Os pesquisadores conseguiram criar espermatozoides de ratos a partir de células-tronco embrionárias dos animais. Pela primeira vez, o grupo de especialistas comprovou que as estruturas iniciais passaram, no laboratório, pelas mesmas fases de transformação que acontecem naturalmente até a geração dos gametas (células sexuais maduras) masculinos. Além disso, foi possível comprovar a funcionalidade dos espermatozoides ao usá-los para fertilizar ratas, que deram à luz filhotes que se mostraram saudáveis e férteis. Os resultados foram publicados na revista Cell Stem Cell.
Os autores do estudo explicam que uma das causas principais da inabilidade de reprodução masculina é a incapacidade de células germinais passarem por um tipo de divisão celular chamado meiose, processo pelo qual os espermatozoides são gerados. Por causa dessa dificuldade, os cientistas têm voltado a atenção para essa falha, buscando recriá-la em laboratório. “Reproduzir o desenvolvimento de células germinativas in vitro tem sido um dos objetivos centrais na biologia e na medicina reprodutivas”, afirma, em um comunicado à imprensa, Jiahao Sha, coautor do estudo e pesquisador da Universidade Médica de Nanjing, na China.
Segundo os responsáveis pelo trabalho, o maior desafio para criar gametas em laboratório era repetir os processos essenciais da meiose, justamente o que eles conseguiram com o novo método.
O desafio final era comprovar que as estruturas criadas eram funcionais. Os cientistas, então, as usaram para fertilizar óvulos e, depois, transferiram os embriões para ratas. Eles se desenvolveram normalmente, e filhotes saudáveis e férteis nasceram da experiência.
Promessa
“Nosso método cumpre completamente os padrões recentemente propostos consensualmente por um painel de biólogos reprodutivos. Por isso, acreditamos que ele representa uma tremenda promessa para o tratamento da infertilidade masculina”, afirma Jiahao. O que o cientista e equipe imaginam que possa ser possível um dia é o uso de células-troncos de um homem que não produz espermatozoides para criá-los em, preservando o mesmo código genético.
Para Frederico Correa, ginecologista especializado em reprodução do Hospital Santa Luzia (Brasília), o trabalho traz esperanças de um tratamento para homens que não podem ter filhos, podendo ajudar também as mulheres inférteis, caso a metodologia se mostre eficaz também para a produção de óvulos. “Hoje, na reprodução, uma das maiores dificuldades é a questão do gameta, tanto para o homem quanto para a mulher, que, com a chegada da idade, por volta dos 40, não consegue produzir óvulos. Essa técnica também poderia ser uma saída para esse problema. O processo de reprodução da meiose é algo difícil, mas que, se for decifrado, pode trazer esses ganhos para a área”, avalia o especialista, que não participou do estudo.
Até que o método passe a beneficiar humanos, contudo, muitos estudos deverão ser feitos. Antes de testes com pessoas, o grupo precisará replicar a técnica em animais maiores, como primatas, avaliando também sua segurança. Outra preocupação dos pesquisadores chineses diz respeito a questões éticas relacionadas à manipulação das células-tronco.
De acordo com Correa, de fato, a questão deverá ser debatida em algum momento. “Caso os testes evoluam para humanos, os cientistas também terão que criar embriões em laboratórios.