saiba mais
Esse delicado papel na cadeia de transmissão foi detalhado por cientistas do Instituto Pasteur do Camboja, do Instituto Pasteur de Paris e do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS) na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas). Até então, acreditava-se que os pacientes assintomáticos não podiam contaminar o Aedes aegypti. “Essa descoberta levanta a possibilidade de que as pessoas que apresentam poucos ou nenhum sintoma, ou seja, a maioria das infecções, ajudam a perpetuar a transmissão do vírus em silêncio”, disse Louis Lambrechts, pesquisador do CNRS e líder do grupo de Interações Vírus-Insetos no Instituto Pasteur, em Paris.
Para chegarem a essa conclusão, os cientistas conduziram um estudo com as populações expostas à dengue em Kompong Cham, no Camboja. Os voluntários assintomáticos foram colocados em contato com os mosquitos saudáveis, criados em laboratório. Depois, a análise dos mosquitos indicou que os insetos estavam infectados e, portanto, eram capazes de transmitir o vírus a outros seres humanos. “O desafio do protocolo era conseguir alcançar esses casos que não são identificados pelos sistemas de saúde tradicionais, já que quase não têm sinais de doença”, explicou, em comunicado, o Instituto Pasteur e o CNRS.
O texto também ressaltou que os riscos de os pacientes assintomáticos impulsionarem a contaminação podem ser ainda maiores. “As pessoas que são pouco ou nada infectadas pelo vírus vão potencialmente estar expostas a mais mosquitos ao longo da rotina diária do que aquelas gravemente doentes, acamadas ou hospitalizadas”, justifica. A estimativa da OMS é de que, a cada ano, 500 mil pessoas sejam acometidas pela versão grave da dengue — a maioria crianças. Desses pacientes, que necessitam de internação, cerca de 2,5% morrem em decorrência das complicações da doença.