A relação entre o vírus e a síndrome caracterizada por paralisia gradativa já é citada pelo Ministério da Saúde que, em todo o ano de 2014, relatou 65.884 procedimentos no Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo internações - o número não corresponde ao total de pacientes, pois uma mesma pessoa pode ter feito mais de um procedimento.
Dois meses após ter dengue, em abril de 2013, a tosadora de animais Ana Lucia Rosa da Silva, de 42 anos, achou que estava tendo um Acidente Vascular Cerebral (AVC) quando os primeiros sintomas da síndrome se manifestaram. “Dormi na casa da minha cunhada e já estava com a metade do corpo torta, e sem conseguir falar. Dei entrada no hospital e acharam que eu estava tendo um derrame. Fui perdendo as forças, não conseguia me levantar, não estava entendendo o que era. Minha mão não respondia aos comandos.”
Autoimune
A síndrome é uma condição neurológica autoimune e pode ser desencadeada não só pelo zika, mas por qualquer doença infecciosa viral ou bacteriana.
Araújo explica que, por ano, são registrados um a dois casos para cada 100 mil habitantes e a condição pode atingir a deglutição, a musculatura da face e o diafragma. “É uma emergência neurológica que não pode ser tratada em casa. Toda pessoa tem de ser internada.”
Para Ana Lucia, foram 25 dias de internação, quase quatro meses de cama e a retomada da autonomia teve o seu marco oito meses após a saída do hospital. “O que mais me marcou, e foi um dia feliz, foi quando consegui lavar o meu rosto sozinha. Nem foi quando comi ou andei. Foi quando consegui colocar as mãos na água e lavar o rosto. Voltar a fazer as coisas é uma mistura de medo e de alegria por estar conseguindo.”
Ela, que mora na Praia Grande, no litoral paulista, foi tratada com imunoglobulina, também conhecida como gamaglobulina, fez fisioterapia e fonoaudiologia. Outra opção de tratamento é a plasmaserese, que consiste em filtrar o sangue do paciente. Segundo Araújo, 15% dos pacientes apresentam algum tipo de sequela e as mais comuns são perda de reflexos, atrofia e fraqueza muscular permanente. Os sintomas costumam durar entre duas e quatro semanas e podem até levar à morte, se atingirem os músculos respiratórios.
Sem pânico
Mesmo com a associação ao zika vírus, a neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein Cristina Massant diz que isso não é motivo para pânico, pois ainda não há meios para evitar que a síndrome se manifeste e não há indícios de que o vírus sempre vai desencadear o problema. “Isso demandaria mais dados clínicos, mas o zika não é uma causa importante, pois há outros fatores que desencadeiam.”
Em julho do ano passado, a Guillain-Barré apareceu na vida da bibliotecária Ingrid Lopes Abs, de 36 anos. “Passei oito dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e saí do hospital sem andar.