As bactérias Staphylococcus aureus, vulgarmente chamadas de estafilococo, foram identificadas em 1880 como causadoras de infecções dolorosas da pele, cujos sintomas incluíam o amolecimento de tecidos e furúnculos. Nos casos mais graves, causavam pneumonia e infecções que podiam ser fatais. Apenas em 1940, a medicina passou a contar com um tratamento eficaz contra o micro-organismo, mas o uso indiscriminado e excessivo da droga favoreceu uma seleção de bactérias imunes não só à penicilina, mas também à meticilina, outro tipo de antibiótico.
Essa estirpe super-resistente, que recebeu o nome de MRSA (sigla em inglês para Staphylococcus aureus resistente à meticilina), virou um problema global. Hoje, ela é a segunda principal causa de morte por infecções bacterianas resistentes nos Estados Unidos, e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), indivíduos infectados pela MRSA têm 64% mais chances de morrer do que aqueles afetados por micro-organismos vulneráveis aos efeitos dos antibióticos.
Estudo publicado na revista Science Translational Medicine por cientistas dos Laboratórios de Pesquisa Merck, nos EUA, apresenta uma alternativa para tratar o mal: tarocin A e tarocin B, dois componentes químicos que restabelecem a eficiência dos antibióticos beta-lactâmicos, classe da qual fazem parte a penicilina e a meticilina.
Na primeira etapa da pesquisa, a equipe liderada por Terry Roemer fez uma triagem de substâncias que bloqueiam a enzima bacteriana responsável por desencadear a produção de ácido teicoico, componente da estrutura do micro-organismo que promove resistência à ação dos medicamentos, chegando aos dois compostos sintéticos
Os cientistas testaram, então, os tarocins em culturas de bactérias. Nenhum dos dois teve efeitos sobre o crescimento de MRSA em cultura, revelando-se ineficientes quando administrados sozinhos. No entanto, experimentos com ratos infectados com a bactéria mostraram que a combinação dos compostos com antibióticos beta-lactâmicos foi capaz de eliminar várias estirpes resistentes da bactéria, impedindo a morte dos animais.
“A identificação e a caracterização de tarocins demonstram que encontrar novos alvos e inibidores capazes de restaurar a suscetibilidade da MRSA e da MRSE (Staphylococcus epidermidis resistente à meticilina) aos antibióticos beta-lactâmicos poderia ser uma estratégia para combater a resistência de bactérias gram-positivas. Os tarocins redefinem a suscetibilidade de estafilococos à meticilina, antagonizando os múltiplos aspectos da biossíntese da parede celular, o que compromete a força física da bactéria”, explica Roemer.
Alternativas Considerando que o desenvolvimento de um novo antibiótico pode levar uma década – desde a pesquisa básica até sua chegada ao mercado –, Celso Vataru Nakamura, coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no Paraná, considera valiosos os achados da pesquisa de Roemer. Grande parte dos novos estudos busca formas de enfraquecer a estrutura que as bactérias desenvolveram para degradar os antibióticos e se manterem blindadas dos tratamentos.
Existe a chance de as bactérias ficarem resistentes à combinação de tarocins e antibióticos, mas os autores consideram a possibilidade remota, devido a particularidades do composto e da constituição genética da bactéria. No estudo, por exemplo, não foi detectada nenhuma colônia de bactérias resistentes ao novo tratamento.
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Estudo publicado na revista Science Translational Medicine por cientistas dos Laboratórios de Pesquisa Merck, nos EUA, apresenta uma alternativa para tratar o mal: tarocin A e tarocin B, dois componentes químicos que restabelecem a eficiência dos antibióticos beta-lactâmicos, classe da qual fazem parte a penicilina e a meticilina.
Na primeira etapa da pesquisa, a equipe liderada por Terry Roemer fez uma triagem de substâncias que bloqueiam a enzima bacteriana responsável por desencadear a produção de ácido teicoico, componente da estrutura do micro-organismo que promove resistência à ação dos medicamentos, chegando aos dois compostos sintéticos
Os cientistas testaram, então, os tarocins em culturas de bactérias. Nenhum dos dois teve efeitos sobre o crescimento de MRSA em cultura, revelando-se ineficientes quando administrados sozinhos. No entanto, experimentos com ratos infectados com a bactéria mostraram que a combinação dos compostos com antibióticos beta-lactâmicos foi capaz de eliminar várias estirpes resistentes da bactéria, impedindo a morte dos animais.
“A identificação e a caracterização de tarocins demonstram que encontrar novos alvos e inibidores capazes de restaurar a suscetibilidade da MRSA e da MRSE (Staphylococcus epidermidis resistente à meticilina) aos antibióticos beta-lactâmicos poderia ser uma estratégia para combater a resistência de bactérias gram-positivas. Os tarocins redefinem a suscetibilidade de estafilococos à meticilina, antagonizando os múltiplos aspectos da biossíntese da parede celular, o que compromete a força física da bactéria”, explica Roemer.
Alternativas Considerando que o desenvolvimento de um novo antibiótico pode levar uma década – desde a pesquisa básica até sua chegada ao mercado –, Celso Vataru Nakamura, coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no Paraná, considera valiosos os achados da pesquisa de Roemer. Grande parte dos novos estudos busca formas de enfraquecer a estrutura que as bactérias desenvolveram para degradar os antibióticos e se manterem blindadas dos tratamentos.
Existe a chance de as bactérias ficarem resistentes à combinação de tarocins e antibióticos, mas os autores consideram a possibilidade remota, devido a particularidades do composto e da constituição genética da bactéria. No estudo, por exemplo, não foi detectada nenhuma colônia de bactérias resistentes ao novo tratamento.