Os estudiosos ficaram instigados com uma pesquisa que mostrou redução da pressão arterial em pessoas que consumiam leite fermentado. Eles perceberam que esse tema havia sido pouco explorado e, para conseguir mais dados, escolheram investigar um alimento semelhante. “Em termos de evidência observacional, queríamos ver os efeitos, a longo prazo, do consumo habitual do iogurte e o risco de pressão alta”, explicou ao Correio Justin Buendia, um dos autores do trabalho e pesquisador da Universidade de Boston.
Durante 12 anos, a equipe analisou 142.740 mulheres — enfermeiras dos hospitais em que o estudo foi feito — com 25 a 55 anos e um grupo de 30.230 homens com 40 a 75 anos. Ao decorrer da pesquisa, notaram que as mulheres que consumiam cinco ou mais porções de iogurte por semana, em comparação àquelas que ingeriam apenas uma por mês, apresentaram redução de 20% no risco de ter hipertensão. O mesmo benefício não foi constatado nos homens integrantes do estudo.
Outro ponto observado foi a alimentação de todos os participantes.
Esse lactobacilo inibe as enzimas de conversão da angiotensina — substância química presente no organismo que contrai os vasos sanguíneos. Como efeito, ele ajuda o sangue a fluir com mais facilidade pelos vasos, impedindo a agregação de plaquetas e a formação de coágulos, e, consequentemente, a pressão alta. “Nenhuma comida é ‘mágica’, mas mostramos que seria interessante acrescentar iogurte a uma dieta saudável. Isso parece ajudar a reduzir o risco, a longo prazo, da pressão arterial elevada em mulheres, que é um fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardíacas e derrames”, destacou Buendia.
Até emagrece
Patricia Rueda, cardiologista do Hospital do Coração, em Brasília, acredita que a pesquisa norte-americana explora um tema conhecido na área médica, mas aborda dados que trazem mais validade ao valor protetivo dos laticínios. “O que esses pesquisadores mostraram é algo que tem sido falado desde 2011: que os derivados do leite podem ser aliados do coração tanto para a hipertensão quanto para para a diminuição do colesterol e o emagrecimento”, diz.
Rueda aponta alguns fatores que podem estar por trás do benefício. Um deles está relacionado aos hábitos alimentares. Segundo a médica, as pessoas que ingerem mais iogurtes geralmente seguem uma dieta balanceada. “Mas a explicação também pode estar nos benefícios dos lactobacilos para a microbiota. Além disso, os alimentos lácteos são muito ricos em nutrientes, como magnésio, potássio e cálcio, que podem causar essa proteção à saúde cardiovascular”, complementou.
A cardiologista destaca ainda que o estudo norte-americano reforça a importância de medidas já sugeridas por especialistas na área médica. “Existe uma recomendação para que se ingira pelo menos cinco porções de laticínios na semana.
Apesar dos resultados positivos, os cientistas adiantam que outros trabalhos são necessários para dar mais validade à pesquisa e também desvendar por que o efeito se deu apenas em mulheres. A equipe pretende estudar subgrupos distintos, como afro-americanos, que têm risco maior de hipertensão, e tipos diferentes de iogurte. “Seria interessante ver se os iogurtes populares, como o grego, têm efeito diferente do normal”, destacou Buendia.
“O trabalho mostra-se interessante por estar relacionado com uma grande amostra da população. Porém, ainda é necessário estudo com maior controle de variáveis. A conclusão do artigo mostra que os pesquisadores não sabiam o tipo de iogurte consumido pelos indivíduos. Vale lembrar que temos no mercado iogurtes e bebidas lácteas que são produtos diferentes e comumente confundidos pela população. Sempre destaco que é importante ler o rótulo de todos os produtos, observando a lista de ingredientes para verificar se foram adicionados açúcares, conservantes, corantes, adoçantes etc. É importante ressaltar que dá para fazer iogurte em casa, o que torna essa opção bem mais saudável”.
Camila Biete de Oliveira, nutricionista.