A iniciativa multiplicou o número de pesquisas que relacionam as duas áreas. Como resultado, uma série de relações entre infecções bucais e problemas de saúde que se manifestam em outras partes do corpo, a exemplo de problemas cardiovasculares, diabetes, obesidade, câncer, osteoporose, parto prematuro e nascimento de bebês abaixo do peso, foi desvendada. Na realidade, toda infecção na cavidade oral pode afetar o resto do organismo. Muitas das doenças se manifestam na boca, como a leucemia que muitas vezes é descoberta pelo dentista pelo aspecto e sangramento da gengiva, que acaba encaminhando o paciente para um médico já que essa é uma doença que não pode esperar.
Em outros casos, o contágio ocorre porque as bactérias alojadas na gengiva se deslocam pelo organismo e podem se instalar em outros órgãos, prejudicando seu funcionamento.
“Essas doenças, causadas por um erro do sistema imunológico, aparecem na cavidade oral e podem se espalhar na pele ou em outras mucosas”, explica. Numa pessoa saudável, os linfócitos, que são células de defesa, não se ativam com antígenos do próprio organismo. Em outras, os linfócitos começam a reconhecer as moléculas que são próprias do corpo como elementos estranhos. O pênfigo vulgar, por exemplo, se manifesta com o aparecimento de bolhas cheias de líquido na boca, que podem se espalhar pelo corpo inteiro. Quando as bolhas estouram, surgem feridas em carne viva que podem ocupar grandes áreas e funcionam como porta e entrada para infecções. “O diagnóstico tem que ser preciso, pois nos casos mais graves, se não for tratado, o pênfigo pode ser letal”, alerta Souza.
Outro perigo que ronda a ligação da saúde oral e a do corpo é a existência prévia de comorbidades que podem ser agravadas quando as bactérias da cavidade oral caem na corrente sanguínea, como é o caso da própria endocardite. “A principal afinidade do tecido bucal é com o tecido do coração. Se uma bactéria sai da boca e se aloja no coração pode gerar uma infecção muito mais difícil de ser tratada do que uma gengivite, observa a especialista em implantes e reabilitação oral Regina Bregalda. De acordo com ela, pacientes com histórico de febre reumática, na qual a parede interna do coração ficam mais suscetíveis ao ataque de micro-organismos – o que facilita a aderência das bactérias ao órgão –, correm graves riscos de sofrer uma endocardite bacteriana.
Por isso é necessário consultar o dentista regularmente, e conversar com ele sobre o histórico de doenças. “A saída é visitar o dentista a cada seis meses e sempre se abrir com ele sobre os problemas de saúde, porque às vezes o dentista não faz essas perguntas aos pacientes”, observa a endodontista Dóris Rabello.
CORAÇÃO É ALVO DE BACTÉRIAS
Pessoas com próteses dentro do sistema cardiovascular, como válvula cardíaca, stents ou cateter, que são superfícies nas quais as bactérias podem “colar”, são mais expostas ao risco de contaminação do corpo com as bactérias a boca. O mesmo ocorre com os que já sofreram trombose venosa, já que esses micro-organismos podem invadir o trombo e formar uma colônia. E também com os pacientes diabéticos, os que estão em tratamento de quimioterapia, com câncer disseminado, desnutridos ou imunodeprimidos, que fazem uso de drogas imunossupressoras, a exemplo dos transplantados e dos portadores de doenças autoimunes.
O mecanismo que leva boa parte das implicações de problemas bucais ao resto do corpo tem a ver com a ligação dos gânglios à corrente sanguínea.
ANTIBIÓTICO Isso ocorre porque a bactéria cai na corrente sanguínea e leva poucos minutos para se multiplicar, explica o especialista. De acordo com ele, o problema se agrava nos dias de hoje porque a quantidade de bactérias resistentes aos antibióticos vem aumentando de modo assustador. Assim, muitas das mortes decorrentes de infecção na boca ocorrem pelo uso incorreto dos antibióticos. Na quantidade inadequada, o medicamento mata as bactérias mais fracas e deixa as fortes vivas – mais resistentes. “Se o antibiótico não for usado na dosagem correta e pelo tempo indicado, isso pode ocorrer e quando o paciente precisar do medicamento, ele não vai funcionar”, avisa.
Diante de tudo isso, os especialistas recomendam a ida a um odontologista uma vez a cada seis meses para um checape bucal. A limpeza dos dentes é indicada para ser feita uma vez ao ano e, dependendo do caso (pode ser que a pessoa tenha produção maior de tártaro) e, pode ser sugerida duas. Tudo depende dos hábitos de higiene e de alimentação do paciente..