Pensando nelas, e nessa rotina corrida, vários serviços de saúde vêm desenvolvendo núcleos e programas personalizados para a realização de exames e cuidados femininos, com a formatação de uma avaliação abrangente, individualizada e personalizada para alcançar os objetivos finais, que são a melhoria da qualidade de vida da mulher: o chamado checape feminino. Segundo Carla Tavares, coordenadora do Checape da Rede Mater Dei de Saúde, responsável pela cardiologia do esporte do hospital e médica do Departamento de Medicina Esportiva do Minas Tênis Clube, os cuidados com a saúde ao longo da vida e a prevenção são a melhor forma de obter boas perspectivas de uma existência saudável e longeva.
O checape é baseado em uma boa avaliação médica, com obtenção de escores de risco específicos, quando se calcula a estimativa de risco cardiovascular, assim como a pesquisa de informações relevantes relacionadas aos hábitos de vida, antecedentes de saúde física e mental, características individuais, histórico de doenças na família, além de características ambientais e até profissionais. Um exame físico completo e orientações quanto à prevenção de doenças como o câncer – principalmente os ginecológicos e de intestino, mais frequentes no sexo feminino, também são fundamentais.
“A partir daí, levando-se ainda em consideração a faixa etária, podem ser solicitados exames complementares. Além disso, para cada grupo de doenças existem recomendações específicas para início do rastreamento que devem ser levadas em conta para a solicitação desses exames e avaliações especializadas”, explica Carla.
Marcela Teixeira Costa Godinho, de 33 anos, descobriu o checape feminino em uma pesquisa na internet e decidiu experimentar. “Faço exames todos os anos, mas por conta própria, consultando vários médicos.
Para a especialista, o mais importante no checape não é a quantidade de exames ou de especialistas pelo qual a mulher vai passar, mas sim a qualidade da atenção à saúde e a investigação personalizada de doenças e fatores de risco. Algumas avaliações são indicadas de acordo com a faixa etária (veja infografia), mas exames complementares devem ser individualizados, de acordo com os fatores de risco pessoais e familiares de cada um. A mulher também precisa ficar atenta ao calendário de vacinas determinado pela Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim).
E os cuidados com a saúde e a prevenção de doenças devem começar bem cedo. A recomendação é que as primeiras avaliações da mulher sejam feitas a partir da primeira menstruação. Portanto, uma consulta ginecológica para orientações em relação à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e cuidados relacionados à contracepção, bem como para prevenção do câncer de mama e de colo de útero, são necessários a partir desse momento.
“Independentemente da avaliação ginecológica, temos que pensar na mulher como um todo e uma boa avaliação preventiva é sempre mais efetiva quando são investigadas as doenças mais prevalentes numa determinada população. Portanto, o clínico ou o pediatra continuam sendo de extrema importância”, defende a médica.
• Papel fundamental na saúde feminina
Em artigo, os alunos da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais Gabriela Mendonça, Gabriela Mendes, Gustavo Henrique Lourenço, Luísa Schumacher e Luiz Rugero, coordenados pelos professores do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia Eduardo Batista Cândido e Agnaldo Lopes Silva-Filho, reuniram as recomendações das principais sociedades médicas no que diz respeito ao rastreio de doenças e cuidados básicos na saúde da mulher com o objetivo de facilitar e ampliar a abordagem prática do ginecologista em seu consultório, de forma que a mulher seja avaliada de uma maneira mais completa.
É crescente o número daquelas atingidas por doenças como hipertensão, diabetes, osteoporose e cânceres de mama e cólon. O ginecologista, muitas vezes, é a única referência de saúde dessas pacientes e segundo Agnaldo Lopes, também presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia de Minas Gerais (Sogimig), tal profissional deve ter uma visão holística da mulher, sendo capaz de abordar sua paciente globalmente, não visando somente aos aspectos ginecológicos e obstétricos.
“Temos o privilégio de acompanhá-las em diferentes fases da vida. Elas chegam para as primeiras orientações assim que têm a primeira menstruação, passam por nós para a escolha do método contraceptivo, somos seus obstetras quando optam pela maternidade, e lá na frente cuidamos da reposição hormonal”, reflete o professor.
FALTA PADRONIZAÇÃO
O problema é a falta de padronização e unificação para rastreios das principais doenças que afetam as mulheres brasileiras, o que dificulta essa abordagem mais global. “O ginecologista é uma figura de extrema importância na vida das mulheres. Por esse motivo, ele deve estar apto a rastrear as principais doenças ou condições a que está sujeita a sua paciente em cada faixa etária, além de indicar as vacinas apropriadas a cada uma delas.
De acordo com Sociedade Brasileira de Imunização (SBIM) mulheres de 20 a 59 anos devem receber as seguintes vacinas:
Hepatite B: esquema 0-1-6 meses caso nunca tenho sido vacinada ou tenha recebido esquema incompleto. Está disponível no sistema público e é recomendada também para as gestantes.
Hepatite A: não encontrada no sistema público, deve ser recebida em duas doses com esquema de 0-6 meses.
Tríplice bacteriana do tipo adulto (difteria, tétano e coqueluche): se o esquema básico contra o tétano estiver completo a mulher deve receber um reforço a cada 10 anos. Se esquema estiver incompleto deve ser fornecida uma dose de dTpa e completar a vacinação com uma ou duas doses de dT de a forma a totalizar três doses de vacina contendo o componente tetânico. Gestantes devem receber sempre dTpa . A vacina é fornecida pelo Sistema Público.
Varicela: Para as mulheres suscetíveis, duas doses com intervalo de um a dois meses. A vacina, no entanto é contraindicada para as gestantes e não é fornecida para adultos no Sistema Público.
Influenza: dose única anual. Fornecida pelo Sistema Público, porém só para grupos de riscos como idosas e gestantes.
Febre amarela: Uma dose para residentes ou viajantes para áreas de vacinação. Se persistir risco deve ser fornecido reforço a cada 10 anos. É preciso que se vacine pelo menos 10 dias antes da viagem.
Meningocócica conjugada ACWY: Considerar uso avaliando situação epidemiológica. Uma dose. Não fornecida à mulheres pelo Sistema Público.
Meningocócica B: Duas doses com intervalo de um mês. Considerar uso de acordo com situação epidemiológica, também não fornecida pelo Sistema Público.
Pneumocócicas: Esquema sequencial de VPC13 e VPP23 é recomendada para mulheres de 60 anos ou mais, porém não é fornecida pelo Sistema Público.
Herpes zoster: para mulheres com 60 anos ou mais em dose única, não fornecida pelo Sistema Público (20).
*Para meninas de 9 a 13 anos 11 meses e 29 dias é fornecido pelo Sistema Público a vacina contra o HPV que deve ser tomada em duas doses no esquema 0-6 meses..