura de lesões e feridas ser um processo muito complexo, mais pesquisas precisam ser feitas antes de chegar à aplicação clínica. “Imagino que devam existir muitos outros genes envolvidos, mas que, se forem desvendados, também poderão trazer mais ganhos em outras áreas, como as doenças inflamatórias, já que a TGF-beta também está presente em muitas delas e em problemas reumatológicos”, cogita.
O médico aponta que as cirurgias seriam beneficiadas pela terapia genética, pois a manipulação da proteína-chave da cicatrização aceleraria o tempo de recuperação de pacientes, reduzindo risco de infecções. “Também temos uma grande barreira em tratamentos médicos para queimaduras. É difícil recuperar essas feridas, que cicatrizam demais.
Acumulação fibrosa
Ocorre com mais frequência em negros americanos e asiáticos e é consequência da formação proliferativa de tecidos fibroso sobre uma área lesionada ou cicatrizes de cirurgia. Caracteriza-se pelo inchaço, com coloração rosa, que provoca coceira, muitas vezes dolorosa. Pode surgir em qualquer lugar do corpo, mas raramente se desenvolve nas mãos, nos pés, nas axilas e no couro cabeludo. O tratamento envolve radioterapia local, injeções de corticosteroides e cirurgias redutoras..