Vivemos a geração do imediato. No século atual, todas as escolhas são pautadas pelo imediatismo. Na correria do dia a dia, é necessário tomar decisões rápidas e, muitas vezes, as pessoas agem por impulso, sem pensar nas consequências de suas atitudes. Como resultado, as relações – e até mesmo a saúde – são impactadas, especialmente quando essa relação é entre pais e filhos.
Para especialistas, o imediatismo pode não ser consciente. É fruto de fatores culturais e comportamentais que se perpetuam e se desenvolvem de várias formas ao longo da vida. Mas, segundo a pediatra e psiquiatra Ana Maria Costa da Silva Lopes, presidente do Comitê de Saúde Mental da Sociedade Mineira de Pediatria, quando se trata dos aspectos da infância e seu processo de desenvolvimento, não há nada que tenha ligação com o imediato.
“Na realidade, o que ocorre é que o mundo é muito fastfood, imediatista demais. A criança está imersa nesse mundo e vai se desenvolver a partir dele, mas o processo orgânico de desenvolvimento não é imediatista. Ele passa pelo afetivo e social. Um exemplo é quando os pais querem que a criança entre no processo de alfabetização de forma imediata, como se esse processo ocorresse num passe de mágica e acompanhasse o crescimento. E não é assim. O aprendizado passa pelo desenvolvimento cognitivo. Ela precisa amadurecer primeiro.”
Para a médica, na batalha imediatismo x aprendizagem, só a criança sai perdendo. “A alfabetização continua exigindo o que exigia há 50 anos dos pais, que é sentar, estar presente para ler para a criança... Esse tempo de dedicação é fundamental para todos os processos de desenvolvimento e até para a formação de caráter”, acrescenta.
A psiquiatra afirma que, se os pais não compreenderem que o processo de aprendizagem exige dedicação e participação, pode resultar em resultados clínicos nada desejáveis. “Por causa da falta de tempo, os pais não introduzem a dedicação à atividade escolar, não acompanham e, ao mesmo tempo, exigem resultados. À medida que a escola vai tendo nível de exigência maior, a criança, ainda imatura e insegura, vai precisar de medicação para ter um nível de atenção maior. Se ela tivesse adquirido um hábito de estudo, que é uma das funções dos pais, isso poderia não ocorrer.” O imediatismo também pode desencadear alterações hormonais relacionadas ao estresse e, a longo prazo, distúrbios de ansiedade.
TERCEIRIZAR A INFÂNCIA
A educadora Tatiana Camargos Lamego, fundadora do Bem Família (tutoria em desenvolvimento infantil), lida diariamente com essa ansiedade dos pais. Ela conta que, por não ter muito tempo, pais e mães terceirizam a infância dos filhos. “Os pais têm trabalhado cada vez mais, por diversas necessidades, e, consequentemente, têm de pôr alguém para tomar conta dos filhos e querem que os terceiros resolvam tudo. Querem que a escola ensine, que crie uma rotina alimentar, que a criança se torne autônoma... Mas em educação não se pode acreditar nesse imediatismo.”
Segundo Tatiana, não é possível obter sucesso sem a participação dos pais em nenhuma esfera da vida da criança. “Para que um menino faça o dever de casa sozinho, por exemplo, é preciso ter muitos dias de dedicação dos pais, treinar horários que sejam compatíveis, organizar o ambiente físico. Em muitos casos, a criança tem a manhã toda tomada, cheia de atividades. Ela não tem uma rotina de criança e os pais ainda querem que ela seja tranquila e feliz”, acrescenta.
Na opinião da especialista, o imediatismo é resultado da falta de noções da infância e traz consequências graves. “Essa questão da autonomia é construída durante a infância inteira. Tem gente que acha que pôr a criança no psicólogo vai resolver todos os problemas. Acredito muito no papel dos pais. Claro que há casos que são clínicos, não podemos generalizar. Mas o afeto e a dedicação são fundamentais para evitar muitos problemas. O imediatismo vem acompanhado de muitas condutas negativas, como intolerância, pressa, falta de referências claras dos processos e até mesmo, em alguns casos, egocentrismo e fortíssima autoestima em baixa.”
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“Na realidade, o que ocorre é que o mundo é muito fastfood, imediatista demais. A criança está imersa nesse mundo e vai se desenvolver a partir dele, mas o processo orgânico de desenvolvimento não é imediatista. Ele passa pelo afetivo e social. Um exemplo é quando os pais querem que a criança entre no processo de alfabetização de forma imediata, como se esse processo ocorresse num passe de mágica e acompanhasse o crescimento. E não é assim. O aprendizado passa pelo desenvolvimento cognitivo. Ela precisa amadurecer primeiro.”
Para a médica, na batalha imediatismo x aprendizagem, só a criança sai perdendo. “A alfabetização continua exigindo o que exigia há 50 anos dos pais, que é sentar, estar presente para ler para a criança... Esse tempo de dedicação é fundamental para todos os processos de desenvolvimento e até para a formação de caráter”, acrescenta.
A psiquiatra afirma que, se os pais não compreenderem que o processo de aprendizagem exige dedicação e participação, pode resultar em resultados clínicos nada desejáveis. “Por causa da falta de tempo, os pais não introduzem a dedicação à atividade escolar, não acompanham e, ao mesmo tempo, exigem resultados. À medida que a escola vai tendo nível de exigência maior, a criança, ainda imatura e insegura, vai precisar de medicação para ter um nível de atenção maior. Se ela tivesse adquirido um hábito de estudo, que é uma das funções dos pais, isso poderia não ocorrer.” O imediatismo também pode desencadear alterações hormonais relacionadas ao estresse e, a longo prazo, distúrbios de ansiedade.
TERCEIRIZAR A INFÂNCIA
A educadora Tatiana Camargos Lamego, fundadora do Bem Família (tutoria em desenvolvimento infantil), lida diariamente com essa ansiedade dos pais. Ela conta que, por não ter muito tempo, pais e mães terceirizam a infância dos filhos. “Os pais têm trabalhado cada vez mais, por diversas necessidades, e, consequentemente, têm de pôr alguém para tomar conta dos filhos e querem que os terceiros resolvam tudo. Querem que a escola ensine, que crie uma rotina alimentar, que a criança se torne autônoma... Mas em educação não se pode acreditar nesse imediatismo.”
Segundo Tatiana, não é possível obter sucesso sem a participação dos pais em nenhuma esfera da vida da criança. “Para que um menino faça o dever de casa sozinho, por exemplo, é preciso ter muitos dias de dedicação dos pais, treinar horários que sejam compatíveis, organizar o ambiente físico. Em muitos casos, a criança tem a manhã toda tomada, cheia de atividades. Ela não tem uma rotina de criança e os pais ainda querem que ela seja tranquila e feliz”, acrescenta.
Na opinião da especialista, o imediatismo é resultado da falta de noções da infância e traz consequências graves. “Essa questão da autonomia é construída durante a infância inteira. Tem gente que acha que pôr a criança no psicólogo vai resolver todos os problemas. Acredito muito no papel dos pais. Claro que há casos que são clínicos, não podemos generalizar. Mas o afeto e a dedicação são fundamentais para evitar muitos problemas. O imediatismo vem acompanhado de muitas condutas negativas, como intolerância, pressa, falta de referências claras dos processos e até mesmo, em alguns casos, egocentrismo e fortíssima autoestima em baixa.”