Os autores do estudo, da Universidade de Washington, destacaram a necessidade de se investigar as causas de morte de crianças em uma faixa mais ampla da que costuma aparecer em levantamentos epidemiológicos. “A literatura atual foca nas taxas de mortalidade e nas tendências ano a ano entre crianças com menos de 5 anos, havendo pouca informação de comparação sobre doenças entre crianças mais velhas e adolescentes. Crianças e adolescentes constituem cerca de um terço da população mundial e seu status de saúde é importante para cada país e sociedade”, escreveram no artigo.
Das 188 nações investigadas, 50 concentram mais de 70% da população de até 19 anos; por isso, o relatório foi feito apenas com os dados desses países. Os números refletem a desigualdade entre o mundo desenvolvido e em desenvolvimento, com diferenças ainda mais acentuadas em relação à África e à Ásia. Enquanto no Japão, onde há a menor incidência de óbitos infantojuvenis, houve 25,9 mortes em cadas 100 mil crianças e adolescentes em 2013, na Nigéria, nação com o pior cenário, foram 856,7 ocorrências. O país africano, aliás, também é recordista nos óbitos por doenças infecciosas do trato respiratório (concentra 12% do total mundial) e malária (38%). Com Índia, República Democrática do Congo, Paquistão e Etiópia, a Nigéria registrou metade de todas as mortes por enfermidades associadas à diarreia.
Nos países desenvolvidos, anomalias congênitas — alterações ocorridas durante o desenvolvimento fetal, quase sempre por questões genéticas — lideram as causas de mortalidade, seguidas por complicações decorrentes de parto prematuro; acidentes de trânsito; distúrbios neonatais, como as doenças metabólicas; encefalopatia neonatal (síndrome caracterizada por alterações no desenvolvimento neurológico); infecções respiratórias; sepse (infecção geral) neonatal; diarreia e desnutrição. Já nas nações em desenvolvimento, incluindo o Brasil, doenças no trato respiratório estão no topo das causas, e os acidentes de trânsito na base. Enquanto os países ricos não tiveram registro estatístico de morte por malária, no restante do mundo, a enfermidade infecciosa matou 652.820 crianças e adolescentes, com taxa de mortalidade de 29,3 em cada 100 mil.
“Em alguns sentidos, países desenvolvidos e em desenvolvimento têm semelhanças nas principais causas de morte. Em ambos, complicações de partos prematuros e anomalias congênitas são causas comuns de óbito entre crianças com menos de 5 anos, enquanto que, entre adolescentes, as lesões lideram”, observa o epidemiologista Theo Vos, professor de saúde pública da Universidade de Washington e autor correspondente do levantamento. “Quanto às principais diferenças, doenças infecciosas, sepse, malária, diarreia, HIV/Aids, meningite e tuberculose continuam sendo os grandes desafios para nações em desenvolvimento”, diz. No ranking das 25 causas de óbito, meningite ocupa a 13ª posição; HIV/Aids, a 14ª; e tuberculose aparece na 21ª. As demais citadas por Vos fazem parte da lista das 10 principais causas (veja quadro).
Prevenção
O epidemiologista destaca que não se trata apenas de falta de acesso a ações preventivas. “Em muitos países, há vacinas disponíveis para prevenir doenças como sarampo e coqueluche, que, nesses lugares, aparecem como principais causas de morte. Isso indica a necessidade de se fortalecerem programas de imunização nesses países.
Em comparação com 1990, houve declínio da mortalidade infantojuvenil global, mas ainda com diferenças expressivas entre países; alguns deles, inclusive, registrando altas. O número de mortes de crianças com menos de 5 anos em cada grupo de mil nascidos em 23 anos, por exemplo, variou de -6,8% em Omã para %2b0,1% no Zimbábue. O levantamento da Universidade de Washington alerta que “apenas 27 dos 138 países em desenvolvimento devem alcançar a meta 4 dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, uma redução de dois terços da mortalidade em 2015, tendo 1990 como base”. O relatório de monitoramento dos ODMs, uma série de compromissos assumidos pelos integrantes da Organização das Nações Unidas (ONU), referente ao ano passado ainda não foi divulgado. No Brasil, a meta 4 foi atingida em 2011, quando a taxa de mortalidade de 0 a 5 anos caiu para 17,7 (em 1990 era 53,7).
Entre os adolescentes (de 10 a 19 anos), as principais causas de morte em 2013 foram acidentes de trânsito, HIV/Aids, suicídio, afogamento e doenças intestinais. “O alto índice de mortalidade resultante de acidentes e ferimentos entre adolescentes significam que eles estão, particularmente, afetados pelo pouco investimento global em prevenção de ameaças à saúde não associadas apenas a enfermidades”, observa Russell Viner, especialista em adolescência pelo Instituto da Saúde Infantil de Londres, que integra o projeto Carga Global de Doenças. “Investir apenas em descoberta de novos remédios e ampliação da oferta de serviços são respostas incompletas às ameaças à saúde dos jovens, em vista do papel profundo das condições socioeconômicas e das oportunidades que surgem para eles. Se os governos não focarem as determinantes sociais na saúde, isso os colocará em desvantagem e poderá se traduzir, inclusive, em morte prematura”, aponta..