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Diversão sem apego

Aluguel de brinquedos pode ser uma boa opção para pais e filhos

Não importa se é alugado ou comprado, brinquedo não pode funcionar como barganha

Renata Rusky
Naiara Antonelli e Rafael: a cadeirinha de balanço é alugada, assim como serão os brinquedos do bebê - Foto: Zuleika de Souza/CB/D.A Press
Quem tem filho sabe que a quantidade de roupas, sapatos e brinquedos deles aumenta de forma exponencial ao longo do tempo. São os pais que, às vezes, não resistem a comprar mais alguma peça fofa; os amigos e parentes que enchem os pequenos de presentes; e, claro, as crianças que estão pedindo sempre mais. Somado a isso, elas crescem muito rápido — as roupas se “perdem” e os interesses mudam. Muitos brinquedos com pouco uso acabam abandonados — alguns deles bem caros. Vira um problema financeiro e também de espaço.

Estamos acostumados com a possibilidade de alugar peças grandes, como camas elásticas e pula-pulas, mas é possível também alugar miudezas. A empresária Juliana Fernandes conta que entrou no ramo com base na própria experiência materna. “Com meu primeiro filho, eu passei por todo esse processo de acumulação. No segundo, eu queria fazer diferente”, relata.
Incomodada com o consumismo desenfreado e interessada em abrir uma empresa, a ideia lhe pareceu perfeita. Na época da primeira gestação, temas como consumo sustentável ainda não estavam em alta.

A gerente administrativa Naiara Antonelli, 29 anos, tem um bebê de 2 meses e meio, o Rafael. Desde já, ela toma algumas medidas para evitar o excesso de coisas. O enxoval do pequeno foi enxuto e ela compra roupas para ele na medida em que cresce e precisa. Nada caro, garante. Quanto aos brinquedos, todos foram presentes. Ainda assim, são muitos e ele ainda não consegue aproveitar a maioria deles. Naiara pretende educar Rafael para não ser tão apegado a coisas materiais. Para isso, uma das estratégias vai ser a doação de um brinquedo antigo a cada novo recebido. “Meus pais faziam isso comigo, eu tento fazer isso com as minhas roupas, então, quero criá-lo assim”, esclarece. Outra alternativa interessante que Naiara encontrou foi justamente o aluguel de peças.

Como Rafael ainda é muito novinho, costuma ficar deitado ou no colo. Para oferecer uma nova opção, Naiara resolveu alugar uma cadeirinha de balanço. Nova, ela custaria cerca de R$ 500.
Já o aluguel fica R$ 70 por mês. Logo, Rafael estará mais pesado e a cadeirinha só aguenta até 12kg — além disso, ele conseguirá se sentar sozinho. Por isso, vale mesmo a pena alugar. Fica econômico e é sustentável. Os brinquedos são usados até o fim, gerando pouco lixo.

Professora do UniCeub e coordenadora do projeto Escola de Pais, a doutora em psicologia Michela Ribeiro deixa claro que a compra de um brinquedo ou o aluguel dele não pode funcionar como barganha, mas como uma conquista da criança. “A diferença está na ideia de chantagem que uma tem e na ideia de recompensa por tarefas cumpridas da outra. A chantagem envolve ameaças”, diferencia.

Se, em relação aos filhos, o objetivo de alugar brinquedos é fazê-los terem uma quantidade menor de coisas, Michela considera a atitude válida. “Quando a disponibilidade de brinquedos é exagerada, há estímulos simultâneos demais e o objeto perde o valor com rapidez.” A longo prazo, fica mais difícil conquistar o interesse da criança, e ela tende a se tornar um adulto apático.

Há um aspecto do aluguel que a especialista vê com reservas. “Quando se aluga um apartamento ou um carro, há restrições. Mas é importante que as crianças tenham certa liberdade com os brinquedos.
Ao mesmo tempo que elas devem aprender a cuidar deles, faz parte da experiência colocar na boca, deixar cair, principalmente no caso das menores”, explica. Todavia, o acesso a uma diversidade maior de brinquedos é um ponto considerado positivo, assim como aprender a lidar com a frustração na hora de devolver. “Na vida adulta, as coisas não são pra sempre e é bom a criança aprender que aquele brinquedo tem uma finitude e haverá outros”, conclui..