Para a pesquisa, Craig Stark e Dane Clemenson, do centro de Neurobiologia da Aprendizagem e da Memória da instituição, recrutaram estudantes universitários que não costumam se envolver com essa atividade para jogar tanto um videogame passivo e de ambiente bidimensional (Angry birds foi o escolhido) ou um jogo intrincado e com gráficos tridimensionais, o (Super Mario 3D world) por 30 minutos ao dia, ao longo de duas semanas.
Antes e depois desse período, eles fizeram testes de memória implicados com o hipocampo, área do cérebro associada ao aprendizado complexo e à formação de memórias. Os estudantes receberam uma série de figuras de objetos do dia a dia para estudar. Então, viam as imagens dos mesmos objetos, de novas peças e de alguns itens ligeiramente diferentes dos originais. Em seguida, tinham de categorizá-los. O reconhecimento de imagens um pouco alteradas requer a ativação do hipocampo, diz Stark, e uma pesquisa conduzida por ele anteriormente demonstrou que a habilidade de fazer isso declina claramente com a idade. Em parte, é por isso que aprender novos nomes ou se lembrar de onde se colocou a chave se torna tão difícil à medida que envelhecemos.
Os estudantes que jogaram o game tridimensional melhoraram o desempenho no teste de memória. O mesmo não aconteceu com aqueles que jogaram em um ambiente bidimensional.
Ambiente
Em estudos prévios com ratos, Clemenson e outros pesquisadores mostraram que explorar um ambiente amplo resultou no aumento de neurônios que integram o circuito de memória do hipocampo, além de melhorar as redes de sinalização neuronais. Stark observou os mesmos benefícios em humanos que jogaram Super Mario 3D world. “Os jogos em três dimensões têm algumas coisas que faltam nos bidimensionais. Eles têm muito mais informação espacial para explorar. Em segundo lugar, são muito mais complexos, oferecem mais a aprender. Nós sabemos que esse tipo de aprendizado e memória não apenas estimulam, mas requerem o uso do hipocampo”, afirma. Stark acrescenta que não se sabe se é a quantidade de informação e a complexidade dos games 3D ou a relação entre campo espacial e exploração que estimula essa região do cérebro. “Essa é uma questão que vamos examinar em seguida”, diz.
Diferentemente de outros programas típicos de treinamento cerebral, os games não são criados com processos cognitivos específicos em mente, mas, antes disso, são desenhados para fazer o usuário imergir no mundo dos personagens e no roteiro de aventura. Para tanto, diversos processos, como visual, espacial, emocional, motivacional, de atenção, de pensamento crítico, de solução de problemas e de memória de trabalho são envolvidos. “É possível que, ao evitar se focar em um único domínio cognitivo, e sendo mais próximo da experiência natural, os games forneçam experiências enriquecedoras que se traduzem em ganhos funcionais”, observa Stark.
O próximo passo dos pesquisadores é determinar se o enriquecimento ambiental, tanto por meio dos videogames 3D quanto pelas experiências reais de exploração do mundo, pode reverter o deficit cognitivo associado ao hipocampo existente em pessoas mais velhas. “Será que podemos usar a abordagem dos games para ajudar a melhorar a função do hipocampo?”, questiona Stark. “Costuma-se sugerir que uma vida ativa e comprometida seja um fator real para frear o envelhecimento cognitivo. Embora nem todos nós possamos viajar pelo mundo de férias, podemos fazer muitas outras coisas para nos manter ativos do ponto de vista cognitivo.