Intitulado ‘Dear Daddy’ (ou ‘Querido Papai, em português), a narrativa é construída a partir de um pedido de uma filha – que ainda está na barriga da mãe – ao pai. O vídeo ‘mostra’ situações vividas por mulheres em diferentes fases da vida: “Preciso te pedir um favor. É sobre garotos. Eu vou nascer menina e quando eu tiver 14 anos, os meninos da minha classe terão me chamado de puta, vadia e vaca e muitas outras coisas. Mas claro, só de brincadeira”, narra a vos feminina enquanto imagens de uma escola são exibidas.
De um lado, garotas se sentindo objetificadas e constrangidas. De outro, garotos confortáveis na posição de assediadores. “Talvez você fez o mesmo quando era jovem”, afirma a filha ao pai.
Aos 16 anos, a menina diz: “Quando eu tiver essa idade, alguns garotos terão enfiado a mão em minha calça enquanto eu tiver embriagada e mal conseguindo ficar de pé”
A narrativa prossegue: “Aos 21 anos serei estuprada”. No Brasil, temos um caso a cada 11 minutos de acordo com o 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública e o dado inclui também os estupros de vulnerável, crime cometido contra menores de 14 anos.
O filme prossegue prevendo o que vai acontecer na vida da garota. “Então finalmente encontro o ‘cara perfeito’ e você está feliz pois, de fato, ele me ama. Ele é inteligente, com um bom emprego. (...) Mas um dia ele deixa de ser o ‘cara perfeito’. E eu não sei por quê. Espere. Eu estou exagerando?”
O grande mote do filme é quando, de fato, a filha faz o pedido ao pai: “Por favor, impeça antes que comece”. Assim como as campanhas brasileiras #meuamigosecreto e #primeiroassedio, a produção audiovisual revela como o machismo está presente nos mínimos detalhes e mata mulheres em todo o mundo.
A narrativa é construída dentro do contexto de uma garota branca de classe média com oportunidades e família estruturada, mas a violência de gênero se agrava em situações de maior vulnerabilidade social. O Mapa da Violência 2015: Homicídio de Mulheres no Brasil mostra que os homicídios de mulheres negras aumentaram 54% em dez anos no Brasil, passando de 1.864, em 2003, para 2.875, em 2013. No mesmo período, o número de homicídios de mulheres brancas caiu 9,8%, saindo de 1.747 em 2003 para 1.576 em 2013 (leia mais aqui).
Vídeo é uma realização da ONG Care Norway. Veja versão em inglês:
Veja versão em português: