Diante das incertezas provocadas pela relação entre o zika vírus e a microcefalia, as mulheres se protegem como podem. Há quem use repelente e roupas compridas, mas também aquelas que decidiram partir para alternativas mais extremas, como sair do país.
O fluxo de grávidas que deixaram Pernambuco, epicentro do problema e com atuais 1.447 casos notificados, com destino aos Estados Unidos e Europa cresceu nos últimos meses. A circulação do vírus também alterou a rotina de quem não pretende engravidar, mas tem medo das complicações neurológicas associadas ao vírus.
Ser gestante neste momento de emergência de saúde pública requer cuidados como vestir roupas de manga comprida e evitar sair de casa. Nem todo mundo está disposto a enfrentar as restrições, sobretudo diante da temperatura média do Recife.
A administradora Ana Cecília Lima, 35 anos, estava com menos de três meses de gestação quando foi alertada pela médica sobre a microcefalia. À época, o surto ainda não havia tomado proporção internacional. Mudou os hábitos, mas não suportava conviver com a angústia de desenvolver um quadro assintomático de zika, renovada a cada ultrassonografia.
Então, ela e o marido decidiram aproveitar a cidadania alemã para se mudar para Berlim. A decisão acabou se estendendo à irmã, a jornalista e advogada Ana Carolina Lima, 39. “A minha motivação foi a correlação com a Síndrome de Guillain-Barré. Entrei em contato com a minha neurologista e estava preocupada. Recebi uma série de recomendações, iria precisar andar toda coberta. Diante disso, preferi não arriscar e antecipar a viagem”, esclareceu Ana Carolina, que tem epilepsia e segue sendo acompanhada pelas médicas no Brasil, via email. Ana Cecília encontrou médicos locais. As duas viajaram em janeiro. “As notícias não param de chegar, mostrando o terror que está no Brasil. Aqui só chega relato ruim”, ressalta Ana Carolina.
A busca por uma gravidez tranquila e segura em Miami, em planos básicos das clínicas americanas, pode custar até US$ 9,8 mil, o equivalente a R$ 38,3 mil. “Infelizmente, a única alternativa para a maioria das mulheres é se cuidar e proteger o próprio ambiente”, lembra chefe do serviço de infectologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, Ângela Rocha.
O pediatra Wladimir Lorentz conta que aumentou a quantidade de pacientes, especialmente do Nordeste, chegando a Miami para fugir do zika. “Existe o mesmo mosquito na cidade, só que ele nunca chegou a se infiltrar. A saúde pública e o controle aqui são muito eficientes”. Atualmente, em média, cinco famílias brasileiras e cinco latinas são atendidas por mês na associação criada por Wladimir.
A recifense Juliana Costa Melo, 27 anos, não passou nem dois dias pensando sobre se mudar para lá, em dezembro do ano passado. “Foi uma decisão em cima da hora. Já tinha me afastado do trabalho porque colegas tiveram zika”, contou ela, que teve o apoio da família e viajou com um grupo de amigas e o marido. Juliana está com 33 semanas de gestação, o parto está previsto para março, e só voltará em junho para o Recife. “Foi uma decisão incrível. Saí de uma prisão domiciliar para uma cidade maravilhosa. Não iria me perdoar se tivesse um filho com uma doença tão grave porque não fiz esse investimento agora.”
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Ser gestante neste momento de emergência de saúde pública requer cuidados como vestir roupas de manga comprida e evitar sair de casa. Nem todo mundo está disposto a enfrentar as restrições, sobretudo diante da temperatura média do Recife.
A administradora Ana Cecília Lima, 35 anos, estava com menos de três meses de gestação quando foi alertada pela médica sobre a microcefalia. À época, o surto ainda não havia tomado proporção internacional. Mudou os hábitos, mas não suportava conviver com a angústia de desenvolver um quadro assintomático de zika, renovada a cada ultrassonografia.
Então, ela e o marido decidiram aproveitar a cidadania alemã para se mudar para Berlim. A decisão acabou se estendendo à irmã, a jornalista e advogada Ana Carolina Lima, 39. “A minha motivação foi a correlação com a Síndrome de Guillain-Barré. Entrei em contato com a minha neurologista e estava preocupada. Recebi uma série de recomendações, iria precisar andar toda coberta. Diante disso, preferi não arriscar e antecipar a viagem”, esclareceu Ana Carolina, que tem epilepsia e segue sendo acompanhada pelas médicas no Brasil, via email. Ana Cecília encontrou médicos locais. As duas viajaram em janeiro. “As notícias não param de chegar, mostrando o terror que está no Brasil. Aqui só chega relato ruim”, ressalta Ana Carolina.
A busca por uma gravidez tranquila e segura em Miami, em planos básicos das clínicas americanas, pode custar até US$ 9,8 mil, o equivalente a R$ 38,3 mil. “Infelizmente, a única alternativa para a maioria das mulheres é se cuidar e proteger o próprio ambiente”, lembra chefe do serviço de infectologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, Ângela Rocha.
O pediatra Wladimir Lorentz conta que aumentou a quantidade de pacientes, especialmente do Nordeste, chegando a Miami para fugir do zika. “Existe o mesmo mosquito na cidade, só que ele nunca chegou a se infiltrar. A saúde pública e o controle aqui são muito eficientes”. Atualmente, em média, cinco famílias brasileiras e cinco latinas são atendidas por mês na associação criada por Wladimir.
A recifense Juliana Costa Melo, 27 anos, não passou nem dois dias pensando sobre se mudar para lá, em dezembro do ano passado. “Foi uma decisão em cima da hora. Já tinha me afastado do trabalho porque colegas tiveram zika”, contou ela, que teve o apoio da família e viajou com um grupo de amigas e o marido. Juliana está com 33 semanas de gestação, o parto está previsto para março, e só voltará em junho para o Recife. “Foi uma decisão incrível. Saí de uma prisão domiciliar para uma cidade maravilhosa. Não iria me perdoar se tivesse um filho com uma doença tão grave porque não fiz esse investimento agora.”