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As aulas de biologia da escola fizeram com que a já reduzida vontade de comer carne desaparecesse por completo. Saber como funcionam os matadouros foi o estopim para a vida vegetariana, iniciada aos 17 anos. O desempenho físico foi o primeiro sinal de que algo estava errado. Ativa e fã de exercícios, Tatiana não conseguia correr e praticar musculação da mesma forma que antes. Ela, que chegou a ter apenas 14% de gordura no corpo todo, engordou 7kg após cortar a carne do cardápio. “Comecei a ter muita celulite, meu cansaço era enorme”, descreve. Sem saber muito bem como preparar as refeições, ela abusava do sal e ingeria muitos carboidratos.
Durante uma viagem ao Chile e à Bolívia, o sinal amarelo acendeu. A baixa altitude, a mochila pesada e a falta de vitaminas a fizeram desmaiar. “Tudo lá é feito com carne, então tinha muita dificuldade de encontrar o que comer”, relembra Tatiana. O nutricionista matou a charada: ela estava com deficiência de vitaminas. Hoje, até come peixe, mas confessa que precisa se desdobrar para mascarar o gosto. “Tive que aprender a cozinhar, porque ninguém da minha família é vegetariano.” Apesar das piadinhas — “Mas você só come mato?” — e da dificuldade em encontrar o que comer na rua, Tatiana não poderia estar mais feliz. “Minha digestão é mais rápida e estou sempre animada. Comer carne me incomoda.”
Assim como Tatiana, muitas pessoas optam por refeições constituídas apenas por vegetais. Os motivos são os mais diversos: paladar, ideologia e até genética. O nutrólogo Macos Sandoval explica que tirar a carne do prato não representa risco à saúde, desde que a dieta inclua todos os nutrientes que o corpo precisa para funcionar corretamente. A carne, especialmente a vermelha, é o maior repositor de zinco, vitamina B12 e ferro, que são elementos essenciais para a manutenção da saúde, para o metabolismo e para o fornecimento de energia. “Obter zinco, vitamina B12 e ferro apenas com vegetais é complicado, porque são de pouca biodisponibilidade”, detalha. Em outras palavras: legumes e verduras até têm as vitaminas necessárias, mas, como também têm muitas fibras, a absorção dos nutrientes é limitada.
Para as mulheres, a falta de carne — consequentemente, de ferro — é ainda mais perigosa. Durante o período menstrual, há maior perda do elemento. Como consequências, Macos Sandoval cita anemia, cansaço, fraqueza, falta de ânimo e dor nas pernas. O que fazer, então? Uma estratégia, segundo o médico, pode ser comer pelo menos três leguminosas diferentes por dia. “A soja, por exemplo, é quase a carne vegetal, mas não tem todos os aminoácidos necessários.” O mesmo vale para o feijão, a lentilha, o grão-de-bico e por aí vai: três tipos somados podem ser suficientes para suprir a quantidade de vitaminas necessárias. “Mas só um especialista vai poder esquematizar uma dieta com as quantidades adequadas”, reforça.
O nutricionista Clayton Camargos dá mais uma dica: uma opção para quem não come carne de jeito nenhum é abusar de outras fontes de proteína animal, como ovos, leite e derivados. Caso o alimento rejeitado seja apenas carne vermelha (mas a pessoa consome frango e peixe), não há o que se preocupar, já que a harmonia da oferta nutricional estará, teoricamente, garantida. “Uma dieta equilibrada em uma estrutura que consiga oferecer os requerimentos nutricionais essenciais para o organismo não depende exclusivamente do consumo desse alimento”, frisa. “No caso de restrição total do consumo de qualquer tipo de proteína animal, deve-se atentar para uma estrutura mais diversa na rotina alimentar, priorizando a oferta de proteínas vegetais que possam dar apoio às demandas do organismo.”
Do ponto de vista nutricional, parar de comer carne pode até ser uma boa ideia. “Sobretudo do ponto de vista científico, o que se tem registrado é que o consumo de proteína animal, especialmente bovina, precisa ser feito com parcimônia para evitar associação com doenças, como gota, hipertensão arterial ou até mesmo alguns tipos de cânceres”, completa Clayton Camargos. Como tudo na vida, a moderação é a regra de ouro. “Quadros de anemia em razão de carência micronutricional podem ser resolvidos com uma dieta equilibrada. Por isso, é fundamental buscar supervisão de um nutricionista para avaliar a história clínico-nutricional e promover um planejamento alimentar ajustado às necessidades de cada indivíduo.”
Aversão genética
Um estudo de 2002 feito pela Universidade Norueguesa de Ciências da Vida apontou o gene OR7D4 como “culpado” pelo asco ao bife. Segundo o trabalho, publicado no periódico Plos One, pessoas com duas cópias do gene são mais sensíveis a um hormônio presente em porcos machos. O cheiro do hormônio, para os detentores do OR7D4 duplo, foi comparado ao odor de suor ou de urina.