A luz verde dada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ao Instituto Butantã para prosseguir com os testes clínicos de uma vacina contra a dengue reacendeu as esperanças de um dia acabar com as sucessivas epidemias da doença. Mas isso agora é só uma parte do problema. O surgimento de dois outros vírus (zika e chikungunya) reforçou a necessidade de se encontrar uma solução para a origem comum de todas essas ameaças: o mosquito Aedes aegypti.
Mosquitos transgênicos, estéreis e infectados com bactérias são algumas das "armas biológicas" que a ciência está desenvolvendo para incrementar o arsenal de guerra dos seres humanos contra o inseto - historicamente limitado a aplicações de fumacê e campanhas de conscientização pública para eliminação de criadouros, que ajudam a atenuar, mas passam longe de resolver o problema.
Por mais engajadas que as pessoas sejam, dizem os especialistas, é impossível eliminar todos os focos de reprodução do mosquito em um ambiente urbano. "Precisamos de uma estratégia de controle integrado, com base na soma de várias ações", diz a bioquímica Margareth Capurro, da Universidade de São Paulo (USP), que trabalha no desenvolvimento de mosquitos geneticamente modificados.
Uma das tecnologias mais avançadas nesse campo é o Aedes aegypti transgênico da empresa britânica Oxitec, introduzido no país em parceria com a brasileira Moscamed. Os mosquitos são modificados com um gene que torna a prole inviável, causando uma redução gradativa da população, à medida que eles copulam com os mosquitos selvagens.
O produto foi aprovado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em 2014 e aguarda registro na Anvisa para poder ser comercializado. Em testes realizados na Bahia, as populações de Aedes aegypti foram reduzidas em até 95%. Um novo experimento está sendo feito desde abril em um bairro de Piracicaba, no interior paulista, com a soltura de 800 mil mosquitos transgênicos por semana. Resultados preliminares indicam uma redução de 50% da população local do inseto, segundo o diretor da Oxitec no Brasil, Glen Slade.
Uma das dificuldades, diz ele, é que as áreas tratadas são constantemente repovoadas por mosquitos selvagens do entorno, exigindo a liberação de mais transgênicos e reduzindo os benefícios locais da técnica.
Bactérias
Já a Fiocruz está testando no Rio uma tecnologia desenvolvida originalmente na Austrália, que usa uma bactéria chamada Wolbachia para tornar o Aedes resistente à infecção pelo vírus da dengue. Nos mosquitos que têm a bactéria, o vírus não consegue se desenvolver, de modo que a doença não é transmitida de uma pessoa picada para outra.
"Você não vai acabar com a população de mosquitos, mas vai substituí-la por outra, menos suscetível à transmissão de doenças", explica Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz de Minas, que coordena o projeto no Brasil. Estudos recentes indicam que, além da dengue, os mosquitos com Wolbachia são também resistentes aos vírus zika e chikungunya.
A estratégia consiste em liberar machos e fêmeas de Aedes aegypti com Wolbachia no ambiente, para que eles copulem com os mosquitos selvagens e espalhem a bactéria pela população. Moreira ressalta que a Wolbachia é uma bactéria inofensiva para seres humanos e outros animais, presente naturalmente em muitos mosquitos, e não é transmitida na picada.
Testes preliminares estão sendo feitos em dois bairros: Tubiacanga, no Rio, e em Jurujuba, em Niterói, com apoio das comunidades e aprovação da Anvisa e órgãos ambientais. Os resultados preliminares indicam que mais da metade da população de mosquitos nessas duas localidades já está infectada com a bactéria. Ainda não está sendo avaliado, porém, qual é impacto disso na transmissão de doenças.
"São estratégias interessantes, mas não vejo isso sendo aplicável a uma cidade do tamanho de São Paulo ou do Rio", avalia o infectologista Artur Timerman, referindo-se aos Aedes transgênicos e com Wolbachia.
