As cirurgias de transplante dentário ou intervenções ortopédicas que dependem de substituição óssea podem ficar mais baratas em alguns anos por causa de uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os estudos no Departamento de Química levaram à produção de um material de biovidro composto de sílica, fósforo e cálcio, que surge como alternativa para a regeneração de ossos humanos danificados. O material ainda precisa passar por avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, para que isso ocorra, é preciso encontrar investidores interessados em montar ou oferecer um laboratório para fabricar a fórmula. Segundo a coordenadora da pesquisa, professora Rosana Domingues, a expectativa é que, depois do investimento feito, que será na casa dos milhões, o produto seja comercializado em um ano e meio.
O biomaterial tem a capacidade de fazer a regeneração óssea, sobretudo em locais menores, como os dentes e ossos dentro do ouvido. “Pacientes que tiverem um dente arrancado e demoram a colocar o implante têm uma perda óssea gradativa no local e não conseguem ter um osso de qualidade boa para ser perfurado por um parafuso. Falta sustentação e vêm os problemas de inflamação, por isso o material deve ser usado”, explica a professora. Usualmente, é feito um enxerto, mas neste caso, segundo Rosana, é preciso fazer duas cirurgias, pois é retirado um osso de outra parte do corpo do paciente para fazer o preenchimento.
Nos casos de fraturas em que algum osso foi deteriorado ou nas doenças de degeneração, como um câncer de face, por exemplo, o tratamento também poderia ser feito com esse material, que é colocado na falha óssea. Em alguns meses, o local é regenerado.
O substituto ósseo desenvolvido é um material vítreo, apresentado em pó ou grânulos. Pode ser aplicado também no tratamento de lesões na boca e, para crianças, na higiene bucal. De acordo com a coordenadora das pesquisas, os testes não demonstraram efeitos colaterais no organismo. O produto favorece processos de osteoindução e osteocondução – no local em que é implantado, é construído o caminho para o osso crescer novamente.
Rosana Domingues fez doutorado nos Estados Unidos, onde o produto já era usado para reposição de peças ósseas dentro do ouvido. No Brasil, ela aprimorou a fórmula no trabalho que envolveu alunos da UFMG e chegou a uma síntese produzida quimicamente em temperaturas mais baixas, o que acelera a operação e reduz o gasto de energia. Até então, o produto era feito a 1.600 graus. Segundo Rosana, o processo é mais barato. “Isso faz com que nosso material tenha características especiais e um desempenho melhor do que os outros do mercado. Ele pode ter a introdução de fármacos. Com isso, um paciente que fizer um implante e teria de tomar antibióticos ou anti-inflamatórios terá a liberação do remédio localmente, enquanto o material vai se tornando osso”, diz. No processo tradicional, a associação não é possível porque as altas temperaturas degeneram os fármacos.
CIRURGIAS MAIS BARATAS
A professora acredita que o produto desenvolvido em Minas vá deixar as cirurgias mais baratas. “É provável que isso ocorra porque o tempo de regeneração em relação a outros materiais usados no Brasil é bem melhor e ele tem qualidade maior.
A descoberta mineira, cujas pesquisas começaram em 2002, foi apresentada no ano passado na mostra Minas Inova, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), que contribuiu com R$ 30 mil no financiamento dos estudos. Outra patrocinadora foi a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que contribuiu com R$ 120 mil. O projeto foi o vencedor do Desafio Brasil de 2011, prêmio promovido pela Intel e coordenado, no Brasil, pela Fundação Getulio Vargas, e, por isso, ganhou R$ 67 mil. O substituto ósseo mineiro ficou em primeiro lugar no país, vencendo projetos de todos os estados, e representou o Brasil na premiação promovida nos Estados Unidos.
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