Mas o que não é “normal”? Com o que comparar se não vemos as fezes do outro? Segundo Sinara Leite, presidente da Sociedade Mineira de Coloproctologia e professora da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, o que conseguimos é saber o que é mais comum para nós mesmos e isso já é parâmetro para identificar alterações no aspecto, cor e cheiro das fezes e na frequência de evacuação. Alguns critérios, contudo, determinam a margem do que é saudável. Muco nas fezes, por exemplo, pode ser sinal de intestino preso, mas também de tumor. Assim como sangue pode ser decorrente de hemorroida e fissura anal, mas também ser sinal de câncer no intestino. Nesses casos uma colonoscopia é essencial.
“Fezes que variam de pastosa a formadas, embora macias, têm pH neutro e, portanto, não vão agredir o ânus nem mecânica, nem quimicamente.
“Se surgiu a vontade, a pessoa evacuou naturalmente, sem esforços, se não “queimou” e ao final teve a sensação de estar livre, de não ter ficado nada para trás, então é o que eu chamaria de saudável. Tem gente que vai conseguir isso uma vez a cada dois dias; outras pessoas, duas a três vezes ao dia. A frequência de evacuação não é o mais importante, desde que mantenha um padrão”, explica Sinara. Mudanças nesse padrão, sangue e muco já são sinal de alerta e devem ser examinados. Tanto um clínico geral quanto um coloproctologista ou gastroenterologista podem ser procurados nesse caso. “Sangue nunca é normal, muco pode ocorrer se a pessoa ficar constipada muitos dias”, explica.
A frequência de evacuação é extremamente individual. Segundo a presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia, Maria do Carmo Friche Passos, professora-associada da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o funcionamento normal do intestino varia de três vezes ao dia até três vezes por semana. “O que não é normal é quando isso muda muito. A pessoa deve conhecer o seu padrão para perceber quando houver uma mudança significativa nesse ritmo intestinal”, alerta. Uma mudança temporária pode ser normal, caso de pessoas que viajam ou mudam de casa e por um tempo têm essa alteração. Mas, se ela permanece é preciso procurar a origem do problema.
APARÊNCIA A aparência das fezes também merece atenção.
Segundo Sinara, as fezes melhores de serem evacuadas são aquelas que têm formato similar ao de uma banana. “São compridas, têm calibre normal e, ao evacuar, saem de uma vez só, sem muito esforço”, explica. Quanto à cor, o mais comum é que variem de amareladas a amarronzadas. Segundo a especialista, fezes pretas como borra de café e de odor fétido, a chamada melena, merecem ainda mais atenção. Elas significam que há um sangramento no tubo digestivo alto, caso do estômago ou duodeno. Durante seu percurso até ser evacuada, ela vai sofrendo processos químicos e vai se escurecendo”, explica.
XIXI TAMBÉM TEM MUITO A DIZER
No caso da urina, a cor é um dos principais aspectos a serem observados.
Urina de cor que vai do amarelo-claro ao transparente, sem sangue ou pus e, de preferência, que saia com facilidade é um bom sinal. Em homens idosos, em decorrência de problemas na próstata, o jato pode ficar mais fraco. Mas atenção à espuma, que pode ser sinal de perda de proteína na urina. A ocorrência do problema isolado pode até ser efeito de um resíduo de sabão no vaso, mas se persistir, um médico deverá ser consultado. Espuma também pode ser resultado de uma infecção, que pode levar à eliminação de um pouco de proteína na urina. Outros sinais de infecção são urinas turvas, avermelhadas, mais escurecidas. “Qualquer inflamação no trato urinário pode dar pus, mas ele aparece mais em casos avançados”, explica o nefrologista.
Já sangue na urina pode sugerir comprometimento renal, cálculo renal e mesmo neoplasias. “Quando chega ao consultório um paciente urinando sangue, primeiro observo a idade. Se for um idoso que fumou por muitos anos, posso desconfiar de um tumor de bexiga. Sempre combinamos os dados à história clínica”, explica. O sangue, mesmo em pequena quantidade, pode ser capaz de tornar a urina totalmente vermelha ou com tons amarronzados. Já alguns medicamentos, como analgésicos, e bactérias podem deixá-la esverdeada. “Qualquer cor que fugir do tom amarel- claro demanda atenção. Adultos hipertensos, com diabetes ou problemas renais na família devem fazer pelo menos um exame de urina de rotina por ano. Os demais devem fazer a cada checape. É um exame simples, barato e que dá muita informação sobre a doença renal, habitualmente assintomática.”.