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Durante a vida fértil, uma mulher usa entre 10 e 15 mil absorventes. Como não são biodegradáveis, demoram em média cem anos para se decompor na natureza. Além da questão ecológica, o coletor menstrual tem se consolidado entre as mulheres como uma ferramenta para o autoconhecimento já que estimula o toque ao próprio corpo, além de romper barreiras culturais em relação à repulsa da menstruação e a noção da vagina como algo sujo. “Para algumas mulheres é uma questão ideológica, da importância em ‘fazer a sua parte’ na preservação ambiental. Para outras, é uma forma de se reconectar com o feminino. A cultura judaico-cristã enxerga a menstruação como algo sujo e que ela vem para purificar e limpar o organismo. Mas sangue não é sujeira e menstruação é sinal de saúde”, afirma a sexóloga e ginecologista da Afeto Clínica Médica e presidente do Comitê de Sexologia da Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Stany de Paula.
A especialista afirma que muitas mulheres tocam suas vaginas pela primeira vez com o uso do coletor menstrual. “É como se a vagina não as pertencesse, mas toda mulher deve conhecer seu corpo”, afirma Stany de Paula. A ginecologista e obstetra Erica Mantelli concorda: “Muitas mulheres se ‘esquecem’ que têm vagina, mas o autoconhecimento influencia na sexualidade e é fundamental para uma boa experiência sexual”, diz.
Apesar de cada vez mais difundido entre as mulheres, o coletor menstrual ainda não é um assunto recorrente nas consultas com os ginecologistas, alguns profissionais sequer conhecem o objeto. Em busca de informações e chance para esclarecer dúvidas que porventura apareçam, muitos grupos têm se organizado na internet para preencher essa lacuna. “O ideal seria termos mais ginecologistas que conhecessem o coletor, pois eles poderiam avaliar e orientar as pacientes caso a caso. Como a maioria ainda não conhece, não indica nunca, então as mulheres acabam vindo ao Facebook para tirar esse tipo de dúvida”, afirma a jornalista Joyce Copstein que é uma das administradoras do grupo ‘Coletores Brasil - Menstrual Cups’, com quase 60 mil membros.
No Brasil, o preço médio do coletor menstrual é R$ 80 e a maneira mais simples de comprá-lo é pela internet. As marcas geralmente oferecem dois modelos e a indicação leva em conta a idade da mulher e se ela já teve filhos ou não: o modelo menor é para quem tem menos de 30 anos e não tem filhos e o maior para quem tem acima de 30 e/ou já teve filhos. Para evitar vazamentos, é importante escolher o tamanho adequado.
Ginecologista do Hospital Biocor, Liana David explica que essa recomendação leva em conta a tonicidade do assoalho pélvico. Apesar de não ser uma definição exata, é comum que, com o passar dos anos e com a gestação, esse grupo muscular perder força. “O tamanho vai interferir no conforto. O coletor menstrual tem que preencher toda a parede vaginal para vedar a passagem do sangue”, explica.
Joyce Copstein afirma que o principal receio das mulheres em relação ao tamanho é que o coletor menstrual fique grande. “Muitas mulheres acreditam que têm a vagina pequena. Na verdade, a musculatura da região é elástica e o coletor não é tão grande assim. Ele foi projetado para caber dentro de uma vagina, então confiar nas instruções do fabricante costuma ser um bom passo”, reforça.
A quantidade de sangue que cabe no copinho tem pequenas variações de uma marca para outra, de 20 a 30ml. O interessante é que muitas mulheres que sempre acreditaram ter um fluxo intenso descobrem, com o uso do coletor menstrual, que o volume de sangue é, na verdade, moderado. Erica Mantelli lembra que se uma mulher tem a necessidade de trocar o absorvente antes de duas horas é preciso procurar um médico para descartar doenças que estão relacionadas ao aumento do fluxo menstrual.
Cada marca estipula o tempo máximo que uma mulher pode ficar com o coletor e varia entre 8h e 12h. Para quem realmente tem fluxo intenso, o intervalo para esvaziar o copinho será menor e a mulher terá que descobrir tentando. Uma dica é, no início, usar um absorvente externo junto para evitar vazamento. A ginecologista Liana David afirma que não tem problema nenhum a mulher dormir com o coletor menstrual.
