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Excesso de pele após cirurgia bariátrica não é só questão de estética

Várias pessoas que perdem muito peso com a operação de redução do estômago ficam com excesso de pele no corpo. Se não for por indicação estética, SUS cobre o procedimento

Alessandra Alves
Diagnosticado com obesidade mórbida, John pesava 160 quilos. Após emagrecer, ficou com excesso de pele - Foto: Reprodução Youtube
Em novembro de 2014, John Glaude, um jovem americano de 21 anos, publicou um vídeo no YouTube onde tira quase toda a roupa para mostrar como o corpo dele ficou depois de perder 70 quilos. Visivelmente envergonhado, ele diz que a razão principal de querer compartilhar sua intimidade com o mundo – o vídeo tem mais de 8 milhões de visualizações – é justamente perder a vergonha.

Em um relato emocionante, o jovem diz que “nenhuma pessoa deve deixar que o excesso de pele ou qualquer outra coisa impeça de ir atrás dos sonhos”. Mesmo reconhecendo que esse não é o fim da sua luta pelo corpo ideal, ele se diz orgulhoso de si mesmo. “O meu sonho era ser feliz na minha pele. E eu sou.”Aceitar o excesso de pele resultante do processo de emagrecimento é uma batalha comum tanto para quem perde peso sem intervenção cirúrgica quanto para quem passa pela cirurgia bariátrica.



A auxiliar de enfermagem Lilian Trant chegou a pesar 114 quilos depois da gravidez, foi aos 68, mas ganhou tudo de volta ao perder a mãe. Hoje, ela está feliz da vida depois da plástica reparadora:"Minha autoestima está nas alturas" - Foto: Arquivo Pessoal No caso do procedimento cirúrgico, a batalha começa pela operação, que, por si só, não é simples. No período pré-operatório, além de fazer dieta, o paciente deve se submeter a uma série de exames e fazer acompanhamento com profissionais como psiquiatra, psicólogo e nutricionista. Feita a cirurgia, a vida não fica mais fácil. Nos primeiros 40 dias, o paciente pode ter de ingerir somente líquidos e a dieta daí em diante pode restringir diversos tipos de alimentos.
Nesta nova etapa, com tantas mudanças na rotina, lidar com as mudanças do corpo não é uma tarefa fácil.

A técnica de enfermagem Lilian Trant, de 43 anos, tinha 34 quando decidiu fazer a cirurgia. Ela, que sempre foi magra, chegou a pesar 114 quilos depois da gravidez. Com dieta, emagreceu e chegou aos 68 quilos, mas engordou mais uma vez quando perdeu a mãe. Desanimada e sem forças para seguir a batalha contra a balança, foi convencida por uma prima a procurar um cirurgião. Saiu de lá com a certeza da cirurgia. Passou por todos os exames, acompanhamento psicológico e, cerca de dois anos depois da primeira consulta, operou. “A cirurgia foi ótima e o processo foi excelente por dois motivos: porque o meu médico foi muito rigoroso e porque eu sou muito obediente”, conta. Durante 40 dias, Lilian se alimentou apenas com a dieta líquida e seguiu todas as recomendações médicas. Emagreceu rapidamente. Sentiu-se feliz e deu adeus à tristeza que a obesidade havia trazido à sua vida. Mas alguma coisa ainda a incomodava.

“Era louca para tirar a barriga. Por causa do emagrecimento, a pele na região ficou flácida e isso me incomodava muito.” Um dia, Lilian, que é técnica em enfermagem, dividiu o toalete da clínica onde trabalhava com uma cirurgiã plástica, que ofereceu a cirurgia. De graça.
“Ela disse para mim: ‘Você é um exemplo, está cada dia mais magra e linda, já venceu uma batalha, você merece tirar essa barriga’”, lembra. Sem precisar arcar com os custos da cirurgia plástica e tendo conhecimento do trabalho da médica, Lilian não pensou duas vezes antes de se submeter à abdominoplastia. “Todo mundo que faz a cirurgia bariátrica tem que fazer a plástica. Antes, a barriga pesava, me deixava constrangida. Eu já estava feliz, mas ainda tinha isso que me incomodava bastante. Hoje estou com minha autoestima nas alturas, de body, com a barriga chapada”, afirma, agora satisfeita com o corpo.

