Teoricamente, não era para ser difícil emagrecer: bastaria consumir menos calorias do que o organismo é capaz de queimar. O problema é que insistimos em copiar a dieta que deu supercerto para a amiga. Ou voltar àquele plano alimentar que funcionou lá atrás, quando ainda não éramos os únicos responsáveis por preparar nossas refeições. Há muito o que considerar na hora de decidir como perder o peso que tanto incomoda.
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A proposta é fazer as pessoas escolherem uma dieta não porque ela está na moda, mas sim porque combina com seus hábitos de vida, personalidade e tipo físico.
“A verdade é que a altamente lucrativa indústria de dietas prefere manter em segredo que seria possível poupar tempo, dinheiro e estresse se houvesse um método que combinasse uma determinada dieta e as particularidades de cada um de nós. A melhor dieta para você não é mais um livro de dieta”, provoca a autora. Então, antes de escolher a próxima (porque sempre tem a próxima), olhe antes para como você é.Bem-estar emocional é fundamental
Personalizar a dieta significa levar em consideração um dos pilares da ciência da nutrição: cada pessoa tem a sua necessidade energética (calórica), de macronutrientes e micronutrientes específica, e essa, uma vez estabelecida, não deve ser reproduzida aos demais indivíduos.
Cabe ao nutricionista planejar e determinar as necessidades nutricionais com base no indivíduo, ou seja, determinar a quantidade ideal de calorias a ser consumida durante o dia, como será distribuído o consumo de macro e micronutrientes, a fim de manter e reparar a saúde de cada pessoa.
Isso deve ter como princípio a presença ou ausência de patologias, idade, sexo, composição corporal, hábitos de vida, história clínica, doenças familiares, nível socioeconômico, horários de alimentação e atividade física.
Segundo a nutricionista Nathalia Sernizon Guimarães, mestre em saúde e nutrição e doutoranda em ciências da saúde: infectologia e medicina tropical, o planejamento alimentar individualizado, prescrito e acompanhado pelo nutricionista clínico é muito eficiente.
“Após o atendimento nutricional e estabelecido o equilíbrio cuidadoso de nutrientes, a reeducação alimentar tende a ser eficaz. Tende, pois depende da questão psicológica do paciente, que é o ponto-chave para o sucesso. Sabe-se que a alimentação é um dos prazeres da vida e tem relação direta com o bem-estar e a questão psicológica de cada um. A absorção de um nutriente, a produção de hormônios, a sensação de fome, a saciedade, o prazer, o gosto do alimento, isso tudo é regulado pelo sistema nervoso”, afirma.
Para Bridget Benelam, uma das principais pesquisadoras da Fundação Britânica de Nutrição, consultar um médico antes de começar também é essencial. E isso vale tanto para quem tem problemas de saúde quanto para aqueles que acreditam ter tudo sob controle. “Desequilíbrios como hipertensão arterial, colesterol alto ou hiperglicemia podem passar despercebidos e devem ser levados em consideração na hora de escolher a melhor forma de emagrecer”, comenta.
Para a especialista, dietas baseadas em proteínas, que estimulam o jejum ou um consumo muito baixo de calorias podem ser perigosas e, por isso, ter uma ideia do estado geral de saúde é importante. A engenheira civil Rossana Mara Rezende, de 45 anos, incluiu mais um profissional no suporte ao seu processo de emagrecimento: um psicólogo. Com o mais alto grau de falta de cartilagem entre os joelhos, ela precisava perder peso, já que, com o passar dos anos, o problema piora e não há opção de operação.
“Comecei com atividade física e pilates, direcionados para o meu problema, e também cuidados com a alimentação. Fiz uma remodelação em toda a minha vida”, conta Rossana. Foi nesse sentido que conhecer mais de si foi determinante para o sucesso do processo de perda de peso. “Consegui enxergar em que momento estou melhor”, explica. Mas Rossana adaptou a dieta da nutricionista aos shakes. “Nem sempre a dieta contempla nosso estilo. Por isso, fui adaptando a minha ao meu jeito de viver”, comenta.
Equilíbrio O sucesso de uma dieta depende de ser algo possível para a realidade de quem se propôs a emagrecer. Depende também de ser feita com equilíbrio dos nutrientes, para que promova saúde, e não a comprometa. E depende, muito, de um bem-estar emocional. “Pode ser a dieta que for, se não existir a motivação, a pessoa não vai conseguir. Gosto de dizer que 40% do resultado depende da dieta propriamente dita, e 60%, de a pessoa querer colocar em prática o que vai no papel”, defende a psicóloga e coach Verônica Loscha, do Instituto Mineiro de Endocrinologia. Para ela, é a parte emocional que dá sustentação para a pessoa fazer o que tem de ser feito.
