Assim como Ângelo Bahia, é bom para a saúde das novas gerações e também das próprias mulheres, já que a amamentação é fator protetor contra o câncer de mama, que as pessoas aprendam a lidar com a situação. E é simples.
O corpo da mulher (do homem ou da criança) é o arcabouço da nossa existência, o que nos permite estar no mundo como pessoa. Nem tudo é sobre sexo. A amamentação em público surge de uma demanda por alimento de uma criança que tem direito ao que é considerado o alimento mais completo para o seu desenvolvimento: o leite materno. E criança é prioridade absoluta como diz o artigo 227 da Constituição Federal: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.
A lei nº 1510/2015 que protege o direito das crianças ao leite materno já foi aprovada em primeiro turno pela Câmara de BH. De autoria do vereador Gilson Reis (PCdoB), prevê multa para estabelecimento - e inclui bem público - que constranger o ato da amamentação em suas instalações. Quem descumprir a norma está sujeito a multa de R$ 500 e, em caso de reincidência, o valor é R$ 1000,00.
Pesquisa de 2015 mostra que a maioria das brasileiras (55%) acha perfeitamente natural amamentar em público; 22% considera inevitável, 21% constrangedor e apenas 2% acha errado. O estudo conduzido pela Lansinoh foi realizado com 13.169 mães e gestantes em nove países no primeiro semestre de 2014 e. No Brasil, foram entrevistadas 2 mil pessoas.
Cecília Reis Aquino, 25 anos, é mãe de Enrico, de 7 meses, e participou do ensaio conduzido por Alexandre Périgo. O garotinho mamou exclusivamente até os 4 meses de vida.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde (MS) recomendam que até os seis meses os bebês só se alimentem de leite materno, não precisa sequer de água. No entanto, a falta de apoio e investimento na saúde das novas gerações ainda não é uma causa abraçada por todos os setores da sociedade. Na iniciativa privada, só tem direito à licença-maternidade de 6 meses as mulheres que trabalham em instituições que aderiram ao programa do governo federal intitulado ‘Empresa Cidadã’.
A mãe de Enrico diz que quis participar do projeto porque considera o tema importante. “Amamentar é alimentar. Não é nada mais que isso”, declara.
Thayne Lima, 26 anos, é mãe de Valentina, 1 ano, e de Sofia, 3 anos. A mais velha largou o peito 15 dias antes de a irmã chegar à família.
Mesmo diante de vários estudos que atestam os benefícios do leite materno até os 2 anos (ou mais) para meninos e meninas, a taxa de adesão ao aleitamento ainda é pequena no país. Dados divulgados recentemente pelo Ministério da Saúde revelam que 61% das crianças brasileiras não são amamentadas exclusivamente até o sexto mês.
O leite materno contém todos os nutrientes essenciais para o crescimento e o desenvolvimento das crianças. Além disso, reduz a mortalidade infantil, diminuiu os riscos de alergia, evita infecção respiratória, diminui o risco de hipertensão, colesterol alto e diabetes, reduz a chance de obesidade, tem efeito positivo na inteligência, promove o vínculo afetivo entre mãe e filho.
Por tudo isso, constranger uma mãe que nutre seu filho é contribuir para o desmame precoce já que a amamentação não é um mar de rosas e exige uma dedicação intensa da mulher. “O objetivo desse ensaio é atacar a sexualização, o preconceito, o conservadorismo e o machismo que envolvem a amamentação em público”, afirma Périgo.
A cantora e atriz Paola Alves é esposa de Alexandre Périgo e foi quem protagonizou o ensaio de lingerie. Além de participar da concepção do novo trabalho junto com o marido, foi uma das mulheres fotografadas no ensaio sobre amamentação em público. Leonardo, 10 meses, mama em livre demanda e sua mãe espera que as fotos estimulem o diálogo e minem o preconceito.
Paola e Alexandre preparam agora um terceiro projeto que vai discutir identidade de gênero. “Vou vestir o Leo de bailarina e quero fotografar crianças com brinquedos invertidos”, planeja Périgo. .