A presidente do Comitê de Sexologia da Sogimig, Stany de Paula, indica o coletor menstrual para as mulheres que têm alergia a absorventes, ardor vaginal e irritação vulvar. Para ela, a experiência pode ser tão positiva que, por favorecer o autoconhecimento, a especialista recomenda o coletor para as mulheres com vaginismo, que é a contração involuntária da musculatura vaginal que impede a penetração.
Outro ponto positivo é que o coletor menstrual diminuiria a incidência de candidíase e infecção urinária. Erica Mantelli explica que, apesar de não existirem estudos que comprovem essa relação, é comum esse tipo de relato de pacientes. “Como o sangue fica preso no copinho dificilmente o pH da vagina teria alguma alteração e é justamente essa alteração de pH que propicia o ambiente para microorganismos”, explica.
Liana David reforça ainda que, ao contrário dos absorventes internos, o silicone - do qual é feito o coletor menstrual - é um produto inerte. Em relação aos absorventes externos, a especialista diz que o contato da uretra com o absorvente sujo pode favorecer uma infecção urinária e também as dermatites. “Muitas vezes a dermatite é confundida com a candidíase por também provocar prurido em razão do contato da pele com o sangue do absorvente”, diz.
Alguns mitos rondam o coletor menstrual como o de que ele “alargaria” a vagina. Mantelli esclarece que o órgão tem a capacidade de contrair e aumentar e sempre volta ao tamanho original. A ginecologista afirma também que mulheres com DIU podem usar coletor menstrual. Em relação àquelas que ainda não tiveram relação sexual com penetração, é importante dizer que o coletor menstrual pode romper o hímen. Para a mulher que atrela o conceito de virgindade à membrana himenal intacta, o copinho não seria indicado.
Stany de Paula afirma que o coletor não deve ser usado por mulheres com malformações na vagina e também no pós-parto, independentemente se foi parto normal ou cesariana.
Dicas
Algumas mulheres podem ter dificuldade em se adaptar ao coletor menstrual. Há quem ache ser difícil inserí-lo ou retirá-lo e também quem relate um incômodo com o uso do copinho. Nesse caso, é importante certificar-se primeiro de que ele foi colocado corretamente porque a sensação de conforto é uma premissa e ele deve ser imperceptível.
Uma dica bem difundida entre as adeptas mais experientes é cortar um pouco a haste do coletor menstrual, que é o que normalmente gera esse desconforto. A expectativa é que, em três ciclos, todos esses poréns sejam superados.
Se mesmo assim, não for fácil para você, não desista antes de procurar ajuda. A maioria das marcas de coletores tem tutoriais no Youtube com vídeos que ilustram como colocar, retirar e certificar-se de que o copinho está bem colocado. No Facebook, existem vários grupos dedicados exclusivamente ao assunto em que as mulheres ajudam umas às outras com as suas dúvidas.
Como colocar
Ao contrário do absorvente interno, que deve ser empurrado para o fundo da vagina, o coletor menstrual fica bem na entrada. O primeiro passo é encontrar uma posição confortável. Não existe regra, pode ser em pé, agachada ou sentada no vaso sanitário. Depois, dobre o copinho e insira. Existem vários tipos de dobra, uma bem conhecida é a em formato de letra ‘C’, mas cada mulher tem a sua preferência.
Para que não ocorra nenhum vazamento, encontre a base do coletor, passe o dedo em toda a sua superfície e certifique-se de que ele não está dobrado.
Como retirar
Para retirar, puxe o coletor pela base. A dica é pressionar um pouco a base para facilitar a entrada de ar e evitar a formação de vácuo. Em seguida, é só puxar. O sangue que está dentro do copinho não vai vazar. Esvazie o coletor no vaso sanitário e lave a peça com água e sabão neutro.
Como higienizar
O silicone facilita a higienização. Durante o ciclo, lave o coletor menstrual com água e sabão neutro (para não danificar o silicone) depois de esvazia-lo e enxague-o bem. Ao final de cada ciclo, é recomendado que a peça seja fervida. Siga as orientações específicas do manual do seu coletor.
Nenhuma marca de coletor menstrual tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Isso por que ainda não existe um regulamento sanitário para os coletores menstruais. A Anvisa afirma, no entanto, que uma comissão já foi definida para discutir esse tema. A partir da definição das regras, as marcas passarão a ter necessidade de registro na agência reguladora.