Marcos Aguiar, professor de pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador do Serviço de Genética do Hospital das Clínicas, enfatiza que a pergunta a ser feita é: “Até que ponto a obsessão pela saúde perfeita leva à saúde perfeita?”. Com autoridade, ele garante que a melhor coisa é procurar ser feliz. “Isso é extremamente importante, porque a busca incessante da saúde, em vez de trazer saúde perfeita, vem trazendo doenças. A primeira é a emocional, uma postura obsessiva na busca de saber tudo o que vai acontecer, como se fosse capaz de controlar a vida. O homem precisa aprender a viver a vida como ela é.
O médico diz que está estabelecido na literatura que há doenças overdiagnosed, ou seja, diagnosticadas em excesso. Para Marcos Aguiar, tal atitude “favorece uma medicalização da vida. E isso é complexo até porque o diagnóstico da maioria das doenças deve ser clínico, ou seja, ter sintoma, apontar um problema a resolver e a pessoa, aí sim, procura um médico”.
Para o pediatra geneticista, exame sem necessidade “descobre coisas não necessariamente com significado clínico”. Marcos Aguiar deixa bem claro que “não é que eu seja contra a saúde preventiva, desde que seja para pesquisar coisas muito bem estabelecidas”. Quanto à busca da saúde nas diversas fases da vida, Marcos Aguiar indica procurar o médico especialista. “No caso do pré-natal, o obstetra vai solicitar os exames adequados. Já na infância e adolescência é preciso ter um pediatra e vacinar. Na adolescência e adulto, ter acompanhamento de um clínico e reforçar a vacinação. No caso das meninas, tomar a vacina do HPV. E o idoso ir ao geriatra. São esses profissionais que avaliam a necessidade de fazer exames.”
Marcos Aguiar destaca que o excesso de exames para buscar a saúde perfeita está equivocado. “Estamos vivendo na medicina do protocolo, onde a relação médico-paciente desapareceu.
OCTOGENÁRIO
Para o geriatra Flávio Chaimowicz, professor-associado do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, com pós-doutorado em educação médica no Institute of Medical Education Research da Erasmus University de Rotterdam, na Holanda, a pergunta a ser feita não é “como ser um adulto com saúde”, mas “como se cuidar durante a vida adulta para se tornar um octogenário saudável”. Hoje, apenas 1% da população brasileira tem 80 anos ou mais, mas esse número deverá quintuplicar até 2050. Para ele, é preciso ter em mente quais são os problemas pelos quais as pessoas adoecem e morrem no Brasil. “E, a partir daí, utilizar métodos comprovados para tratar, detectar precocemente ou mesmo prevenir essas doenças.”
Como exemplos, Flávio explica que o câncer de intestino é uma importante causa de morte no Brasil, mas se descoberto precocemente pode ser removido sem a necessidade de cirurgia ou quimioterapia. A osteoporose, grande vilã das fraturas do quadril em idosos, pode ser revertida pela utilização de medicamentos, detectada precocemente por meio de exames simples e mesmo prevenida durante a vida adulta. Com relação às doenças neuropsiquiátricas comuns em idosos, como Alzheimer e demência vascular, atualmente sabe-se que são altamente suscetíveis à prevenção; o diagnóstico precoce, do mesmo modo, possibilita intervenções que trazem grande repercussão na qualidade de vida dos pacientes e de suas famílias.
Flávio ressalta a importância da consulta periódica de adultos para a manutenção da saúde. Exames complementares também são fundamentais, e a medicina tem se beneficiado com avanços tecnológicos que aumentaram sua acurácia e reduziram suas limitações. Flávio explica que exames de imagem não invasivos conseguem detectar calcificações das coronárias e ajudam a estimar o risco cardiovascular; a colonoscopia virtual pode ser realizada em idosos debilitados que não tolerariam o exame tradicional; a densitometria óssea do antebraço é capaz de diagnosticar osteoporose mesmo em pacientes com osteoartrose, que prejudica a interpretação dos exames tradicionais da coluna lombar e fêmur. Mas o geriatra lembra que apenas uma pequena parcela dos brasileiros consegue realizar com a regularidade necessária exames básicos como a mamografia, Papanicolaou, colonoscopia e densitometria óssea. “É preciso democratizar o acesso aos exames de prevenção e detecção precoce de doenças.”
Flávio Chaimowicz alerta para o perigo dos excessos: “A maioria dos brasileiros vem adotando um estilo de vida sedentário, com dieta hipercalórica, pouca atividade física e ganho de peso.
ENTREVISTA:
Saúde em primeiro lugar
O vereador Bim da Ambulância (PSDB) destaca projetos em andamento na Casa que visam o bem-estar do idoso e o incentivo à qualidade de vida. Para ele, a saúde é, sem dúvida, um dos temas mais importantes, e que exige amplo e profundo debate.
Quais os projetos da Câmara na área de saúde?
É importante destacar que a saúde é um direito constitucional e que a Câmara Municipal, sobretudo por meio da Comissão de Saúde e Saneamento, tem realizado visitas técnicas, debates e audiências públicas, buscando sempre trabalhar em conjunto com o munícipe. Como resultado, há projetos que visam regulamentar garantias previstas no Estatuto do Idoso, como prioridade no atendimento e na realização de exames (PL 1.312/14), atenção médica por especialistas, local adequado para assepsia de ambulâncias (PL 1.194/14), obrigatoriedade e permanência de veículos de urgência em eventos, de acordo com o número de pessoas, ampliação do transporte gratuito para o munícipe que necessita de tratamento de saúde contínuo (PL 621/13) e melhorias no combate a endemias.
E no caso de prevenção e incentivo à qualidade de vida da população?
Poderíamos destacar discussões recentes sobre prevenção de acidentes em piscina, já que Belo Horizonte é marcado por grande número de clubes recreativos (PL 978/14). Outro destaque é a exigência de exame por cardiologista para a prática de atividade esportiva em academias (PL 1.502/15). Um ponto relevante são as campanhas educativas que temos trabalhado em diversos projetos, sobretudo com o objetivo de chamar a sociedade para a realização do autoexame e de exames de rotina, objetivando a prevenção e a conscientização, com destaque para a prevenção dos cânceres de próstata e mama, além de discussões sobre o combate às drogas.
O que deve ser feito para que a população melhore sua saúde?
A conscientização é a melhor saída. O uso de alimentos frescos e naturais, a realização de atividades físicas – hoje possível no município com a implantação das academias públicas em praças e programas de incentivo – consultas periódicas ao médico de confiança, combate ao tabagismo etc. Em suma, devemos incentivar a prática diária de hábitos saudáveis.
Como é sua atuação nessa área?
Minha busca é por um sistema de saúde efetivo, que proporcione a universalização do atendimento, ou seja, a garantia de que todos terão acesso a tratamentos e medicamentos. Precisamos investir nas Unidades de Atendimento regionais, pois são elas que fazem, na maioria das vezes, o primeiro atendimento da população. Tenho trabalhado diariamente com o Executivo e suas secretarias, buscando melhorias. Na urgência e emergência tenho debatido constantemente com o Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Minas Gerais e o SAMU os pontos de melhoria, para que as vítimas de acidentes possam ser socorridas com agilidade, pois os segundos são essenciais nesse atendimento..