Manutenção
Enquanto essas e outras estratégias não são aprimoradas, é essencial manter os esforços convencionais de eliminação de criadouros - única maneira testada e confirmada de reduzir a população de mosquitos, segundo o especialista Gonzalo Vecina, da Faculdade de Saúde Pública da USP e do Hospital Sírio-Libanês. "O que podemos fazer parece pouco, mas não é inócuo. Se não fizéssemos, a situação seria muito pior, com certeza."
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Por mais engajadas que as pessoas sejam, dizem os especialistas, é impossível eliminar todos os focos de reprodução do mosquito em um ambiente urbano. "Precisamos de uma estratégia de controle integrado, com base na soma de várias ações", diz a bioquímica Margareth Capurro, da Universidade de São Paulo (USP), que trabalha no desenvolvimento de mosquitos geneticamente modificados.
Uma das tecnologias mais avançadas nesse campo é o Aedes aegypti transgênico da empresa britânica Oxitec, introduzido no país em parceria com a brasileira Moscamed. Os mosquitos são modificados com um gene que torna a prole inviável, causando uma redução gradativa da população, à medida que eles copulam com os mosquitos selvagens.
O produto foi aprovado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em 2014 e aguarda registro na Anvisa para poder ser comercializado. Em testes realizados na Bahia, as populações de Aedes aegypti foram reduzidas em até 95%. Um novo experimento está sendo feito desde abril em um bairro de Piracicaba, no interior paulista, com a soltura de 800 mil mosquitos transgênicos por semana. Resultados preliminares indicam uma redução de 50% da população local do inseto, segundo o diretor da Oxitec no Brasil, Glen Slade.
Uma das dificuldades, diz ele, é que as áreas tratadas são constantemente repovoadas por mosquitos selvagens do entorno, exigindo a liberação de mais transgênicos e reduzindo os benefícios locais da técnica.
Bactérias
Já a Fiocruz está testando no Rio uma tecnologia desenvolvida originalmente na Austrália, que usa uma bactéria chamada Wolbachia para tornar o Aedes resistente à infecção pelo vírus da dengue. Nos mosquitos que têm a bactéria, o vírus não consegue se desenvolver, de modo que a doença não é transmitida de uma pessoa picada para outra.
"Você não vai acabar com a população de mosquitos, mas vai substituí-la por outra, menos suscetível à transmissão de doenças", explica Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz de Minas, que coordena o projeto no Brasil. Estudos recentes indicam que, além da dengue, os mosquitos com Wolbachia são também resistentes aos vírus zika e chikungunya.
A estratégia consiste em liberar machos e fêmeas de Aedes aegypti com Wolbachia no ambiente, para que eles copulem com os mosquitos selvagens e espalhem a bactéria pela população. Moreira ressalta que a Wolbachia é uma bactéria inofensiva para seres humanos e outros animais, presente naturalmente em muitos mosquitos, e não é transmitida na picada.
Testes preliminares estão sendo feitos em dois bairros: Tubiacanga, no Rio, e em Jurujuba, em Niterói, com apoio das comunidades e aprovação da Anvisa e órgãos ambientais. Os resultados preliminares indicam que mais da metade da população de mosquitos nessas duas localidades já está infectada com a bactéria. Ainda não está sendo avaliado, porém, qual é impacto disso na transmissão de doenças.
"São estratégias interessantes, mas não vejo isso sendo aplicável a uma cidade do tamanho de São Paulo ou do Rio", avalia o infectologista Artur Timerman, referindo-se aos Aedes transgênicos e com Wolbachia.
Manutenção
Enquanto essas e outras estratégias não são aprimoradas, é essencial manter os esforços convencionais de eliminação de criadouros - única maneira testada e confirmada de reduzir a população de mosquitos, segundo o especialista Gonzalo Vecina, da Faculdade de Saúde Pública da USP e do Hospital Sírio-Libanês. "O que podemos fazer parece pouco, mas não é inócuo. Se não fizéssemos, a situação seria muito pior, com certeza."