O nome da fruta faz referência ao antigo território português no país que é hoje conhecido como Sri Lanka. A planta foi introduzida na Florida como uma espécie híbrida. Acabou sendo trazida ao Brasil e encontrando o clima ideal no interior da Região Sudeste.
Vivian Caetano Bochi foi a primeira pesquisadora a investigar essa fruta exótica e descrever os seus nutrientes. A cientista de alimentos conta que se dedicou ao trabalho após a abordagem de uma produtora que mantém uma plantação em Pinhalzinho (SC) e estava interessada em saber mais sobre a planta e seus benefícios à saúde. O alimento foi tema da dissertação de doutorado de Bochi na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e publicado recentemente no Journal of Food Science.
As análises mostraram que a groselha do Ceilão é rica em nutrientes antioxidantes. “Esses fitoquímicos são compostos provenientes do metabolismo da planta. Entre os de relevância, estão os compostos fenólicos, que se dividem entre os pigmentos, as antocianinas, de coloração vermelha e roxa; e os incolores, que são os ácidos fenólicos e flavonoides, os compostos famosos em chás”, aponta Bochi. “Em comparação à cranberry, a groselha do Ceilão é muito mais saborosa e tem um teor de fitoquímicos praticamente igual”, compara a pesquisadora.
Os testes revelaram ainda que as antocianinas presentes na fruta também conhecida como ceylon gooseberry ou ketembilla têm propriedades anti-inflamatórias. Para atestar esse efeito, as pesquisadoras deram um extrato da fruta a camundongos durante cinco dias e, depois, mediram os efeitos no organismo dos roedores. Os bichos que consumiram a groselha sofreram um menor estímulo das células de defesa do corpo, indicando que os compostos reduziram processos inflamatórios. Embora esses sejam resultados preliminares e não possam ser traduzidos para humanos, o experimento sugere que a fruta possa ajudar a prevenir o processo inflamatório relacionado ao desenvolvimento do diabetes, da obesidade e do colesterol alto.
Dieta preventiva
Os resultados do estudo colocam a groselha do Ceilão entre a elite nutricional das frutas vermelhas, conhecidas pela ação antioxidante dos compostos fenólicos que dão o pigmento marcante às suas cascas. A alta concentração de nutrientes e o sabor agradável garantem a esses alimentos um lugar de destaque nas dietas, mas profissionais ressaltam que os benefícios têm caráter preventivo. “Quando ocorrem reações no nosso organismo como a queima de gordura, são formados os radicais livres, que são maléficos para as células. Os flavonoides se ligam aos radicais livres e não deixam que eles danifiquem as células”, explica Vivian Suen, médica nutróloga e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).
Além das espécies importadas, como a cranberry, há no grupo vermelho espécies nacionais — a pitanga, a pitaia, a acerola e o açaí, por exemplo.
Melhor in natura
A groselha do Ceilão, acreditam os envolvidos no estudo divulgado no Journal of Food Science, precisa se tornar uma opção real de alimento para os brasileiros. “As frutas de clima tropicais não têm na sua biossíntese a antocianina, com exceção das uvas. As antocianinas precisam de um clima mais ameno, mas essa é uma fruta tropical que produz uma quantidade de antocianina muito grande”, explica Helena Teixeira Godoy, professora do Departamento de Ciências de Alimentos da Unicamp que orientou a pesquisa.
O sabor ácido da fruta, alerta a pesquisadora, pode não ser tão apreciado por paladares que aprovam frutas vermelhas como o morango ou a cereja. Na verdade, a groselha do Ceilão tem a tendência de ficar menos doce com o tempo passado da colheita, o que deixa a polpa congelada ainda mais ácida do que a fruta fresca. No entanto, ela pode ser utilizada na produção de sucos, geleias e licores. “O pessoal aqui até aproveitou e fez um a caipirinha com ela. Ficou muito boa”, conta Godoy.
Polpa
Uma das grandes vantagens da groselha do Ceilão está na polpa. Assim como a maioria das frutas vermelhas, essa espécie guarda o maior potencial nutricional na casca, mas o interior suculento não fica muito para trás.
Vivian Bochi acredita que o pigmento da bela cor roxa da casca poderia ser usado para aplicações industriais, como uma alternativa aos compostos artificiais hoje usados para dar cores a doces e molhos de tomate industrializados. .