“Conduzimos diversas pesquisas sobre a TPM que incluíram a obesidade, o tabagismo e a baixa ingestão dietética de vitaminas do complexo B, de vitamina D, de cálcio e de outros minerais como agravantes. Daí, surgiu a nossa hipótese de que a TPM estaria relacionada ao risco de pressão arterial elevada”, explicou ao Correio Elizabeth Bertone-Johnson, uma das autoras do estudo e pesquisadora da Universidade de Massachusetts.
Para o estudo, inicialmente, os cientistas analisaram um grupo de mulheres entre 1991 e 2005. Observaram sintomas menstruais ligados à TPM, como palpitações, náusea, esquecimento, tonturas e ondas de calor. Com base nessa análise, separaram as participantes em dois grupos: 1.257 tinham TPM e 2.463 não.
“Descobrimos que as mulheres que experimentam a TPM moderada ou grave tinham um risco maior de desenvolver hipertensão mais tarde do que as com poucos sintomas menstruais”, complementa a autora, que descarta a hipótese de que os problemas tenham uma relação de causa e efeito. “Nós não acreditamos que ter TPM é uma causa de pressão alta. Acreditamos que as duas condições partilham fatores de risco semelhantes e podem ter causas fisiológicas similares.”, destaca Johnson.
Semelhanças
Andre Wambier, cardiologista do Hospital do Coração do Brasil, indica um fator biológico comum vinculado a comportamentos adotados durante a tensão pré-menstrual e a reações do organismo submetido ao aumento da pressão arterial. “Existe um sistema, chamado eixo renina-angiotensina-aldosterona, que fica em disfunção quando a pessoa sofre de hipertensão. Ele funciona na regulação do sódio e do volume sanguíneo e, durante a TPM, também sofre um desequilíbrio, o que causa inchaços nos seios, por exemplo”, explica.
Segundo Maria Elisa Noriler, responsável pelo Setor de Ginecologia Endócrina Infantopuberal e Climatério do Hospital Municipal Maternidade — Escola de Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo, o corpo todo reage diferentemente nos dias que antecedem a menstruação. “Após ler esse trabalho, até passei a perguntar para minhas pacientes que sofrem com hipertensão se elas tem mais TPM”, conta a especialista. “Outro ponto importante de frisar é que esse é o primeiro estudo prospectivo a associar a síndrome da tensão menstrual com o risco de hipertensão no futuro, que contou também com um grande número de participantes.”
Também surpreendeu os cientistas e especialistas a constatação de que o risco de surgimento da hipertensão não sofreu interferências com o uso de contraceptivos orais ou de antidepressivos, registrado em algumas voluntárias. Os cientistas observaram ainda que as mulheres que consumiam de forma elevada a tiamina e a riboflavina (fontes de vitaminas B) apresentaram menores chances de ter a complicação cardíaca, independentemente da ocorrência da TPM.
Noriler destaca que a ingestão de vitamina B para tratar sintomas da TPM é uma alternativa clínica, mas destaca que as melhoras quanto à hipertensão podem auxiliar ainda mais a área médica. “Já recomendamos para as pacientes a ingestão de alimentos que têm vitamina B, como ovo, lentilha, fígado e amêndoas. Agora, sabendo que também pode ajudar a diminuir os riscos de hipertensão, ela se torna uma opção melhor, pois pode prevenir dois problemas”, destaca.
Prevenção
Os autores acreditam que as descobertas possam servir como um incentivo para a prevenção mais minuciosa da hipertensão. “Nossos resultados sugerem que as mulheres que têm TPM moderada ou grave devem prestar atenção na pressão arterial. No tratamento de TPM, precisam considerar aumentar a ingestão de vitaminas do complexo B para melhorar seus sintomas e, potencialmente, diminuir o risco de hipertensão”, destaca Johnson.
Wambier destaca ainda que a aplicação do estudo é importante devido ao alto índice de doenças cardiovasculares em mulheres.
Os cientistas adiantam que o trabalho terá continuidade e que o objetivo é encontrar mais ligações entre sintomas pré-menstruais e problemas cardíacos. “Gostaríamos de investigar quais fatores fisiológicos podem ligar a TPM e a pressão arterial elevada, e também testar diretamente se o tratamento de mulheres que têm TPM com vitaminas do complexo B pode ajudar a melhorar a hipertensão”, adianta a autora..