"Não podemos ser categóricos. Mas a presença do vírus não é apenas uma coincidência", disse o diretor do Departamento de Doenças do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch. "Estamos sendo extremamente cautelosos nessa relação, porque a situação é nova no mundo. Até agora, não havia nenhum relato entre o vírus zika com malformação congênita. Por isso falamos de uma relação provável", disse o diretor.
A Organização Mundial da Saúde foi comunicada sobre os resultados dos exames divulgados hoje. Ao fazer o anúncio, o diretor convidou cientistas de todo o Brasil e do mundo a ajudar na comprovação da causa e efeito - uma eventual relação entre a infecção por zika e o aumento de casos.
Conforme adiantou o jornal, o material foi coletado pela médica especialista em medicina fetal Adriana Melo.
Até agora, foram registrados no País 399 bebês que nasceram com a malformação, que se caracteriza pela circunferência cefálica inferior a 33 centímetros. De acordo com o grau da doença, a criança pode apresentar deficiência mental, problemas de visão, auditivos, convulsões e dificuldades de locomoção. Os casos foram registrados em Pernambuco (268), Sergipe (44), Rio Grande do Norte (39), Paraíba (21), Piauí (10), Ceará (9) e Bahia (8). A maior parte dos casos foi identificada nos últimos três meses. O número é significativamente maior do que o registrado semana passada, quando o Ministério da Saúde declarou emergência em saúde pública em caráter nacional. Na quarta-feira, quando o anúncio foi feito, haviam sido contabilizados 141 casos de microcefalia.
Diante do avanço, o ministério tornou compulsória a notificação de casos da malformação em todo território nacional. O protocolo para identificação de bebês com o problema, desenvolvido em Pernambuco, deverá ser usado em todo o País. Não está definido ainda se governo vai preparar um protocolo para atendimento de bebês, que necessitam de atendimento especial para toda vida.
Maierovitch afirmou que a situação é extremamente preocupante. "Embora ainda não haja confirmação, os resultados demonstram a necessidade de se reforçar ainda mais as medidas de combate ao mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti, o mesmo vetor da dengue", disse. O diretor admitiu que a tarefa não é fácil. A própria história da dengue no Brasil demonstra os entraves.
Na próxima semana, uma reunião será feita com representantes das secretarias de Saúde para discutir estratégias para reforçar o combate ao mosquito, que transmite, além de dengue e zika, chikungunya.
O isolamento do vírus da Zika nos bebês com microcefalia usou três metodologias. O resultado será usado para nortear outros exames e, com isso, comprovar ou descartar a associação da malformação e a infecção. "Sabemos exatamente qual o tipo do vírus, o que facilita muito o trabalho", disse. Maierovitch descartou a realização de exames de líquido amniótico em outras gestantes que tenham suspeita da infecção ou de rotina. "Eticamente isso não é recomendado. O teste traz riscos, é indicado em situações determinadas", completou. A ideia de autoridades sanitárias é, com o conhecimento do tipo de vírus envolvido na infecção, tentar identificá-lo em outras pacientes, mas por meio da análise de outros materiais, como sangue do bebê e da mãe e até mesmo cordão umbilical.
Deixando claro ser necessária ainda investigações sobre eventual relação entre zika e a malformação, Maierovitch reforçou os cuidados que gestantes devem adotar em todo o País, sobretudo nos Estados onde a circulação do vírus já foi identificada.