Durante uma viagem ao Chile e à Bolívia, o sinal amarelo acendeu. A baixa altitude, a mochila pesada e a falta de vitaminas a fizeram desmaiar. “Tudo lá é feito com carne, então tinha muita dificuldade de encontrar o que comer”, relembra Tatiana. O nutricionista matou a charada: ela estava com deficiência de vitaminas. Hoje, até come peixe, mas confessa que precisa se desdobrar para mascarar o gosto. “Tive que aprender a cozinhar, porque ninguém da minha família é vegetariano.” Apesar das piadinhas — “Mas você só come mato?” — e da dificuldade em encontrar o que comer na rua, Tatiana não poderia estar mais feliz. “Minha digestão é mais rápida e estou sempre animada. Comer carne me incomoda.”
Assim como Tatiana, muitas pessoas optam por refeições constituídas apenas por vegetais. Os motivos são os mais diversos: paladar, ideologia e até genética. O nutrólogo Macos Sandoval explica que tirar a carne do prato não representa risco à saúde, desde que a dieta inclua todos os nutrientes que o corpo precisa para funcionar corretamente.
Para as mulheres, a falta de carne — consequentemente, de ferro — é ainda mais perigosa. Durante o período menstrual, há maior perda do elemento. Como consequências, Macos Sandoval cita anemia, cansaço, fraqueza, falta de ânimo e dor nas pernas. O que fazer, então? Uma estratégia, segundo o médico, pode ser comer pelo menos três leguminosas diferentes por dia. “A soja, por exemplo, é quase a carne vegetal, mas não tem todos os aminoácidos necessários.” O mesmo vale para o feijão, a lentilha, o grão-de-bico e por aí vai: três tipos somados podem ser suficientes para suprir a quantidade de vitaminas necessárias. “Mas só um especialista vai poder esquematizar uma dieta com as quantidades adequadas”, reforça.
O nutricionista Clayton Camargos dá mais uma dica: uma opção para quem não come carne de jeito nenhum é abusar de outras fontes de proteína animal, como ovos, leite e derivados. Caso o alimento rejeitado seja apenas carne vermelha (mas a pessoa consome frango e peixe), não há o que se preocupar, já que a harmonia da oferta nutricional estará, teoricamente, garantida. “Uma dieta equilibrada em uma estrutura que consiga oferecer os requerimentos nutricionais essenciais para o organismo não depende exclusivamente do consumo desse alimento”, frisa.
Do ponto de vista nutricional, parar de comer carne pode até ser uma boa ideia. “Sobretudo do ponto de vista científico, o que se tem registrado é que o consumo de proteína animal, especialmente bovina, precisa ser feito com parcimônia para evitar associação com doenças, como gota, hipertensão arterial ou até mesmo alguns tipos de cânceres”, completa Clayton Camargos. Como tudo na vida, a moderação é a regra de ouro. “Quadros de anemia em razão de carência micronutricional podem ser resolvidos com uma dieta equilibrada. Por isso, é fundamental buscar supervisão de um nutricionista para avaliar a história clínico-nutricional e promover um planejamento alimentar ajustado às necessidades de cada indivíduo.”
Aversão genética
Um estudo de 2002 feito pela Universidade Norueguesa de Ciências da Vida apontou o gene OR7D4 como “culpado” pelo asco ao bife. Segundo o trabalho, publicado no periódico Plos One, pessoas com duas cópias do gene são mais sensíveis a um hormônio presente em porcos machos. O cheiro do hormônio, para os detentores do OR7D4 duplo, foi comparado ao odor de suor ou de urina..