Saúde Plena

Vilões do peso

Não consegue emagrecer? Conheça os cinco hormônios que atuam no metabolismo

Quem se alimenta bem, pratica exercícios e não consegue emagrecer já imagina: é possível que o organismo esteja com algum desajuste. Uma das primeiras suspeitas costuma ser o hipotireoidismo, doença em que a glândula tireoide reduz suas atividades e a queima calórica torna-se mais lenta, senão inexistente. Porém, outros hormônios podem influenciar o metabolismo. Uma das primeiras verificações sugeridas é a dosagem de insulina, um hormônio produzido no pâncreas que controla o nível de açúcar no sangue. Segundo a endocrinologista Eliziane Brandão, a dificuldade na cicatrização de feridas, principalmente na área dos pés, é um dos indicativos da doença. Portadores de diabetes sofrem com a baixa produção de insulina, que faz com que o açúcar não seja digerido e continue a circular no sangue, sobrecarregando órgãos e criando bolsas de gordura localizada.


Um dos desencadeadores do diabetes pode ser o alto índice de testosterona no organismo. O excesso do hormônio pode aumentar também o colesterol, além de incentivar características masculinas em mulheres, como aparecimento de pelos no rosto. O caminho, porém, não é alcançar os níveis mais baixos possíveis de testosterona. Esse hormônio é produzido nas glândulas suprarrenais e, no corpo masculino, é responsável pelas características sexuais secundárias, como o aparecimento de pelos, desenvolvimento dos testículos e pela libido. Ele é importante também na manutenção da pressão arterial e, principalmente, no ganho de massa muscular. Mulheres que apresentam índices baixos de testosterona têm o emagrecimento e o ganho de massa magra prejudicado, fazendo com que o ponteiro da balança estagne.

- Foto: Ramon Lisboa / EM / D.A PressA orientadora educacional Mirian Arruda, de 36 anos, só conseguiu eliminar os sete quilos de sobrepeso que a incomodavam após um tratamento hormonal. Em novembro de 2014, em um exame de rotina, ela detectou produção baixa de testosterona. Outra preocupação era a pré-diabetes que o baixo nível de insulina sugeria. O pai, a mãe e a irmã de Mirian já tinham sido diagnosticados com o problema. A orientação foi adotar uma dieta de baixo consumo de carboidratos. “Eu precisava fazer o controle do índice glicêmico por meio da alimentação e assim encarei o desafio de viver sem farinha de trigo. Passei a comer comida de verdade, esqueci que tinham inventado a padaria”, conta.

A partir daí, mudanças de hábito completas aconteceram na vida de Mirian. Ela passou a anotar metas, registrar as refeições realizadas e gerenciar as emoções para evitar a compulsão alimentar. O percentual de gordura no organismo dela passou de 29% a 20%. “Ainda ajudo minhas amigas a se alimentarem de forma natural. Várias pessoas com quem trabalho já comem ovos em vez de pão. Fiz um Instagram onde postos meus pratos para elas entenderem melhor a dieta”, comemora.


Já para solucionar a baixa de testosterona, Mirian trocou o anticoncepcional por um dispositivo intra uterino (DIU), que não libera hormônios femininos no organismo, além de suplementar zinco e vitamina D, e praticar musculação orientada por uma personal trainer para ganhar massa magra por meio do treino hipertrófico inferior, ou seja, musculação de pernas e glúteos. A suplementação de testosterona pode ser recomendada, mas apenas em casos que os níveis estejam muito abaixo do recomendado. Desde julho, os exames de sangue da orientadora educacional estão satisfatórios e uma nova avaliação dos hormônios será feita no próximo mês.

A queda de testosterona pode ser motivada ainda pela produção descontrolada de cortisol. Conhecido como hormônio do estresse, ele também é produzido pelas glândulas suprarrenais e interfere nos resultados da dieta. Segundo o especialista em treinamento desportivo Thiago Toshio, o cortisol é liberado em grande quantidade em situações de estresse que, para nossos ancestrais, significavam momento de luta ou de fuga. Para isso, era necessário poupar energia e, consequentemente, diminuir a queima calórica. O emagrecimento mais lento, portanto, pode ser um indicativo de altos níveis do hormônio no organismo. Além disso, o ga-nho de gordura na região abdominal é maior. Durante as altas de cortisol, é mobilizado o glicogênio produzido no fígado que, por não ser utilizado na situação de perigo, é lançado na corrente sanguínea em forma de açúcar e acumula-se na região abdominal.

Felizmente, diminuir a ansiedade diária não é o único caminho possível para manter o peso. Alimentos ricos no aminoácido fenilalanina podem ajudar no controle do cortisol. Alguns exemplos são o brócolis, abóbora, agrião e alcachofra. A fenilalanina contribui ainda para a liberação mais eficaz da grelina, conhecida como hormônio da fome. Para quem não tem paixão confessa por carboidratos, a grelina pode ser a chave dos problemas de compulsão e ansiedade. Esse hormônio, descoberto por pesquisadores japoneses em 1999, é liberado pela parte proteica das células e dá a sensação de saciedade responsável pela pausa no momento de comer. Uma das explicações para a compulsão alimentar é a rápida mastigação, que faz com que a pausa entre o início da refeição e a liberação da grelina seja muito curta e, desse modo, mais comida seja consumida no intervalo.


Segundo o endocrinologista Geraldo Santana, membro titular da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, esse seria inclusive um dos mecanismos de funcionamento do balão gástrico. A grelina é liberada em maior quantidade com o estômago vazio e, preenchendo o espaço com o instrumento, a sensação de saciedade duraria mais tempo.

A leptina é outro hormônio que regula sensação de fome. Liberada por células de gordura, ela atua enviando a mensagem de saciedade para o hipotálamo, uma parte do cérebro que trabalha em conjunto com a tireoide. Quando a pessoa ganha peso, o corpo diminui a emissão de leptina para sinalizar que não é necessário comer mais. Quando acontece ganho descontrolado de peso, porém, o organismo desenvolve resistência à leptina e para de interpretar seus sinais, o que pode levar ao diabetes e à obesidade crônica.