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Professor do Centro Desportivo da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Albená Nunes da Silva ressalta que a preocupação com o sedentarismo não está restrita ao Brasil. Nos Estados Unidos, 14% da população pratica atividade física regularmente, na Europa a taxa é de 10%. A população mundial está cada vez mais sedentária de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). “As pessoas pararam de realizar atividade física informal, como caminhar até o trabalho ou até à escola. As pessoas se movimentam muito pouco com a facilidade proporcionada pela tecnologia”, diz.
Mudar esse cenário não é das tarefas mais simples, mas a discussão sobre o incentivo à prática de esporte e atividade física - desde a infância até a terceira idade - é uma questão de saúde pública. “Várias entidades mundiais começaram uma campanha para tentar fazer com que as crianças se movimentem mais. A próxima geração será a primeira a viver menos que a geração anterior”, alerta Albená. O educador físico cita, por exemplo, a ‘Designe To Move’ (em tradução livre, Desenhando o Movimento) que se propõe a acabar com o sedentarismo na infância.
No Brasil, a Comissão de Assuntos Sociais do Senado aprovou, em outubro deste ano, o projeto de lei nº 112/2012 do ex-senador Eduardo Lopes (PRB-RJ) que amplia o rol de despesas que podem ser deduzidas do Imposto de Renda. Pela proposta, gastos com nutricionista, profissional de educação física e clínicas ou academias de atividades físicas podem ser listados na declaração de pessoas físicas. Relator do projeto, o senador Romário (PSB-RJ) retirou do texto a obrigatoriedade de uma recomendação médica para que o gasto com professor de educação física ou academia possa ser deduzido. A matéria está na Comissão de Assuntos Econômicos aguardando parecer do relator antes de seguir para votação no Senado.
Para a diretora técnica da Companhia Athletica, Mônica Marques esse é um projeto importante porque coloca os educadores físicos e nutricionistas como atores na prevenção de doenças. “A melhor maneira de se evitar doenças crônicas é incentivar a prática de atividade física”, acredita.
Professor do Departamento de Educação Física da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), Hugo Cesar Martins Costa afirma que o sedentarismo tem sido monitorado no Brasil nos últimos anos em razão do reconhecimento que a inatividade física é um problema de saúde pública. “Definir exatamente quais são os determinantes da inatividade física não é uma tarefa simples, muito menos intervir para minimizar a situação. Esse tem sido um desafio não apenas no Brasil, mas na maioria dos países. É importante termos a consciência de que nem todas as pessoas procurarão academias de ginástica, mesmo que esses espaços disponibilizem uma grande variedade de atividades para os praticantes. Um dos motivos é simples: envolve um investimento financeiro”, afirma.
Segundo ele, vários estudos já demonstraram que a realização de atividade física no tempo livre está inversamente relacionada ao poder econômico da pessoa. “Não é apenas uma questão de conscientizar as pessoas sobre a importância da atividade física. Destaco que algumas ações têm sido realizadas para minimizar esse problema no Brasil. Um exemplo é o programa denominado 'Academias da Cidade' que surgiu na década passada tanto em Belo Horizonte quanto em outras capitais brasileiras e agora se espalhou para o restante do país através das 'Academias da Saúde'. Um dos propósitos desse programa é permitir o acesso à atividade física orientada - como por exemplo, caminhada e ginástica coletiva - para a população, especialmente para quem não tem condições de acesso a espaços privados”, cita.
Hugo Cesar Martins Costa diz que uma série de estudos tem sido realizado sobre o impacto desses programas na redução do sedentarismo no país e dados preliminares já demonstram resultados positivos. Belo Horizonte tem cerca de 60 'Academias da Cidade' e 346 'Academias à Céu Aberto'.
Para Mônica Marques, o grande passo para a mudança nas altas taxas de sedentarismo mundo afora é o olhar cuidadoso para as crianças. “É na esquina de casa que está o potencial de combate à inatividade física. Mudar hábitos é um grande desafio. Por isso, é importante ressaltar que o hábito da prática de esportes e exercícios físico é formado até os 10 anos. Assim, o papel da escola é fundamental nesse contexto de prevenção ao sedentarismo. As crianças têm que formar bons hábitos e gosto por se exercitar, mas o que acontece na prática – apesar de existirem boas propostas em algumas escolas – é a disciplina de educação física oferecer um esporte por ano. Se a criança não se identifica, ela não vai adotar a prática porque não vai enxergá-la como algo prazeroso e, assim, pode crescer um adulto sedentário”, reflete.