Não é só estética
Além da sensação de não ter completado o ciclo de emagrecimento e o constrangimento com o novo corpo, alguns pacientes podem desenvolver problemas que vão além dos estéticos. O excesso de pele pode causar dermatites, assaduras e até mesmo infecções. Se o paciente não conseguir lidar com a flacidez do corpo, a situação pode gerar também um quadro de depressão. “Falo que a cirurgia plástica neste caso é uma cirurgia curativa. Ela muda a mente da pessoa.
É uma solução para dar qualidade de vida a esses pacientes que passaram por tantas dificuldades com o sobrepeso”, explica a cirurgiã plástica Cíntia Mundim.

Entre as intervenções mais procuradas por quem faz a cirurgia bariátrica, Cíntia cita em primeiro lugar a abdominoplastia, que é feita para retirar o excesso de pele na região do abdômen. Em seguida, vêm as cirurgias de mama, coxa e braços. A médica esclarece que a maior parte dos pacientes geralmente opta por uma região ou no máximo duas.

Quando a opção é pela plástica na barriga, por exemplo, só é possível fazer esta região, já que a cirurgia demora em média, quatro horas. Quando a área é menor e a região, mais próxima, é possível fazer duas correções, como na mama e no braço. “São combinações possíveis porque estão no mesmo segmento corporal e o pós-operatório é parecido”, conclui a médica. A nutricionista Adriana Rodrigues passou pela cirurgia bariátrica há 10 anos. Apesar de não ter feito ainda nenhuma cirurgia corretiva, ela confessa que, por causa do excesso de pele, gostaria de fazer a cirurgia na mama. “Gostaria de colocar um pouquinho de silicone para melhorar a aparência. Mas é só”, garante. Assim como o jovem John Claude, Adriana acredita que a maior batalha já foi vencida.

Indicações

O Sistema Único de Saúde (SUS) cobre a cirurgia plástica corretiva contanto que haja indicação não estética para o procedimento. Segundo o Ministério da Saúde, a assistência aos portadores de obesidade grave é integral e garante atendimento posterior ao procedimento, incluindo a cirurgia plástica. A maior parte dos planos de saúde também cobre o procedimento, mas apenas em algumas regiões. Na rede particular, em Belo Horizonte, uma cirurgia plástica abdominal custa em torno de R$ 10 mil; na mama e nos braços, cerca de R$ 8 mil; e na face, entre R$ 10 mil e 15 mil. As cirurgias plásticas corretivas são indicadas um ano após a bariátrica, depois que o paciente conseguir estabilizar o peso.

MUDANÇAS
Em 13 de janeiro, o Conselho Federal de Medicina divulgou novas regras para a realização de cirurgias bariátricas no Brasil. A começar pelo número de doenças associadas à obesidade que justificam a indicação da operação: aumentou para 21, entre elas, diabetes tipo 2, apneia do sono, hipertensão arterial, dislipidemia, osteoartrite, asma, entre outras. O novo texto do CFM indica ainda o procedimento para pacientes com índice de massa corporal maior que 35kg/m2, e não mais acima de 40kg/m2. O CFM definiu ainda que a bariátrica só pode ser feita por jovens acima de 18 anos. Antes, estava definido que, entre 16 e 18 anos, a pessoa podia fazer a operação, desde que a relação risco/benefício fosse analisada. Pacientes com mais de 65 anos poderão fazer a cirurgia desde que respeitadas as condições gerais descritas na resolução e após avaliação do risco/benefício. .