É comum as pessoas começarem bem e não ter persistência de continuar ou mesmo de fazer a manutenção do emagrecimento. “Muitas ficam nesse vaivém por não conhecerem seu perfil, seu jeito de ser”, defende. Tem gente, por exemplo, que não consegue comer de três em três horas, como pregam algumas dietas. Nesse caso, é preciso personalizar a dieta a tal realidade, adotando, por exemplo, uma alimentação mais fácil nesses horários, algo possível para a pessoa. Para a especialista, esse tipo de cuidado em entender a pessoa pode colaborar para o sucesso do processo.Nem tudo é caloria
Para emagrecer com saúde, especialistas aconselham uma perda semanal entre 0,5kg a 1kg. Na prática, isso significa reduzir a ingestão calórica em cerca de 500 calorias por dia, o que equivale consumir, em média, 1,5 mil calorias por dia, para mulheres, e 2 mil, para homens. Como a perda de peso está baseada na diferença do que se consome para o que se gasta, muitas das teorias sobre o funcionamento das dietas da moda se resumem à ingestão de pouquíssimas calorias. No entanto, emagrecer de forma saudável não tem a ver apenas com calorias, mas com a qualidade da alimentação e a garantia de que os alimentos fornecem todos os nutrientes necessários à boa saúde.
Segundo Bridget Benelam, uma das principais pesquisadoras da Fundação Britânica de Nutrição, equilíbrio e variedade são fundamentais e qualquer plano de emagrecimento que proponha a exclusão de determinados alimentos ou grupos (laticínios e carboidratos, por exemplo) aumenta o risco de carência de vitaminas, minerais e fibras, o que pode acarretar distúrbios no organismo. Mas ninguém escolhe o que comer e beber apenas pelo valor nutricional e pelos possíveis benefícios à saúde. Inúmeros fatores sociais e psicológicos influenciam hábitos à mesa.
“A comida proporciona uma recompensa emocional que nos atrai. Quando somamos a isso percepções negativas em torno do excesso de peso e da obesidade em nossa sociedade, fica claro que para muitos emagrecer é um desafio tanto do ponto de vista emocional quanto físico”, alerta Bridget, segundo a qual pesquisas mostram que, daqueles que atingem a meta de emagrecimento, cerca de 80% voltam a engordar em um ano. Os maiores desafios costumam ser a sensação de fome e a restrição de alimentos. Mas as pesquisas também mostram que é possível emagrecer sem voltar a engordar.
Os bem-sucedidos nesse processo, segundo a especialista, exercitam a restrição flexível, ou seja, vigiam o que comem, mas não excluem alimentos de que gostam e não se deixam abalar por pequenos deslizes. Eles tendem a ser fisicamente ativos e não perdem tempo com hábitos sedentários, como assistir à TV. Seguem uma alimentação com pouca gordura e ingerem porções moderadas capazes de mantê-los saciados, evitando a sensação de privação. Além de desfrutar do café da manhã, mantêm um plano alimentar estruturado durante toda a semana, e monitoram o peso regularmente.
“Embora não exista uma receita de bolo a ser seguida por todos ou poção mágica para o emagrecimento, ter esses princípios em mente pode ajudar a escolher o plano mais adequado para você”, sugere Bridget. A professora Fabiane Lacerda Ribeiro Lobato, de 45 anos, emagreceu seis quilos em um mês e meio e é um exemplo de como a dieta que deu certo para ela pode não ser a melhor para a pessoa ao lado. No caso, uma amiga lhe propôs começarem o processo juntas. “Há muito tempo nós duas queríamos emagrecer. Foi quando ela contou que um amigo tinha emagrecido muitos quilos comendo até bacon no café da manhã. Achei uma loucura”, lembra.
Em julho de 2015, a amiga marcou horário em uma nutricionista para ambas. Fabiane achou que seria uma dieta “normal”, com pão integral, queijo branco... Foi quando a profissional apresentou a dieta Paleolítica, que defende que, para a saúde e bem-estar do homem moderno, ele deve comer do modo que mais se assemelhe aos seus ancestrais. Isso significa ingerir alimentos orgânicos que podem ser caçados ou pescados, como peixes, carnes de animais criados soltos, frutos do mar e miúdos, e os colhidos, como ovos, legumes, verduras, frutas, sementes e castanhas.
Está dando certo para Fabiane, mas, para a amiga, que é educadora física, ficar sem os carboidratos não funcionou. “Quando começamos, ela estava gastando muita energia e chegou a passar mal. Por isso, procurou outro tipo de dieta. Nosso estilo de vida é muito diferente, mas continuamos incentivando uma à outra”, diz Fabiane.