A diretora técnica da Companhia Athletica acredita que um caminho é as escolas oferecerem mais opções nas aulas de educação física. “Não se pode focar apenas no esporte competitivo, mas incluir danças, lutas e outras vivências corporais que não exigem necessariamente bola e competição”, acredita.
Fisicamente ativo
Nas últimas décadas, uma questão fortemente discutida é o estabelecimento de recomendações básicas para a prática de atividade física. O Colégio Americano de Medicina do Esporte recomenda que cada pessoa inclua em sua rotina exercícios aeróbicos (corrida), exercícios para melhorar a força muscular (musculação) e exercícios para a flexibilidade (yoga). Com essa fórmula, o aluno ou a aluna estará colhendo inúmeros benefícios para a saúde.
Pirâmide da atividade física
O que já é consenso e considerado ideal, inclusive pela OMS, é que cada pessoa tente realizar pelo menos 150 minutos semanais de atividade física de predominância aeróbica em intensidade moderada. Nessa perspectiva, a caminhada se encaixa. “Caso a pessoa tenha condições de fazer atividades aeróbicas mais vigorosas, como a corrida, poderia realizar apenas 75 minutos por semana. Obviamente, espera-se que esse tempo de atividade não ocorra apenas em um dia, mas sim de forma equilibrada ao longo da semana”, explica Hugo Cesar Martins Costa.
Segundo o especialista, atividades de fortalecimento muscular, alongamentos e exercícios para o desenvolvimento da coordenação e do equilíbrio complementariam as atividades aeróbicas, com uma frequência mínima de 2 a 3 vezes por semana. “É importante mencionar que, adequar-se exatamente a todas essas diretrizes não é tarefa fácil para quem não tem o hábito de realizar atividades físicas. Portanto, praticar alguma atividade, mesmo que em menor quantidade que a prevista nessas recomendações, já é muito melhor que não praticar nenhuma”, afirma.
Para ter qualidade de vida e saúde, a regra é simples: praticar atividades físicas com segurança, regularidade e fazer disto um hábito.
Idosos e crianças
Assim como crianças, jovens e adultos, os idosos também precisam realizar atividades para diferentes capacidades físicas, ou seja, cardiorrespiratória, força muscular, equilíbrio, flexibilidade. “Com o processo de envelhecimento, pessoas idosas têm perdas importantes nestas valências físicas, reforçando ainda mais a necessidade de realizar exercícios físicos. Um exemplo importante é o equilíbrio. Com a redução do equilíbrio, os idosos tendem a sofrer quedas com maior frequência, o que se torna uma preocupação adicional para esse grupo de pessoas”, reforça Hugo Cesar Martins Costa.
No caso de crianças e adolescentes, segundo o especialista, estudos epidemiológicos mostram uma grande prevalência de atividade física insuficiente para essa parte da população. “É importante destacar que os tipos de atividades devem ser diferentes, principalmente para as crianças. A apropriação de atividade física por meio de jogos, brincadeiras e esportes acaba fazendo mais sentido para esse grupo, se levarmos em consideração as suas características e motivações. A OMS sugere que crianças se envolvam pelo menos com 300 minutos por semana de atividade física”, afirma.
Mônica Marques reforça a necessidade de observar cuidadosamente a personalidade e o interesse da criança para que a escolha da atividade física seja assertiva. “O que observamos, por exemplo, é que a criança que usa óculos tem naturalmente receio da bola. Crianças com excesso de peso têm dificuldade com esportes competitivos com bola. Talvez gostem de natação ou judô. As pequenas têm bom desempenho em ginástica de solo. As mais altas, em basquete e vôlei. É muito importante que os pais incentivem as crianças a experimentar várias opções. Encontrar uma atividade prazerosa é investir num adulto não sedentário”, diz.